Saturday, March 26, 2011

A hora do Planeta num dia de poluição

Uma organização não-governamental chamada WWF organizou uma campanha mundial para "conscientização ambiental" no dia de hoje. Fique tranquilo, pois não tomarão muito do seu tempo. O teatro se chama "A hora do planeta". Você apaga as luzes por uma hora e depois vai comer uma pizza feita no forno a lenha ( essa ironia não é do palpiteiro, mas do amigo Elias Jabbour).

A ideia é simpática. "Se cada um fizer a sua parte, todos ganhamos". "Depende de nós".


Lorota.

Balela.


O palpiteiro não defende a destruição do planeta e não julga errado economizar energia. Mas se posiciona contra qualquer uso da questão ecológica feita de modo infantil ou malandra.


Foi nos EUA que surgiu a ideia do "small is beautiful", ou "o pequeno é belo". É poético, mas pouco eficaz.


A malandragem é colocar a culpa pelos problemas ambientais nos indivíduos e esquecer os maiores responsáveis por eles.

Pense rápido: quem produz mais lixo, você em um mês ou uma lanchonete do Mc Donald's em um dia?


Um dos melhores negócios da atualidade é montar uma organização não-governamental, ong. Seja lá o que for isso, a propaganda é forte. São associações privadas mantidas por pessoas com um interesse comum, a defender causas coletivas. Quem pode ser contra uma iniciativa dessas?


Mas perguntar não ofende: e quando uma organização não governamental recebe algum tipo de ajuda de órgãos de governo, ela passa a ser o que?


Um professor do palpiteiro na faculdade de Geografia ironizava o termo ao dizer sempre "organizações NEO-governamentais"... O trocadilho era inteligente e já revelava a crítica sobre as ongs que recebiam recursos públicos para disfarçar ações de governos, empresas ou políticos. Esse professor entendia tão bem do assunto que acabou cedendo e montou sua própria ONG... Quase fez um negócio milhonário com um laboratório farmacêutico europeu. Receberia alguns dólares em troca de facilitar a ação do laboratório na biopirataria na Amazônia. Alguém descobriu e denunciou. E o negócio não saiu.


O professor do palpiteiro não merece nem a menção do nome e por isso não será dado o crédito por seu trocadilho.


Mas ficou o aprendizado. Quando você ver uma ONG em campanha, seja lá do que for, pergunte: quem paga essa organização?


O palpiteiro fez isso para o WWF e a "Hora do planeta". Qualquer um pode fazer isso. Basta entrar no endereço da WWF e clicar "Brazil". Na seção "quem somos" veja um quadro à sua esquerda. Há um link para "prestação de contas". Acesse a página 52 e... Bingo!! Você verá os parceiros da WWF no Brasil em 2009.

É muito interessante. A começar pelo termo "parceiro".


Seriam pessoas que dançaram quadrilha com a galera do WWF em alguma festa junina em 2009? Seriam músicos de apoio em alguma banda de punk-rock? Seriam alguns jogadores de futebol de várzea para peladas de fim-de-semana?

Pelo amor de Deus, o que eles querem dizer com "parceiros"?

Na falta de clareza qualquer um pode pensar qualquer coisa. Até recursos econômicos.

Dê uma olhadinha nos "parceiros" da WWF no Brasil.

Wall Mart: dispensável pensar no tipo de "parceria" em nome do planeta vindo de uma empresa que ganha muito dinheiro com o consumismo voraz...

Unidas: lindo! Um "parceiro" que vive de alugar automóveis. Perguntar não ofende: o que a Unidas pensa sobre substituir o transporte individual pelo coletivo? O que eles devem achar de usarmos mais metrô, trens e ônibus e menos automóveis? Unidas com WWF na "Hora do planeta"...


Itaú: esse é de peso. Bancos emprestam dinheiro para as pessoas comprarem de tudo e para as empresas tocarem seus negócios. Será que um gerente do Itaú pensa no planeta quando vai conceder algum financiamento? Será que ele se pergunta: "essa atividade vai impactar o ambiente?"...

Negócios no século XXI não prosperam sem marketing.


E poucas ações de marketing são tão fortes quanto falar em nome da natureza.


Pega bem falar da natureza. Bandeira fácil de lavantar, pois não haverá quem se oponha.


Empresas, partidos e políticos sabem disso.


E abusam da boa vontade alheia.

Abusam da ingenuidade ambiental.


A malandragem é simples: quando falar dos impactos da natureza, procure sempre um vilão fora da sua área de alcance. Nunca se coloque no problema. aponte sempre um culpado que não tenha relação com seu modo de vida.


Afinal de contas a "Hora é do Planeta", não da humanidade tal qual está organizada...



Link da WWF:







Monday, March 21, 2011

Malandros escondem a história. Cretinos aplaudem.

No dia 20 de março de 2011 o então presidente dos EUA, Barak Obama, discursou no Teatro Municipal do RJ.


O discurso foi genérico e seguiu a fórmula do país dele, com palavras firmes, princípios consistentes e momentos de descontração.


Os EUA não são amadores. Sabem como lidar com cada país que demonstram algum interesse. Para alguns acenam com recursos econômicos. Para outros, ações militares. E tem alguns ainda que se contentam apenas com afagos no ego. Explorar o Brasil tem sido muito mais fácil do que derrubar o Taleban no Afeganistão.


Há décadas que o Brasil se alinhou à política externa do Tio Sam. Podemos dizer que esse alinhamento talvez fosse mais, ou menos intenso. Mas ruptura nunca houve.


Walt Disney afagou o ego nacional com orientação do Departamento de Estado e até desenhou um papagaio imbecil chamado Zé Carioca. Não diz nada na história de negócios da corporação do Mickey Mouse. Mas pesa muito no discurso tosco dos neo-colonizados.

E nisso o Brasil surpreende. Se com Portugal fomos colônia por imposição da história, com os EUA somos subalternos por opção.


Obama foi o Mr. Simpatia. Lembrou de Paulo Coelho, da Jorge Benjor e até do futebol. Brasileiros afoitos se emocionaram. O representante do império lembrou-se da nossa existência, reconhecimento maior para quem pensa apenas até onde a mão alcança. No caso, o controle remoto...


Os afagos de Obama e a emoção dos brasileiros lembram muito a relação entre aquele funcionário puxa-saco que se orgulha de ter o chefe ou o patrão como padrinho de um dos filhos. Orgulham-se de chamarem o superior hierárquico de "compadre". Um ovo de Páscoa da Nestlé ou um panetone mais caro dão conta de perpetuar o compadrio.


Alguns escravos também se contentavam com afagos do senhor da Casa Grande. Um gesto menos violento, ou o simples fato do senhor chamá-lo pelo nome já eram suficientes para o contentamento do escravo.

Não deixa de ser irônico que a reprodução pós-moderna da relação entre o senhor da Casa Grande e o escravo esteja na caricatura entre o presidente negro dos EUA e a elite branca brasileira. Vale menos a cor da pele e mais os papéis desempenhados entre quem manda e quem obedece. Docilmente.


Obama foi ousado. Exaltou a democracia brasileira e fez uma média com Dilma Roussef, tratando-a como uma heroína. Lembrou-se das torturas a que foi submetida. E o teatro municipal do RJ se emocionou. Palmas para Obama.


Alguém mais chato poderia se lembrar da "Escola das Américas", nas quais se ensinava a militares da América Latina como identificar, prender, torturar e matar em nome do combate ao comunismo.

Para que lembrar de história no momento do circo? Obama foi o animador de uma platéia de zumbis. Ou ignorantes da própria história.


O presidente elogiou o desempenho de Dilma quando jovem no combate a uma ditadura que o país dele descaradamente incentivou e financiou. Obama fez o papel que dele se esperava: contou metade da verdade. O público fez o que ELE esperava: aplaudiu com emoção, sem um único grama de senso crítico ou de conhecimento histórico.


Mais do que a ignorância o que impressiona é a postura de milhões de brasileiros que mudam de opinião de acordo com a edição do jornal do dia.


Em 2010, ano de eleição, Dilma era inexperiente, autoritária, assaltante de banco e uma terrorista que não poderia entrar nos EUA pelo seu comunismo.

Em 2011, primeiro ano de governo da ex-guerrilheira, ela se torna melhor do que Lula, mais inteligente e com uma política externa que "recoloca o Brasil no caminho certo".


O Brasil, visto de longe e acompanhado pela imprensa alterna momentos de insanidade com situações de grande comicidade.


Ridículo. Sem história, sem caráter, sem memória. E Obama voltou para casa. Entrevista dada por escrito à veja, imagens de sua visita ao Cristo Redentor e palmas no Teatro Municipal. O ator foi embora do Teatro e do Brasil. O público, feliz por ser enganado, aplaudiu. E já sente até saudade.


Grande abraço a você Obama. Mas concorde comigo: agir assim por aqui é uma baba, não?


Sugestão do amigo Guilherme Azevedo:






E um áudio daquilo que Obama não disse. E quem ninguém quis perguntar.


A fonte é a própria Casa Branca.


Wednesday, March 16, 2011

Um palpite com energia nuclear, Saramago e Japão.

O palpiteiro tem entre alguns livros um muito especial, chamado "Previsão de Impactos". A edição guardada com cuidado é autografada pelo organizador, Aziz Nacib Ab´Saber.

Trata-se de uma coletânea com trabalhos acadêmicos sobre impactos sócioambientais que poderiam ser evitados e ou minimizados. Entre os diferentes estudos, há o da simulação de um acidente em Angra, no caso de um vazamento de radiação das 2 usinas nucleares. O trabalho é assinado por Luís Pinguelli Rosa, da UFRJ e, entre as mais variadas críticas seguem algumas (da década de 1990...): falta de coordenação na evacuação das pessoas; falta de entendimento das próprias pessoas da região sobre os riscos reais a que estão expostos; incompatibilidade na comunicação por rádio entre as forças armadas, dos hospitais, da PM e dos bombeiros. Tão ruim quanto o acidente em si, seriam os problemas decorrentes dos erros na retirada das pessoas e na mobilização daqueles que deveriam contornar o problema. Lendo o relatório fica a impressão de que anjos da guarda realmente existem e que se reunem em Angra...


O palpiteiro sempre admirou a capacidade de organização e o senso de cidadania dos japoneses. Eles possuem costumes e formas de organização comunitária que comovem qualquer um. Mas toda essa coesão nacional está colocada à prova agora. Até o momento não se tem notícias de saques, violência e pânico coletivo. Mas isso é até agora.

O povo japonês está ordeiro e confiante nas autoridades do país, que dizem a todo momento que as coisas estão sob controle.


Mas a realidade tem sido mais cruel. Quando se tem a notícia de que um reator da usina de Fukushima foi resfriado, eis que um outro explode. Chega a ser assustador ver as imagens das caixas de concreto que abrigam os equipamentos nucleares. São grandes caixas, cujas explosões vistas ou esperadas podem mudar a história do país e da própria maneira como lidamos com a energia nuclear.


O palpiteiro está sinceramente torcendo para que tudo dê certo por lá. São vidas humanas que correm riscos dos mais graves. Mas o medo é de que o caos se imponha a qualquer hora. Um aumento da radiação, uma explosão ou qualquer coisa que torne Tóquio uma megalópole de 28 milhões de seres humanos com medo.

Impossível não lembrar sobre o livro e o filme "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. Um vírus misterioso deixa todos cegos e as pessoas, privadas das coisas mínimas, revelam o que há de pior nos seres humanos. Falta de água, comida e energia tornam a vida inimaginável. E o pior, a falta de perspectivas de melhora. Na história, apenas uma mulher, a esposa do médico, enxerga. Contrariando o ditado que "em terra de cego quem tem um olho é rei", a mulher não usa sua vantagem física para se impor. Compreende que apenas a vida comunitária e respeitosa, baseada na tolerância das diferenças é que aponta para uma eventual salvação. Não há chance de sucesso individual. Ou todos se ajudam, ou todos se danam.


O mundo imaginado pelo finado Saramago é sombrio, mas acaba bem. Da selvageria e do egoísmo elevados às ultimas consequências surgem soluções impensáveis. O caos e as adversidades nos fazem sofrer, mas também podem nos ajudar a nos tornarmos seres humanos mais elevados e menos mesquinhos.

Que tudo corra bem no Japão. Que a história de Saramago continue a ser ficção. E que sejamos capazes de melhorarmos sem tragédias tão repentinas.

Saturday, March 12, 2011

O Japão de hoje e o fantasma nuclear. Mais uma vez.

Enquanto você estiver lendo esse palpite, estarão em funcionamento 442 usinas nucleares em todo o mundo, 2 no Brasil. Ao mesmo tempo outras 65 estarão em construção, 1 no Brasil.

E enquanto o palpiteiro esteve a escrever o que aqui segue, as autoridades japonesas tentavam buscar uma solução segura e eficaz para evitar um acidente nuclear de piores proporções na usina de Fukushima Daiichi. A usina foi afetada pelo terremoto que abalou sua estrutura e os japoneses foram obrigados a liberar parte da radiação do reator nuclear dela para aliviar a pressão e evitar o pior, uma explosão. Existem 2 usinas nucleares em Fukushima e o medo que todos que acompanham o caso com maior atenção é que se repita o que o mundo viu em Chernobil, na antiga URSS em 1986.

A favor do Japão em relação ao que ocorreu na antiga URSS tem a maior tecnologia, o aprendizado do que não se deve fazer e um preparo maior e com mais recursos para evitar acidentes, inclusive o essencial: dinheiro.

Contra, jogam a falta de informações precisas sobre o que realmente ocorreu, a falta de tempo para tomada de decisões mais serenas e a distância das usinas em relação a Tóquio, pouco mais de 200 km.


O Japão poderá ser o país que pela primeira vez na história soube lidar com um acidente de grande proporção de maneira competente e segura. Ou ir para a história como mais um argumento contra o uso dessa fonte de energia. Fukushima poderá ser esquecida daqui a poucos meses e voltar a funcionar normalmente. Mas também poderá ser sinônimo de tragédia nuclear e ficar ao lado de Chernobil quando lembrarmos dos riscos das usinas nucleares.

O curioso nessa história é que para o bem ou para o mal, o problema ocorre justamente no único país do mundo que foi alvo de ataques de bombas nucleares, lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Nenhuma sociedade discutiu tanto e se preocupou tanto quanto às vantagens e desvantagens desse tipo de energia quanto a nação japonesa.

As bombas nucleares são o lado mais perverso da energia nuclear. São de diferentes tipos e feitas para causar diferentes tipos de estragos com proporções variadas. Podem ser de fissão nuclear e destruir tanto quanto contaminar o ambiente com radiação. Podem ser de fusão nuclear e destruir muito mais do que contaminar. E podem ser de neutrons, feitas para apenas contaminar. Matam tudo o que é vivo com sua radiação, mas deixam os prédios intactos. Seu apelido é "bomba suja".


Mas a energia nuclear também pode ajudar a humanidade. Tem uso cada vez maior na medicina, com radioterapia e diagnósticos. São cada vez mais importantes para diminuir a morte por vários tipos de câncer. Também podem gerar energia, como no caso de Angra I e II, que respondem por cerca de 20% da energia consumida no RJ.


Até abril de 1986 havia uma empolgação mundial com o uso da energia nuclear em usinas geradoras de eletricidade. Acidentes já tinham ocorrido, mas nenhum de grande proporção e todos com rápida solução. Estatisticamente era provado que era uma fonte segura de energia. A humanidade superestimou os números e passou a acreditar cada vez mais em si, numa arrogância que lentamente abriu caminho para a negligência.

Foi quando explodiu o reator de número 4 em Pripriaty, na usina de Chernobil, localizada na Ucrânia, então dominada pela Rússia na antiga URSS. O acidente foi muito grave. E os erros dos soviéticos inaceitáveis. Tentaram esconder da população e do mundo a gravidade do caso. Milhares de pessoas se contaminaram e muitas delas morreram. Ninguém sabe com precisão, pois a URSS era uma ditadura que escondia números. Apenas 3 dias depois do acidente o mundo ficou sabendo do caso. Suecos notaram níveis radioativos acima do normal nas suas usinas e perceberam que a contaminação vinha de fora. Acionaram a Agência Nuclear da Europa, que descobriu que a contaminação era trazida pelos ventos da primavera, vindos da planície russa. A URSS foi obrigada a reconhecer que houve um acidente, que não conseguia contê-lo e que sua população foi exposta de maneira desumana à radiação. Há quem acredite que o ódio do povo contra seu governo por conta dessas mentiras e mortes tenham acelerado os processos que fizeram com que terminasse o socialismo e a própria URSS. Chernobil não acabou sozinha com a URSS em 1991, 5 anos após Chernobil, mas ajudou muito.

Décadas se passaram e a humanidade foi se esquecendo dos riscos da energia nuclear. Voltamos a ficar arrogantes. A alta do preço do petróleo entre os anos de 2003 e 2008 estimulou muitos governos a defenderem o uso dessa fonte de energia novamente. O Brasil inclusive. Em 2006 Lula prometeu que reativaria a construção de Angra III. Seu opositor na época, Alckimin, concordou.

Alguns ambientalistas e gente preocupada com a relação da humanidade com a natureza passaram a defender o uso da energia nuclear como alternativa segura e viável para conter a emissão de gases-estufa. E no momento em que revoltas árabes ameaçam tornar o petróleo ainda mais caro, mais gente entendia que a energia nuclear era a solução.

Tudo estava indo bem, até ontem. Se a energia nuclear vai se confirmar como fonte segura de fato e com poucos riscos, ou como um grande mal que a humanidade deve evitar, discutiremos nos próximos meses.

A resposta virá do Japão. Mas ainda não está pronta.





Wednesday, March 09, 2011

Carnaval sem memória e com muita grana

Durante as transmissões do carnaval um nome não saiu dos ouvidos do palpiteiro: João Carlos Martins.

Sim, o homenageado pela escola campeã do carnaval paulistano.

Seria o mesmo João Carlos Martins, acusado de participar do chamado "Caso Pau-Brasil"?

Era.


João Carlos Martins era amigo de Paulo Salim Maluf e ligado ao ex-prefeito Celso Pitta.


O pianista, hoje mostrado com orgulho e honra, foi acusado de participar de um esquema de caixa-dois de campanha que envolvia Celos Pitta, afilhado político de Maluf.


Mas para que lembra disso?


Estraga a festa...

O que interessa é apenas o presente para essa imprensa que noticia de acordo com suas conveniências.


Na década de 1990 interessava derrubar Maluf e até João Carlos Martins foi lembrado.


Hoje não interessa mais. Maluf se enfraqueceu e não ameaça mais os candidatos apoiados pela "grande imprensa".


Simples assim.

Viva o carnaval, viva a Vai-Vai, viva o pianista.


A falta de memória é antes de tudo seletiva nesse país...


Outra do carnaval:


A Nestlé comemora 90 anos de Brasil.


Pagou uma grana alta para ter Roberto Carlos como garoto propaganda da sua marca no Brasil.


A Beija-Flor, escola carioca, homenageou Robertos Carlos, garoto propaganda da Nestlé.


E assim transformaram o carnaval do Brasil: um grande negócio.


Quando você assistir o Jornal Nacional, repare nos anúncios da Nestlé, em horário nobre.


Quem desconfiar de que tudo não passa de negócios será tratado como chato.


Daí o palpiteiro cita o garoto propaganda da Nestlé: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi..."



Friday, March 04, 2011

Tráfego Aéreo Mundial (clique aqui)

Cada ponto amarelo corresponde a um avião.

Repare na diferença Norte-Sul.


A sombra corresponde à noite e por isso faz diminuir o fluxo nas áreas por onde passa.

Friday, February 11, 2011

E agora, como fica o Egito sem Mubarak?

O palpiteiro não acompanhou os acontecimentos no Egito como gostaria, mas leu, ouviu e ouviu o suficiente para dar um palpite. Evidente que é hora de um parecer, pois se tivesse mais embasamento, palpite não seria...

Pelo que se mostrou das manifestações por fotos e imagens podemos tirar algumas conclusões. A primeira é que a oposição foi nacional, popular e intensa. Embora se credite aos mais jovens a euforia e toda a energia para os protestos, não se pode descartar a participação de membros da classe média e de pessoas mais velhas e cansadas do governo Mubarak. O presidente egípcio conseguiu o que poucos governantes tiveram: uma ampla, geral e irrestrita oposição. Ele foi quase uma unanimidade.

Pelo que se viu no noticiário, os apoiadores de Mubarak variavam pouco. Eram em sua maioria funcionários públicos beneficiados pelo regime ou policiais que sabiam os riscos de mudanças democráticas. Quando uma ditadura cai aqueles que prendem, matam, torturam e se corrompem com o regime são os que mais temem um governos realmente justos, democráticos e firmes. A razão não é outra senão o temor da perda de privilégios e eventuais punições por abusos do passado.


Mas o que vimos na TV ou pelo computador não traduz exatamente o que ocorreu por lá. Se as imagens mostram uma massa unida e indignada nas ruas, é razoável acreditar que também havia divisões entre os principais líderes da oposição. É assim em qualquer lugar do mundo. As pessoas nunca pensam igual.


O exército foi sem dúvida o fiel da balança. Quem prestar um pouquinho mais de atenção nas imagens, verá carros de combate, blindados e soldados quase assistindo os protestos. O palpiteiro chegou a ver algumas fotos com pichações em tanques de guerra com soldados sorridentes. Ao longo desse período de manifestações o exército não se empolgou o suficiente para derrubar Mubarak num golpe de Estado clássico. Preferiu simplesmente nada fazer. Deu segurança mínima ao governo acuado e simpatia ampla aos manifestantes que se opunham. Talvez saia do exército alguns dos nomes que inevitavelmente aparecem como heróis nos livros de história. Não daqueles heróis com estátua e nomes de ruas. Mas daqueles que alcançam o reconhecimento e a gratidão de um povo que não foi massacrado pelas suas próprias forças armadas.


Tudo isso é muito bonito e chega a ser quase poético. Mas a realpolitik pressupõe negociações, pressões e recuos.


Os opositores mais exaltados pregarão uma revolução. O Irã para alguns seria um modelo, mas é muito difícil acreditar nisso num país que tem outra cultura e uma história muito diferente dos persas. Lideranças religiosas tentarão se cacifar para um novo Estado, talvez de modelo teocrático. Porém sabe-se que o exército que até agora jogou do lado da oposição pode muito mudar de lado e conter os mais afoitos. Conflitos não podem ser descartados, entre as forças armadas e os mais empolgados com os ventos da mudança. Se eles ocorrerão, dependerá da capacidade dos religiosos continuarem a organizar seus seguidores e terem disposição para continuar a lutarem. Talvez até com violência. É possível que isso aconteça, mas é também verdade que embora poético, um processo como esse cansa. Naturalmente haverá no Egito quem prefira voltar à normalidade e acompanhar uma transição mais pacífica.


Por dentro se confrontarão os mais nacionalistas, críticos das relações amigáveis com Israel e os mais moderados, favoráveis à manutenção da atual política externa bancada pelos EUA -$$$$.


Novamente surge o exército como fiel da balança e, nesse caso, o mais óbvio é acreditar que apoiará mudanças que tragam um pouco de democracia ao país, mas que não necessariamente o torne inimigo de Israel e órfão da ajuda -$$$$- dos EUA.


Parece mesmo óbvio acreditar que no fim de tudo a mudança ocorreria nos moldes brasileiros, nos quais velhos dirigentes continuam com algum Poder e que o povo passa se contentar com migalhas de participação política.

Mas quem acreditar no óbvio correrá o sério risco de quebrar a cara, pois o que ocorreu nos últimos 18 dias pode ser chamado de qualquer coisa, menos de óbvio.


Seja lá qual for o desfecho, é gratificante ver a alegria do povo egípcio e o alívio de ver Mubarak fora do Poder. É agradável saber também que estamos diante daquelas mudanças históricas, daquelas que irão para os livros escolares e retrospectivas da década.


O Egito mudou, afinal. Se para melhor ou pior só a história dirá.


Em homenagem aos Egípcios fica aqui o link da Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal. Teve participação do povo e de jovens capitães de um exército cansado de uma ditadura para lá de velha. Portugal ficou melhor. Que o mesmo ocorra com o Egito.




Vá de retro, Mubarak!!!

Caiu a múmia que governava o Egito.


Era jogada cantada.


Claro, quem leu veja ficou sabendo numa semana que Luciano Huck era bom e que Fernandinho Beira-Mar continua mal...



VIVA O EGITO!!!!


O que vem depois é outra história...


Tuesday, November 23, 2010

Você não foi perspicaz. Desculpe-me.

Custo a acreditar que seja mesmo você.

Convivi com você por quase um ano letivo. Você tinha 15 anos e de modo algum diria que era limitado.

Aparentava um bom nível cultural e uma velocidade nas respostas que destoava da maioria dos garotos da sua idade.

Por vezes eu me surpreendi com a diferença entre a imagem da "bad boy" - que você fazia questão de ostentar- com a perspicácia do seu pensamento.


Você sempre me pareceu mais confuso do que mau caráter.


Um dia vi você numa das escadas da escola com aquela sua namorada. Você estava matando aula e eu lhe disse que nada falaria. Você era o aluno e eu o professor. Não tive dúvidas e informei a orientadora do que você estava fazendo. Lembro-me de que você foi chamado à atenção. A orientadora fez o trabalho dela, eu o meu. Você é que estava fazendo a coisa errada. E tenho a certeza de que percebeu isso, pois jamais me cobrou por isso. Você sabia já no ano passado a distinção entre o que é o certo e o que é o errado. Já disse e repito, dentre todos os seus defeitos, não está a falta de inteligência.

Você é perspicaz.

Em 2009 segui o combinado da escola. Falei sobre a Europa e a questão da Xenofobia. Dei aquela aula sobre a África do Sul e me dediquei ao máximo quando falei sobre o Apartheid e o problema do racismo.

Sinceramente não me lembro do seu rosto durante essas aulas. Mas tenho certeza de que você me ouviu algumas vezes.


Vou lhe confessar um segredo: toda vez que toco num assunto que envolve violência tento chamar a atenção para o que é o errado e o que é o certo. Aprendi que adolescentes ficam interessados em histórias de violência. E aprendi o quanto é importante deixar claro sobre o quanto a violência é ruim.


Falei disso quando dei aula sobre a população da América e o genocídio dos indígenas, praticado tanto na América do Norte quanto na América do Sul. Não tem essa de que os EUA foram malvados e nós não. Todos matamos índios em nossas histórias e todos carregaremos para sempre uma parcela dessa culpa. A terra que pisamos tem parte do sangue deles.


Também me esforço para falar da violência e do preconceito quando toco no assunto sobre o Oriente Médio. Desisti de buscar um lado certo naquela encrenca toda. Sempre busco deixar claro que israelenses e palestinos cometem excessos e erros.

A maldade humana não tem lado.


Você deve ter ouvido alguma coisa do que eu disse quando falei sobre a Ásia e o Vietnã. Talvez não tenha percebido, mas quando fui crítico aos EUA o que menos me interessou foi ser anti-americano.

Aprendi a condenar a violência e não o violento.


Aprendi também a condenar o holocausto, o terrorismo e perceber que o que quer que os EUA tenham feito de errado nada justificou os ataques do 11 de setembro.


Parece complicado, mas não é. Quando se assume o compromisso com a defesa da vida fica bem fácil de saber quem é bom e quem é mal.


Você foi meu aluno e esse ano saiu da escola.


Fiquei sabendo apenas agora os motivos.


Mas você deve ter aprendido mais do que nunca agora que notícias ruins se espalham com muito mais velocidade do que as coisas boas. Aprenda isso: o gosto pela maldade e pelo sofrimento alheio não é exclusividade sua. Muitos agora que se diziam seus amigos agora se orgulham em dizer que o conheciam e a lhe rotular como idiota e "sem-noção".


Você jamais imaginou que pudesse ser vítima do julgamento dos outros como está sendo agora.

Ironia: seus amigos julgaram pessoas sem conhecer e condenaram sem a mínima legitimidade moral. Hoje você é a vítima do julgamento superficial e da ignorância. Atos que você viu de perto, de outra forma.


Você deve estar sofrendo com isso, mas deve saber que pessoas estão se divertindo às custas do seu sofrimento. Hoje. Agora.


Não acredito sinceramente que você seja um monstro. Aposto muito na ideia de que tenha se deixado levar pela bobeira que compromete a história de muitos adolescentes.


Parece fácil agora ver o quanto errou. Mas não pareceu na hora em que você errou. Você sempre me pareceu muito perspicaz. Não foi aquele dia.


Às vezes torço para que todos que citam o seu nome estejam errados. Sinceramente torço para que não seja você um dos adolescentes que estavam entre aqueles que agrediram aqueles "gays" na Paulista.

Mas os boatos e as versões me parecem tão reais que começo a crer na sua participação.


Se for você mesmo não tenho como lhe tirar a culpa. Se não errou por que não bateu, errou muito por não ter se colocado contra. A omissão é às vezes a maior aliada da maldade.


Se eu pudesse lhe dar algum conselho lhe daria o mais simples: jamais negue seu erro. Não finja que não foi com você. Pague, exigindo justiça, pelo mal que eventualmente cometeu. Nem a mais e nem a menos. Exija justiça tanto pelo que não fez quanto pelo que tenha feito.


E se puder, pense no quanto ganhará daqui para frente ao assumir um compromisso pela defesa da vida.


Você deve saber da realidade: é menor de idade e o barulho feito agora não necessariamente será da mesma proporção de uma eventual condenação. Na pior das hipóteses terá sua liberdade em menos de 2 anos. Na melhor das hipóteses desfrutará do que é mais injusto nesse país: um sistema judiciário que maltrata pobres e bajula os mais ricos.


A escolha é apenas sua. Aprender com o erro de hoje ou se safar mais uma vez.

Até quando?


E se eu pudesse lhe dizer algo olhando nos seus olhos diria: você não errou sozinho. Errei eu que não fui capaz de lhe convencer daquilo que acredito. Seus pais, suas escolas, seus amigos e toda essa sociedade hipócrita que hoje lhe condena mas que continua a criar tantos jovens que farão algo semelhante ou pior do que o que você e seus amigos fizeram.


Não duvido da necessidade de você ter algum tipo de punição. Mas não me envergonho de lhe pedir algo: desculpa.

Tuesday, November 02, 2010

Vá ao Salão do Automóvel. De metrô...

Obs.: Palpite emitido em novembro de 2010.  

O automóvel foi uma das bases da economia do século XX e tem tudo para ser uma das maiores dores de cabeça do século XXI.


Em tempos de preocupação ambiental e com uma população cada vez mais urbanizada ficou claro que não há mais como priorizar o transporte individual e abandonar o transporte coletivo.

O automóvel particular é muito mais caro e poluente do que o transporte coletivo, trem, ônibus ou metrô.

Há uma aliança entre fabricantes de automóveis, empresas petrolíferas e meios de comunicação que lucram muito com essa opção. De outro lado estão as pessoas que ficam presas em congestionamentos e condenadas a problemas respiratórios pelo excesso de veículos.


Soluções paliativas aparecem, como o carro híbrido.


A indústria automobilística emprega muita gente, paga altos impostos e contribui genero$amente para muitas campanhas eleitorais. E paga muito dinheiro para a imprensa colocar seus anúncios publicitários.


Outro setor que ganha muito com o automóvel é o da indústria da construção civil. Basear o transporte no automóvel e no caminhão é ter a certeza da necessidade de construção de rodovias, avenidas e da constante manutenção. Grandes empresas de construção civil ganham muito dinheiro para construir pistas e para tapar seus buracos. Grandes empreiteiras também contribuem genero$amente com políticos em época de eleição.


Nesse começo de novembro pós-eleição o palpiteiro testemunhou algo inusitado.

O Salão do Automóvel no Anhembi aparece como o evento da indústria automobilística. Quem passar em frente verá...TRÂNSITO!


Há a opção de transporte gratuito entre o metrô Tietê e o Anhembi, onde ocorre o culto ao automóvel.


Isso mesmo, a melhor opção de acesso ao Salão do Automóvel é de metrô e ônibus.



A imprensa não noticia isso. Limita-se a propagandear o evento. A imprensa é paga pelas montadoras para dizer que o automóvel é o maior bem que um ser humano pode adquirir. A imprensa sustentada pela propaganda do automóvel não fala mal do automóvel.

Também não fala bem de quem critica esse modelo insano e injusto. Insano porque prejudica tantos e injusto porque favorece apenas uma minoria da sociedade. A imprensa sustentada pela indústria automobilística não fala mal de quem fala mal do automóvel. Apenas não oferece espaço. Silencia. Cala. Ignora.


A imprensa brasileira que não fala mal do carro e que ignora quem fala morre de medo da "restrição à liberdade de imprensa".


Quer ir ao Salão do Automóvel?

Vá de metrô, a melhor opção. 


Obs.: Após 4 anos tivemos a ampliação dos corredores de ônibus, alguns quilômetros de metrô a mais e a ousada tentativa de Haddad em implantar ciclovias e ocupar vagas de carros com áreas de vivência. 

Em junho de 2013 uma onda de manifestações explodiu no Brasil a partir da reivindicação dos garotos do Movimento Passe Livre, críticos do modelo automobilista. 

O palpite parece atual pelo que descreve, mas está desatualizado pelo que tem ocorrido, mesmo que lentamente.   

Monday, November 01, 2010

Um recado para você

Discuti com você outro dia, às vésperas da eleição. Você não significa mais do que realmente é: alguém movido pelo desejo de ter mais e insatisfeito por ter vivido o contraste entre o que viveu e o que vive.

Sua tradição familiar é a do privilégio e esse mundo já não pode existir mais. República para você sempre foi um termo burocrático, jamais um valor.


Para ser sincero você é um símbolo para mim. Por isso sua idade, profissão, nível de renda, escolaridade ou sexo são irrelevantes. Pouco importa, pois pessoas como você existem aos milhões no meu país e com você compartilham dos mesmos valores: narcisismo, consumismo e o desejo maior de se libertar daquilo em que se meteu. Você é um novo pobre, apenas isso.

Não entende que o mundo muda porque precisa mudar. Não consegue ver mudanças para além do vidro do seu carro.

Você xinga o governo, bajula o patrão e ofende quem está no nível social mais baixo que você. Lembro-me de você dizendo que se sentiu mal quando estava numa cidade do interior de SP diante de uma manifestação do MST. Para você a presença "daqueles mendigos" era um absurdo numa cidade turística. A presença dos pobres o ofendeu, não a pobreza deles. Sei que você não se lembra do que disse, pois você fala muitas bobagens. Mas eu nunca me esqueci, pois suas palavras me entristeceram.

Você votou no Collor em 1989 porque acreditou que um governo Lula afastaria investimentos e confiscaria as aplicações financeiras. E quem fez isso foi o Collor.

Lembro-me que gente como você "se esqueceu" que tinha votado no Collor em 1989 e festejou o impedimento dele em 1992. Lembro-me de ver gente como você a xingar o Collor em setembro de 1992 e ter votado no Maluf em outubro do mesmo ano. O candidato em SP era o Suplicy e você preferiu o Maluf.

Em 1994 você votou no FHC e muita gente fez como você, diante das mudanças econômicas. Naquele momento mais gente se uniu a você e nem todos eram tão questionáveis quanto você.

Em 1998 você votou de novo em FHC. Não adiantou ouvir que o desemprego era alto e que a crise era consequência dos erros do governo. Aliás pouco adianta argumentar com você. Pois para você o universo já tem explicação e você tem todas as respostas. Você tem uma característica peculiar. Nunca duvida e jamais pergunta. Você é mesmo o dono da verdade.

Você disse que se Lula ganhasse haveria a desvalorização do Real frente ao dólar. FHC venceu com base nessa tese e desvalorizou o Real em janeiro de 1999. Você teve que pagar muito mais pelo carro financiado, mas já nem se lembra mais disso. Não porque não consegue. Apenas porque não quer se lembrar. Sua memória é seletiva por opção e não por natureza.


Em 2002 votou no Serra, pois você garantiu que se Lula ganhasse o Brasil "iria virar uma Argentina". Você e a Regina Duarte.


Lula ganhou e o Brasil não virou uma Argentina.


Em 2004 você votou no Serra para prefeito contra a Marta. Eu me lembro. Chamava Marta de "Martaxa" e acreditou no que o Serra dizia. Serra ganhou, tirou a taxa do lixo e criou outras. Mas para você isso não tem importância. Pois você nunca erra, não é mesmo?


Em 2006 votou no Serra para governador e no Alckimin para presidente. Disse que já não suportava mais a corrupção e os "mensaleiros". Não adiantou dizer que o DEM e o PSDB também tinham problemas parecidos. Você além de dono da verdade é dono da moral. Está sempre certo e só vota em gente honesta...


Em 2008 você votou no Kassab contra a Marta. Seu discurso foi muito original, pois chamava o outro lado de corrupto para defender o ex-secretário do Maluf. Sim, você sabia que Kassab era da equipe de Maluf. Mas não adianta, pois para você o mal está sempre no outro lado do muro. Você nunca erra.


Em 2010 você se superou. Reforçou seus preconceitos e passou a acreditar que uma vitória do PT significaria uma ditadura no Brasil. Você realmente acredita nisso e é impressionante como se esquece disso quando os jornais que você lê, as revistas que você compra e os canais de TV que você assiste não dão espaço para opiniões divergentes. A democracia para você não é um valor. É só uma palavrinha que enfeita seu discurso. Pega bem falar em nome da democracia. Mas para você é muito difícil ser democrático.

Ontem você votou no Serra de novo. Terá sido coincidência?


Hoje já tem um discurso pronto. Jura de pés juntos que foi graças ao Bolsa-família ou o "bolsa-esmola" como você gosta de dizer com a graça que só os arrogantes que com você convivem gostam.

Vi também o discurso do seu candidato derrotado. Não adianta lembrar que ele quebrou uma tradição de 21 anos. Serra não ligou para Dilma logo que soube da certeza de sua derrota. Foi deselegante. Você se esqueceu que Lula perdeu 3 eleições consecutivas e que nas 3 reconheceu o resultado. É elegante ligar para o vitorioso. Dilma esperou o gesto até tarde. Quando ligou ela já discursava.

Serra fez um dos discursos mais rancorosos que eu já vi na minha vida diante de uma derrota. Prometeu que a "luta apenas se iniciava naquele momento". Pensei que ele tivesse ofendido a todos que nele votaram. Se a luta só começa agora o que Serra fez desde 2002 quando perdeu a primeira vez para presidente? Brincou esse tempo todo?


Hoje eu comemoro e você lamenta. Mas não me iludo. Sua insensibilidade social não mudou de ontem para hoje. Sua arrogância não foi diminuída. E seus preconceitos não foram superados.

Você e os seus colegas de pensamento não estão preocupados em saber onde erraram. Procuram agora, desesperadamente, argumentos para justificar um erro que não foi de vocês. "A luta foi desigual", tem sido o discurso patético dos maus perdedores.

Você perdeu essa eleição e não está preocupado em ver onde errou por uma razão simples: você nunca erra.


Mas a vida segue e eu sigo o meu caminho. Sei que terei que conviver com gente como você por todo o tempo em que eu ainda estiver vivo e residente no Brasil.

É difícil conviver com você e com gente que pensa como você. Mas saiba de uma coisa. Não arredo pé do meu país e não descanso enquanto não vencer não você, mas esse tipo de pensamento mesquinho, arrogante e elitista que tanto mal faz ao meu país e ao meu povo.

Finalmente concordo com seu candidato: a luta apenas começou.

Wednesday, September 22, 2010

Neymar e tolo que não queria saber inglês

Um dia, na década de 1990, o palpiteiro fiscalizava uma turma de segundo ano do ensino médio durante uma prova de inglês. Um aluno não fazia absolutamente nada. A prova estava em branco e o garoto a esperar o tempo mínimo para sair da sala. O palpiteiro se incomodou, pois via que não era o caso de alguém que se preocupava com uma nota baixa. Havia algo pior: o descaso e a indiferença com um mal resultado. antipatia coletiva poucas vezes vista nos últimos anos.

O palpiteiro perguntou ao aluno por que ele não tentava ao menos fazer alguma coisa. O garoto disse com um tom arrogante que aquilo não era importante para ele. Sem entender como o inglês pode não ser importante para um paulistano no final do século XX o palpiteiro perguntou a razão dele pensar daquele jeito.

O aluno não titubeou e afirmou - com a certeza que só os incautos possuem - que seria um grande corredor de Fórmula 1 e que não precisaria estudar. O palpiteiro se intrigou ainda mais. Como alguém que tinha CERTEZA de que seria um corredor de Fórmula 1 poderia abrir mão da língua inglesa? O sábio da nota zero afirmou categoricamente que se talento o livraria daquela obrigação. E fez um círculo no alto da prova, em torno do próprio nome. Ao terminar o círculo sentenciou: guarde esse nome. Você vai ouvir muito falar dele.

O palpiteiro até hoje lembra do nome, pois "manda quem pode, obedece quem tem juízo". De vez em quando o google é acessado com o tal nome. Já faz mais de uma década. Até hoje nada. Nem no Kart, Fórmula Indy, Fórmula 1 ou corrida de saco.

O nome do dito cujo até agora não se projetou.


O palpiteiro se lembrou dessa história hoje, por acaso. No mesmo dia em que um moleque arrogante chamado Neymar conseguiu despertar uma antipatia coletiva que há muito não aparecia no futebol.


O palpiteiro acha que ainda pode se surpreender com o repentino sucesso do garoto que queria ser piloto de Fórmula 1 sem falar inglês. Mas enquanto isso não se confirma faz uma promessa: irá digitar o nome do Neymar logo após a busca pelo nome do outro garoto tolo.

Saturday, September 18, 2010

Jimi Hendrix

Ainda dá tempo de lembrar.

Pelé no futebol, Michael J0rdan no basquete, Picasso na pintura, Niemayer na arquitetura, Brecht no teatro, Garcia Marques na ficção, Saramago na imaginação, Aziz Ab´Saber na Geografia, Sergio Buarque de Holanda e Hobsbawn na história, Darcy Ribeiro na antropologia, Brizola no discurso político, Mandela na liderança política, Zilda Arns na humanidade, Regina Sader na doçura, Chico Buarque na MPB, David Gilmour na melodia, Noel Rosa no Samba, Adoniran Barbosa na provocação, Bezerra da Silva na malandragem, Carlos Drumond de Andrade na crônica e ...


JIMI HENDRIX NA GUITARRA


Saturday, September 11, 2010

Algumas lições do 11 de Setembro

Se tem alguma coisa que o 11 de setembro ensinou foi o impacto da sociedade da informação na vida contemporânea.


O palpiteiro estava numa sala de aula quando um aluno disse o que havia ocorrido naquela terça-feira. Arrogante, não acreditou na história e ordenou que prestasse atenção na aula. O palpiteiro estava errado e aprendeu que o professor já não era o senhor da verdade há muito tempo. Nunca tinha sido.


Os atentados foram meticulosamente planejados para causar o medo coletivo nos EUA e na Europa. Bin Laden sabia como funcionava a era da informação. Derrubar as torres gêmeas seria um ato mais do que violento. Seria e foi espetacular. Um espetáculo de horror.

Os EUA tinham um presidente com baixa popularidade e uma economia estagnada. Bush agarrou a oportunidade que lhe deram e encarou o papel de defensor do "mundo livre contra o terrorismo".


O mundo aprendeu que às vezes os inimigos se completam e desenvolvem uma necessidade mútua de existência. Bush precisava da figura de Bin Laden para justificar ações violentas e elevados gastos militares. Bin Laden precisava da violência de Bush para ter mais apoio de militantes terroristas. Aos dois nunca interessou a destruição do adversário. Foram atores de um teatro que teve a CNN, a Reuters e a Fox News como palco. E uma parte da imprensa mundial e brasileira como repetidoras inconsequentes.

Os atentados ensinaram que um presidente pode se aproveitar de uma tragédia para defender um governo imoral e uma postura militarista. Abafar problemas internos e manter a ordem social num país que vê seus impostos torrados com armas e gente desamparada com a tragédia do Katrina.


Bush usou o medo coletivo nos EUA para convencer seu povo e o Congresso a aprovar uma guerra estúpida no Iraque. Um senador chamado Barack Obama ensinou que ser uma voz contrária no momento em que a histeria coletiva leva um país a caminhar sob a ordem de um cego é um acerto. Obama votou contra a guerra do Iraque. Ou melhor, no Iraque. E deu a cara a tapa. Foi um político corajoso ao dizer publicamente e com destaque que aquela guerra era um erro.

Nas eleições de 2008 Obama se lançou candidato com a autoridade moral de quem tinha apontado o erro da guerra no Iraque. Mostrou-se um líder. O mundo aprendeu que manter a coerência de suas ideias mesmo quando todos se colocam contra elas pode ser um grande acerto.

Os atentados de 11 de setembro tem sido sistematicamente explorados pela mídia sensacionalista. Há poucos minutos o Jornal Nacional mostrou a reportagem de sempre. Uma cerimônia com gente emocionada e declarações do presidente dos EUA. Nada sobre a história. Absolutamente nada sobre a parceria entre a CIA e Bin Laden contra os russos no Afeganistão entre 1979 e 1988. Nada sobre as consequências dos atentados para a população pobre do Afeganistão e do Iraque.

A "grande" imprensa aprendeu que a melhor maneira de manipular a opinião pública -seja lá o que for isso- é ignorar a história. Fale muito sobre o presente. Dê detalhes sobre os atentados. Diferentes tomadas dos aviões que se chocaram no WTC. Cenas de familares tristes e bombeiros heróicos. Mas nunca fale sobre o que é o Departamento de Estado dos EUA e uma tal de CIA...

A "grande" imprensa só não aprendeu que um punhado de pessoas tem uma necessidade de informação maior do que a mísera ração diária de conteúdo que ela oferece. Mas se a "grande" imprensa não aprendeu, as pessoas aprenderam. A internet se tornou uma fonte importante de informação para quem quer algo além do que a mídia oferece. A "grande" imprensa vende o fast-food da notícia. Peça pelo número e tenha as mesmas notícias combinadas. Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial especial, cebola e picles num pão com gergelim... Nem todos querem lanches prontos. Ainda há pessoas que preferem o restaurante simples, a com comida tradicional e uma boa conversa com o cozinheiro. O filé não deve ser igual para todo mundo. Há quem se contente com o prato-feito. Há quem prefira o restaurante a quilo.

As lições do 11 de setembro foram muitas. O questionamento sobre o que realmente é a "era da informação" talvez seja a maior delas. Uma lição que ainda não foi totalmente aprendida.

Saturday, September 04, 2010

Espionagem e política

O pior tipo de cobertura jornalística é aquele que se separa da história. E algo que tem marcado a imprensa mundial e a brasileira em especial é justamente o empenho em ignorar fatos históricos.

O consumidor de notícias é induzido a acreditar que está bem informado ao saber detalhes microscópicos de um caso qualquer. Descobre-se como idiota ao saber que lhe omitiram a maior parte da história.

José Serra está em meio a uma eleição na qual suas chances de vitória diminuem cada vez mais. Nos últimos dias resolveu se colocar no papel de vítima, para ver se altera alguma coisa do seu quadro de anemia eleitoral.

A acusação que faz contra o PT é grave: a violação de dados pessoais feita por gente do partido contra o PSDB e até a filha de Serra. Vendo nos detalhes e sem a ajuda da história o caso causa indignação a qualquer cidadão de bem. Nunguém tem o direito de violar a privacidade alheia para chantagear ou ter ganhos políticos num Estado de Direito. Serra estaria certo, mas...


O mesmo Serra quando foi ministro montou uma equipe de "inteligência" no Ministério da Saúde. O argumento era garantir a segurança. Qualquer grupo oficial de segurança tem esse disfarce: bisbilhotagem para segurança. Resta sempre perguntar para a segurança de quem...

Sarney não perdoa Serra até hoje, desde 2002. A filha de Sarney almejou ser candidata a presidente pelo então PFL, atual DEM. Dizem que o grupo de espiões do Serra passou a informação de que o marido de Roseana Sarney trabalhava com dinheiro ilegal. A Polícia Federal foi acionada, a candidatura de Serra deixou de ser ameaçada por Roseana e Serra disputou e perdeu para Lula em 2002. Desde então Sarney nutre uma mágoa especial por Serra.


No jornal Valor Econômico saiu uma reportagem recentemente na qual se dizia que José Serra usou os mesmos métodos para tirar seu colega de PSDB, Tasso Jereissati, da disputa para a candidatura à presidência em 2002 também. Notícia pesada, pois foi dito que Tasso chegou a chamar o aliado de Serra, Aloísio Nunes, para a briga, dentro do gabinete do FHC ainda presidente. Dois políticos saindo no tapa por conta da espionagem de Serra...


O uso da espionagem é inaceitável mas isso não quer dizer que não faça parte da política. A espionagem é tão presente quanto o caixa-dois ou as promessas que nunca serão cumpridas numa corrida eleitoral.


Há um empresário ligado ao DEM, PSDB, parte do PMDB e PT que faz uso desse tipo de recurso: Daniel Dantas. Dantas contratava uma empresa de espionagem que tinha ex-agentes da CIA, a Kroll, para espionar seus adversários na política e nos negócios. Ao menos dois jornalistas foram espionados por ele, por noticiarem fatos que o desagradavam: Ricardo Boechat, hoje na Bandeirantes e na revista Isto é, e Paulo Henrique Amorim, hoje na Reocrd. Os dois foram espionados por Dantas por meio da Kroll.

Dantas foi preso e teve dois habeas-corpus em menos de 48 horas. Os desavisados acreditaram que finalmente a Justiça brasileira resolveu respeitar os direitos dos cidadãos. Os mais maldosos acreditaram que Dantas poderia abrir a boca sobre tudo o que sabia de suas bisbilhotices. O fato é que a liberdade de Dantas foi tão boa para ele quanto para o punhado de políticos de diferentes partidos que temem pelo que ele possa um dia falar publicamente.

Daniel Dantas é temido e odiado. Dantas tem uma irmã chamada Verônica, sócia em seus negócios suspeitos. Verônica Dantas montou uma empresa com outra Verônica, filha de Serra...


Quando a imprensa se preocupa com os abusos das espionagens faz o papel de defensora do Estado de direito. Quando faz isso acusando apenas alguns e omitindo outros torna-se instrumento de disputas partidárias. Falta apenas dizer que a filha de Serra é hoje vítima de práticas de gente com quem ela chegou a ser sócia.


O palpiteiro não quer com isso justificar a eventual violência na vida pessoal de Verônica Serra. Mas não aceita ser feito de imbecil por uma imprensa nitidamente parcial.


Por curiosidade, o palpiteiro se lembrou de políticos ligados a serviços secretos e que se tornaram poderosos dentro e fora de seus países:


- Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva: montaram o Serviço Nacional de Informações, SNI. Geisel se tornou anos mais tarde presidente e Golbery o Ministro-chefe da Casa Civil em seu governo. O jornalista Élio Gáspari escreveu vários 4 livros sobre Geisel e Golbery na ditadura. As informações dos livros foram obtidas com as gravações secretas que Geisel fazia quando era presidente. Gáspari herdou as fitas com as gravações: foram digitalizadas e totalizaram 200 CDs com conversas grampeadas...

- João Batista Figueiredo foi chefe do SNI, a CIA brasileira. Deixou o cargo para ser o último general presidente da ditadura.

- Romeu Tuma foi diretor do Depto de Ordem Política e Social, DOPS, órgão que espionava e matava durante a ditadura. Tuma foi o delegado que hospedou Lula quando esse foi preso em 1980. Tuma saiu da polícia, virou político é atualmente Senador por SP tentando reeleger-se.

- George Bush, pai de George W. Bush, foi diretor da CIA nos EUA entre 1976 e 1977. Conseguiu ser vice-presidente dos EUA e se tornou presidente em seguida.

- Vladimir Putin era chefe do serviço secreto da URSS, a KGB, na Alemanha Oriental. Também virou político depois e se tornou presidente da Rússia. Hoje é primeiro-ministro naquele país.


Em comum, todos eles tiveram informações privilegidas de seus adversários ao longo de suas carreiras. Em comum, a desconfiança de que usaram essa vantagem em benefício próprio.

Tuesday, August 31, 2010

A seleção de basquete perdeu para os EUA ontem. Mas o Carlão ficou feliz, certamente.

Em 1982 a Escola Estadual de 1o e 2o graus Cândido Gonçalves Gomide tinha um dos melhores times de basquete da cidade de SP. O técnico era na verdade um professor conhecido como "Carlão".

Carlão era e é um professor que gosta de basquete e que sempre acreditou no esporte. O time que ele formou disputou um campeonato difícil e foi campeão da capital em 1982. Faltava o estadual, mas o ano era de eleição e o governo Maluf cortou verbas para ações mais importantes. Resumo: o Gomide foi para as semi-finais mas não pode disputá-las.

O palpiteiro decidiu ir para o Gomide por isso. Queria jogar basquete num país onde o futebol era o esporte mais praticado. Jogar com as mãos no país da bola no pé. Ser do contra afinal é mais do que uma opção racional...

No Gomide o palpiteiro não apenas aprendeu a jogar basquete como também o respeito a um professor que se dedicava ao que fazia. Carlão era e é o cara.

Havia uma escola particular em Pirituba, bairro do Gomide, na qual o Carlão dava aula e treinava o time de basquete também. Clandestinamente ele trazia as bolas do colégio particular para nós, da escola pública, treinarmos. Era errado. Era importante. Era justo.

Carlão conseguiu mais do que ensinar esporte. Ensinou o respeito ao estudo e à dedicação. Palavrões eram punidos com 10 flexões de braço e uma cuspida no chão era suficiente para expulsão da quadra. Carlão era linha dura num tempo em que generais eram presidentes. Mas tinha legitimidade e reconhecimento. Tinha autoridade sem violência. Carlão liderava, não mandava.

Uma geração de jogadores amadores de basquete foi formada em Pirituba graças a um único professor. Outros também contribuíram, mas era Carlão quem tinha o maior número de seguidores.

Muitos alunos cresceram, casaram e seguiram suas vidas, mas nunca deixaram de se lembrar do trabalho do Carlão.


Um deles se chamava Arthur. O palpiteiro o conheceu quando era sargento do 4o Batalhão de Infantaria e Blindados de Quataúna, em Osasco. Aquele mesmo batalhão no qual o capitão Carlos Lamarca fiugiu com um montão de fuzis que foram usados da guerrilha urbana durante a ditadura. Arthur não era guerrilheiro, mas tinha um porte que dava medo em qualquer um. Nem tinha muita habilidade, mas ganhava na força. Era antes de tudo um cara leal e muito educado. Era um ex-aluno do Carlão, enfim.


Arthur gostava de basquete e tinha um sobrinho que também pegou gosto pelo esporte. O nome do moleque era Leandro.


Pelo amor ao basquete e pela aposta em Leandro, Arthur incentivou o garoto a jogar. Carlão foi o professor.


Leandro cresceu, aprendeu e apesar de ficar muito alto continuou a ser "Leandrinho". O palpiteiro não jogou com Leandrinho em Pirituba. Mas há uma razoável probabilidade de ter esbarrado com ele em algum momento no Parque Rodrigo de Gáspari. O parque da Lagoa, para os mais antigos.


Leandrinho disparou pelo seu talento. Foi jogar no Phoenex Suns. Virou estrela, mas nunca se esqueceu de sua origem.

Dizem que até hoje dá uma força no bairro onde Carlão toca um projeto para outros meninos jogarem basquete.


Leandrinho jogou pela seleção brasileira contra os EUA ontem, pelo campeonato mundial, disputado na Turquia.. O Brasil perdeu por 70 a 68. Apenas 2 pontos.

Chegamos perto.


Leandrinho foi longe. Na NBA virou "Barbosa".

Carlão deve estar radiante, pois seu trabalho dá resultados até hoje, mais de 20 anos depois.


O Brasil perdeu. Leandrinho, Arthur e Carlão ganharam.

E o palpiteiro tem um orgulho danado de ter sido vizinho dessa gente...











Friday, April 30, 2010

30 de Abril

Em 30 de Abril de 1945 o Exército Vermelho invadiu Berlim, o nazismo foi derrotado e Hitler, o covarde, se matou.

Em 30 de Abril de 1975 o exército norte-vietnamita ocupou Saigon, atual Ho Chi Min, simbolizando a vitória socialista e a unificação do Vietnã. Ah, também simboliza a derrota dos EUA numa guerra tão sangrenta quanto cara e estúpida.

Para quem quiser ver um vídeo de propaganda política bem feito o palpiteiro recomenda esse: o hino da URSS com cenas da queda de Berlim. Repare no andamento da música e a harmonia das cenas. Até a percussão combina com a areia caindo. Isso mais ou menos em 2'05''. Clássico da Guerra Fria elaborado pelo lado de lá.

Há 65 anos.




Tuesday, February 09, 2010

Pena Branca

Um cantor pedófilo, louco e infeliz morre e a mídia brasileira transmite o funeral ao vivo. Foi o que ocorreu com aquela figura tétrica chamada Michael Jackson.

Uma apresentadora caquética, ultrapassada e fascista como a Hebe Camargo adoece e de novo está lá, a mídia brasileira disputando a melhor foto da múmia.

Um patrimônio da cultura brasileira como Pena Branca falece e o que temos são notas curtas, sem maiores pretensões. Uma cobertura quase envergonhada.

Pena Branca é para quem sabe diferenciar música caipira de um produto chamado música sertaneja, seja lá o que for isso.


A cultura brasileira é muito mais forte do que o que dizem sobre ela.

Morrem artistas e ficam as obras.

Jornais foram abertos e fechados, mas a verdadeira música brasileira resistiu.

Um dia essa mídia podre, burra e superficial perecerá.

Ninguém sentirá sua falta.

Mas ainda haverá quem queira ouvir Pena Branca. A despeito do silêncio que os ignorantes hoje lhe dedicaram.

Friday, January 08, 2010

São Luís do Paraitinga

Existe uma cidade no Vale do Paraíba que fica a poucos quilómetros de Taubaté. Essa cidade teve a honra de parir dois ilustres brasileiros, Oswaldo Cruz e Aziz Nacib Ab Saber.

Essa cidade teve a originalidade de recriar o carnaval proibindo músicas de fora e valorizando marchinhas que tivessem se submetido a concursos municipais.

Nessa cidade há uma associação de observadores de Sacis.

Em janeiro de 2008 o palpiteiro esteve lá. Esqueceu a chave do carro na porta dele. Circulou pela cidade sem pressa, almoçou e só deu falta da chave mais de 1 hora e meia depois.

Por mais de uma hora uma moradora ficou ao lado do carro, esperando o dono distraído. Sabia que não havia risco de roubo, mas que algum moleque atentado poderia jogar a chave no rio.

Por precaução e moradora ficou ao lado do carro, como se velasse um corpo.

O palpiteiro reencontrou a chave do carro e uma comissão de moradores que discutiam o que fazer com a chave. Onde entregar? A quem entregar?

A moradora entregou a chave ao palpiteiro e demonstrou ter tido aquela atitude por solidariedade. O palpiteiro não sabia como agradecer. Oferecer dinheiro a uma desconhecida que zelou por um bem que não era seu? Não era o caso.

Em janeiro de 2010 essa cidade foi muito prejudicada por uma enchente devastadora. O mesmo rio que poderia ter engolido a chave do carro do palpiteiro transbordou e suas águas muito destruiram.

O palpiteiro gosta dessa cidade. E tem uma dívida com um grupo de seus moradores. E com uma moradora em especial, cujo nome não se lembra. O palpiteiro tem um sentimento de dívida.

Nos próximos dias o palpiteiro irá a São Luis do Paraitinga para levar alguma ajuda. Quem quiser ajudar que doe alguma coisa a postos da PM em São Paulo. Produtos de limpeza e higiene pessoal são priorizados nesse momento. Muitas pessoas pensam em comida e roupas. Mas é preciso lavar as casas, limpar os lares e levar a vida em frente.

Quem puder ajudar que ajude. São Luís do Paraitinga não apenas precisa de ajuda e solidariedade: simplesmente merece.



Link do palpite de 30 de janeiro de 2008:



Para doações:







Monday, December 07, 2009

01 De DEZEMBRO






Houve um consenso de que o dia 01 de Dezembro seria o dia internacional de combate a AIDS.

Até onde o palpiteiro aprendeu, a AIDS, Sídrome da Imudeficiência Adquirida - SIDA - em português, é uma doença que foi identificada em 1982. Até hoje o palpiteiro não sabe dizer a quem se deve atribuir o isolamento do vírus, se a pesquisadores americanos ou franceses. Discussão tão útil quanto saber se foi Santos Dumont ou os irmãos Whrite que inventaram o avião: o troço existe e seus inventores se tornaram menos importantes do que o invento.

A AIDS foi uma doença que assustou a humanidade. A pessoa pode contrair a doença por sêmen, secreções vaginais ou sangue contaminados. Por essas características de contágio é impossível discutir as formas de contaminação sem nos colocarmos frente a questões morais, éticas e ou religiosas. Os americanos mais conservadores chegaram a chamar a AIDS de "peste-gay", pois entendiam a doença como um castigo de Deus aos homossexuais promíscuos. Essa estupidez apenas contribuiu para que a doença se espalhasse entre pessoas que de algum modo acreditavam que apenas gays contraíam AIDS.

A doença é sorrateira. O vírus se instala e a pessoa não fica doente de imediato. Tem uma vida normal e inconscientemente dissemina o vírus para outras pessoas. Um dia aparecem os sintomas. Emagrecimento, manchas pelo corpo entre outros. A capacidade do corpo se proteger é comprometida, e no auge da doença o paciente pode morrer de uma simples gripe. Muitos morrem de tuberculose.

Por desconhecimento muitas pessoas adoeceram de AIDS na década de 1980, entre diferentes classes sociais, cor da pele e religião. Atores, atrizes, políticos, empresários, cantores e tantos outros famosos morreram de AIDS. Fred Mercuri e Cazuza morreram de AIDS. Renato Russo teve AIDS e, até onde o palpiteiro sabe, morreu de anorexia, em decorrência de uma depressão profunda agravada pelo conhecimento da doença.

Nenhuma doença teve tantos recursos, pesquisa e informação em tão pouco tempo quanto a AIDS.

No ínício da década de 1990 uma descoberta animou a humanidade. Um combinação de remédios permitiu uma sobrevida maior para portadores do HIV, com razoável qualidade de vida. Tomando os remédios certos com a regularidade adequada a pessoa estabiliza a doença e não piora. A AIDS era uma condenação a um máximo de 10 anos de vida. Com a combinação dos remédios, chamada de "coquetel", essa sobrevida aumentou muito.

Magic Johnson foi um astro da NBA, liga profissional do basquete americano. Contraiu AIDS e teve a coragem de assumir isso publicamente. Sabia que era um ídolo de muita gente. Poderia ter se escondido. Mas preferiu anunciar seu estado de saúde numa entrevista coletiva, como uma forma de alertar outras pessoas de que a doença é grave e que não poupa ninguém. Nem o medalhista olímpíco do primeiro Dream Team. Barcelona, 1992.

Magic Johnson ainda tentou voltar a jogar basquete e foi bem aceito pelos outros jogadores. Mas num lance normal se machucou e se cortou. Seu sangue apareceu. Viu nos olhos dos outros jogadores um pânico mal dissimulado. Decidiu ali que pararia de jogar basquete porque não tinha o direito de amedrontar outras pessoas com um problema que era dele. Largou o basquete e disse exatamente isso, sem dramas.

Um colega de escola do palpiteiro é soropositivo. Ou foi, pois o palpiteiro não sabe se ainda está vivo. Contaminou-se com o uso de drogas injetáveis, como tantos outros no mundo. Ficou triste, quis se matar. Mas decidiu mudar. Largou a vida do vício e deu a sorte de ter o coquetel disponível. Disse uma vez que não era fácil. Trata-se de uma combinação de remédios que deve ser tomada em horários específicos, cada um a seu tempo. Se não for assim o vírus reage, a imunidade do corpo cai e a morte se aproxima.

O palpiteiro já conversou com outros soropositivos, termo usado para as pessoas que portam o vírus mas que ainda não desenvolveram a doença. São também chamados de "assintomáticos", pois não apresentam os sintomas da doença. Adultos e crianças entre essas pessoas. Há alguns orfanatos espalhados pelo Brasil com crianças soropositivas que perderam os pais em razão da doença. Só mesmo vendo um orfanato desses para se descobrir o que é abandono, solidariedade, vontade de viver e esperança. Tudo numa mesma pessoa e num mesmo lugar. A AIDS não é uma doença qualquer.

Quando cursava geografia na USP o palpiteiro tinha um professor que a despeito de ser muito bem preparado era muito arrogante. O cara era insuportável. Mas um dia ele surpreendeu todos os alunos. Era 01 de Dezembro e ele resolveu falar sobre a AIDS. Disse que tinha pessoas queridas que tinham contraído a doença e que a morte de uma delas em especial o comoveu demais. Prometeu a si mesmo que sempre tocaria nesse assunto, para que outras pessoas soubessem da gravidade da doença.

O palpiteiro até hoje não suporta o tal professor arrogante. Mas reconhece que a atitude foi nobre. Falar sobre AIDs é ainda importante. Novos tratamentos deram melhor qualidade de vida às pessoas, mas não a cura. Muita gente ainda se contamina por falta de informação e conscientização. Gente que ainda crê na conversa de que "isso não vai acontecer comigo". Pois é, pode acontecer.

Todos nós temos essa obrigação, a de lembrar que é uma doença grave e que ainda necessita de maiores esclarecimentos.

Informação e memória ainda são os maiores instrumentos para a prevenção de uma doença que não tem cura.