Tuesday, August 31, 2010

A seleção de basquete perdeu para os EUA ontem. Mas o Carlão ficou feliz, certamente.

Em 1982 a Escola Estadual de 1o e 2o graus Cândido Gonçalves Gomide tinha um dos melhores times de basquete da cidade de SP. O técnico era na verdade um professor conhecido como "Carlão".

Carlão era e é um professor que gosta de basquete e que sempre acreditou no esporte. O time que ele formou disputou um campeonato difícil e foi campeão da capital em 1982. Faltava o estadual, mas o ano era de eleição e o governo Maluf cortou verbas para ações mais importantes. Resumo: o Gomide foi para as semi-finais mas não pode disputá-las.

O palpiteiro decidiu ir para o Gomide por isso. Queria jogar basquete num país onde o futebol era o esporte mais praticado. Jogar com as mãos no país da bola no pé. Ser do contra afinal é mais do que uma opção racional...

No Gomide o palpiteiro não apenas aprendeu a jogar basquete como também o respeito a um professor que se dedicava ao que fazia. Carlão era e é o cara.

Havia uma escola particular em Pirituba, bairro do Gomide, na qual o Carlão dava aula e treinava o time de basquete também. Clandestinamente ele trazia as bolas do colégio particular para nós, da escola pública, treinarmos. Era errado. Era importante. Era justo.

Carlão conseguiu mais do que ensinar esporte. Ensinou o respeito ao estudo e à dedicação. Palavrões eram punidos com 10 flexões de braço e uma cuspida no chão era suficiente para expulsão da quadra. Carlão era linha dura num tempo em que generais eram presidentes. Mas tinha legitimidade e reconhecimento. Tinha autoridade sem violência. Carlão liderava, não mandava.

Uma geração de jogadores amadores de basquete foi formada em Pirituba graças a um único professor. Outros também contribuíram, mas era Carlão quem tinha o maior número de seguidores.

Muitos alunos cresceram, casaram e seguiram suas vidas, mas nunca deixaram de se lembrar do trabalho do Carlão.


Um deles se chamava Arthur. O palpiteiro o conheceu quando era sargento do 4o Batalhão de Infantaria e Blindados de Quataúna, em Osasco. Aquele mesmo batalhão no qual o capitão Carlos Lamarca fiugiu com um montão de fuzis que foram usados da guerrilha urbana durante a ditadura. Arthur não era guerrilheiro, mas tinha um porte que dava medo em qualquer um. Nem tinha muita habilidade, mas ganhava na força. Era antes de tudo um cara leal e muito educado. Era um ex-aluno do Carlão, enfim.


Arthur gostava de basquete e tinha um sobrinho que também pegou gosto pelo esporte. O nome do moleque era Leandro.


Pelo amor ao basquete e pela aposta em Leandro, Arthur incentivou o garoto a jogar. Carlão foi o professor.


Leandro cresceu, aprendeu e apesar de ficar muito alto continuou a ser "Leandrinho". O palpiteiro não jogou com Leandrinho em Pirituba. Mas há uma razoável probabilidade de ter esbarrado com ele em algum momento no Parque Rodrigo de Gáspari. O parque da Lagoa, para os mais antigos.


Leandrinho disparou pelo seu talento. Foi jogar no Phoenex Suns. Virou estrela, mas nunca se esqueceu de sua origem.

Dizem que até hoje dá uma força no bairro onde Carlão toca um projeto para outros meninos jogarem basquete.


Leandrinho jogou pela seleção brasileira contra os EUA ontem, pelo campeonato mundial, disputado na Turquia.. O Brasil perdeu por 70 a 68. Apenas 2 pontos.

Chegamos perto.


Leandrinho foi longe. Na NBA virou "Barbosa".

Carlão deve estar radiante, pois seu trabalho dá resultados até hoje, mais de 20 anos depois.


O Brasil perdeu. Leandrinho, Arthur e Carlão ganharam.

E o palpiteiro tem um orgulho danado de ter sido vizinho dessa gente...