Saturday, June 27, 2009

Gripe

Melhor do que interpretações, é ir direto à fonte.

O palpiteiro acessou o sítio da Organização Mundial da Saúde e encontrou esse mapa com a evolução do número de casos de gripe suína, ou gripe A, como querem alguns.

Vale a pena conferir. Trabalho bem feito com mapa bonito e interativo.



Se for o caso, mais um palpite sobre a doença.

A Morte de Michael Jackson e a crise dos EUA

O palpiteiro nunca admirou Michael Jackson, mesmo tendo dançado algumas músicas melosas da fase Jackson Five dele, na década de 1980. Era comum na época. E valia mais a companhia do que a música. Íamos aos bailinhos e a música de Michael Jackson era tão importante para a maioria das pessoas quanto aquela que toca nos elevadores ou na sala de espera dos médicos e dentistas. Havia quem gostasse muito. E eram essas pessoas que compravam os discos dele.

Com a morte dele, os urubus de plantão tentam arrumar uma forma de promoção de suas palavras, na onda do cadáver. Vale tudo, até mesmo comparar Jackson aos Beatles ou a Elvis Presley. Tem gente querendo que pegue a expressão "o rei do Pop".

Mas o que é a música Pop?

É um fenômeno da indústria americana. Antigamente se fazia música para execução ao vivo apenas. O Blues, Jazz, Country, a música clássica européia, o Samba e a música caipira brasileira nasceram socialmente. Alguns tocavam e outros ouviam, cantavam e dançavam juntos.

O século XX mudou nossa relação com a música. Rádios, discos e, mais tarde, a TV, tornaram possível levar uma mesma música a milhões de pessoas. Em diversos países. E a indústria dos EUA viu que poderia ganhar muita grana com isso.

Na era do fordismo, nada mais natural do que massificar a música. A massificação é lucrativa. Gravar apenas um disco de um único artista e vender aos milhões é mais barato do que dar espaço a vários artistas de diferentes estilos e culturas. Assim nasceu a música Pop, para vender. O segredo é pegar um músico ou intérprete com talento, carisma e de preferência bonito. Hoje ter beleza e carisma tornou-se até mais importante do que o talento.

Em Detroit, Michigan, nasceu uma gravadora chamada Motor Town Records. Mais tarde tornou-se a Motown, uma abreviação do nome original.

Foi justamente a Motown que popularizou artistas negros antes relegados a seus grupos específicos. Pois até a década de 1950 havia muito racismo nos EUA a segregar a música de brancos da música de negros. A força criativa e ritmica dos negros americanos, combinada com uma postura profissional mais adequada mudou essa história. Gradativamente deixou de ser feio um branco ouvir música de negro.

Mas a indústria da música percebeu que a criação de mitos impulsionava ainda mais as vendas. Foi assim com Elvis Presley na década de 1950 e com os Beatles na década de 1960. Por isso todas as gravadoras buscavam os mitos que renderiam rios de dinheiro. Uma relação de idolatria é conveniente. Pois o consumidor já não compra mais o disco pela música, mas por fidelidade espiritual ao que idolatra. Ter todos os discos de Michael Jackson ou de qualquer outro cantor tornou-se questão de afirmação de grupo.

A música Pop cumpriu bem o seu papel até a década de 1980, não por acaso, o auge da carreira de Michael Jackson. Artistas vendiam mais do que discos. Roupas, automóveis, sapatos, jaquetas e até luvas brancas. Tudo relacionado ao cantor Pop podia ser negociado. Michael Jackson não era o único a explorar esse mercado. Era apenas o mais bem sucedido.

Mas o mundo mudou lentamente. Na década de 1970, americanos de Los Angeles, Nova Iorque e ingleses de Londres perceberam que a música tinha alcançado um nível de prostituição muito alto. Grandes concertos, efeitos especiais e o tratamento quase religioso dado alguns cantores e bandas começaram incomadar muita gente. E foi na Inglaterra que a coisa explodiu. Um oportunista chamado Malcon McLaren percebeu que havia desemprego, falta de perpspectiva social e insatisfação entre os jovens ingleses. Andou por NY e teve contato com uma banda escrachada mas de mensagem forte chamada Ramones. Quando voltou a Inglaterra descobriu que podia ganhar uma grana com a rebeldia.

Mc Laren criou os "Sex Pistols" utilizando alguns princípios da música Pop. Jovens com algum carisma, liderança, autenticidade. E com uma postura que empolgava. Musicalmente péssimos. Mas com uma mensagem de anarquia e liberdade que foi uma novidade. O Punk explodiu na Inglaterra com essa bandeira "sem deuses, nem mestres" e com o princípio do "faça você mesmo". Nada de idolatrar mitos musicais. Se você quiser, faça a sua própria música ou arte. Foram os Sex Pistols que usaram pela primeria vez na BBC a expressão FUCK, hororizando a sociedade londrina.

Deu certo o negócio, não a banda. Os Sex Pistols duraram menos de 3 anos. Mas a idéia pegou. Rebeldia e descaso com o que os outros iriam pensar deream lucro. E impulsionaram mais vendas de discos.

Pelo lado dos EUA muitas cosias já tinham mudado. Detroit já estava ameaçada pela indústira japonesa, coreana e européia. Fábricas fecharam, empregos sumiram e os EUA foram perdendo a capacidade de trazer novos rítimos e tendências musicais. A indústria fonográfica insistiu o quanto pode na música Pop, mas estava próxima do esgotamento.

O golpe fatal na música Pop veio nos anos 2000. Criar mitos ficou difícil com o avanço das novas tecnologias. Não adiantava mais fingir que Michael Jackson era um deus. Uma câmera digital aqui, um blog malicioso acolá, algum imagem no Youtube e o estrago já estava feito: tratava-se mesmo de um ser humano. Talvez um dos mais esquisitos, mas ainda humano.

As facilidades de obtenção de música por MP3, Ipod, Cds e DVDs piratas fizeram as vendas de discos despencarem. O mercado de música foi pulverizado. Michael Jackson vendeu cerca de 750 milhões de cópias de discos. Quando? Faça essa pergunta. Quantas cópias vendia dias antes de sua morte?

A cada menção de Jackson como o "rei do Pop" fica evidente o canto do cisne. O ato final de uma indústria musical que se não morreu, ao menos teve que mudar. Pois quem, no mundo hoje, consegue vender mais de 1 milhão de cópias de CD? Quem você conhece hoje que lhe tenha dito que comprou na semana passada um novo CD?

Curioso momento esse. Uma crise financeira que coloca os EUA na defensiva e a morte de um dos seus maiores símbolos de vendas.

Michael Jackson foi um produto que tem agora a sua data de validade quase vencida, pois está vendendo discos como hámuito não o fazia. Mas as pessoas logo o esquecerão. Já não atende mais as necessidades da economia atual.

Um dos grandes trunfos da Pepsi para tomar mercado da Coca Cola na década de 1980 foi justamente a escolha de Michael Jackson como garoto propaganda.

Hoje falamos de menos refrigerantes, combate a obesidade e a busca por uma vida mais saudável.

O palpiteiro lamenta a morte de Michael Jackson como lamenta a morte de qualquer ser humano. Inclusive aqueles que nesse momento são esquecidos, como as vítimas mais pobres da gripe suína. Mas não deixa de ser interessante assistir o funeral de Michael Jackson como o prenúncio de uma era que está chegando ao seu fim. Talvez mais tarde, talvez mais cedo, mas quem está em coma mesmo é a indústria da música Pop...