Sunday, September 13, 2009

11 de Setembro. 11/09/2001. 09/11

Uma pobre alma, daquelas que se informam pela Veja, assistem novela da Globo e acreditam no Arnaldo Jabour, disse ao palpiteiro que na sexta-feira, 11/09, orou pelas vítimas dos atentados às torres gêmeas, ocorridos em NY em 2001.

Nada contra a solidariedade sentida, de fato ou por indução da TV. Solidariedade não se critica.

Mas a confissão da pobre alma intrigou. Processando a informação o palpiteiro formulou perguntas. Será que a pobre alma dedicou algum segundo de oração pelas vítimas da Bomba de Hiroshima?

Tudo bem, dizer que os EUA foram desumanos em diversas guerras e que as bombas nucleares lançadas sobre o Japão foram crueldade não é a mesma coisa do que dizer "bem feito pelo 11/ de setembro".

Se sentimos a morte de uma família japonesa em 1945 e o fazemos por sentimentos humanitários, nada mais coerente do que lamentar a perda da vida de um novaiorquino no 11 de setembro.

Uma coisa é ser contrário as políticas de Estado dos EUA. Outra coisa é odiar seu povo.

Uma morte violenta deve sempre ser lamentada. E as lágrimas derramdas devem servir como compromisso para que algo semelhante não mais ocorra.

Mas usar sentimentos e lágrimas para ter audiência é odioso.

Como também é ridículo sentir mais a perda da vida de um estadunidense do que a de um palestino, israelense, favelado, sem-terra, checheno ou japonês.

A vida não tem hierarquia. Não possui ordem de importância.

Mas o palpiteiro se questionou: por que lembrar das vidas perdidas diante das imagens e apelações do 11 de setembro?

Ah, sim, essa foi uma das formas de entender os ataques às torres gêmeas. E nessa linha de pensamento, Michael Moore fez um videoclipe para seu premiado documentário "Tiros em Columbine".

O vídeo está no youtube e seu link aqui embaixo, com legendas em espanhol.

Quanto à pobre alma, lamentemos.

Saturday, September 05, 2009

Para o 01 de Setembro e nossas escolhas

No fluxo diário e muitas vezes insano de informações passou como algo desimportante a data do primeiro de setembro para muita gente. Enquanto alguns comemoravam a data de nascimento do Corinthians e outros a lamentavam, um número talvez maior de pessoas pelo Brasil teve a sua atenção despertada mais para os confrontos entre a PM de SP e os moradores da favela de Heliópolis.

Mas o primeiro de setembro foi lembrado na Europa com o encontro tradicional de vários líderes europeus. A presença da Alemanha e da Rússia tornou as opiniões mais acaloradas. Os alemães incansavelmente tomam atitudes para deixarem claro que o Nazismo foi um grande erro histórico do qual não negam responsabilidade e nem o compromisso de não repetí-lo.

Mas as cerimônias para a lembrança desse fato ocorrem por uma única razão: não esquecer para não repetir. E entre tantos atos desumanos e abusos de Estado, uma lição que a II Guerra Mundial deu à humanidade foi a de que somos responsáveis por nossas escolhas.

O povo alemão escolheu o Nazismo. Hitler foi bem votado e a elite política do país o aceitou. Culpar Hitler por tudo é pouco. A grande questão é: por que os políticos que poderiam detê-lo não o fizeram? Por que os militares alemães, bem treinados, preparados e com longa experiência em guerras aceitaram obedecê-lo? A resposta é simples: eles aceitaram.

Mas se Itália, Alemanha e Japão escolheram o imperialismo, o discurso dos aliados foi o da repulsa. Haverá sempre uma longa lista de razões para entendermos a entrada dos EUA e da URSS no conflito. Mas uma delas é concreta e inquestionável. Muita gente nos EUA e na URSS deram a vida na luta contra aquilo que julgaram o pior para a humanidade, que era justamente a expansão do nazifascismo. Autoridades dos EUA e Rússia hoje se apresentam no papel daqueles que fizeram a escolha certa.

Desde o final da II Guerra Mundial a questão da escolha tornou-se um tema relevante. Seja lá quais forem nossas opções políticas, ideológicas, religiosas, cargos políticos, profissões, famílias e sociedades, todos temos certas obrigações e limites. E desde então as pessoas que lutam pelo que acreditam ser o melhor para o mundo entendem que existem certas práticas que jamais se justificam. Há crimes contra uma pessoa ou contra um povo que podem ser classificados como crimes contra a humanidade. Tortura, prisões em campos de concentração e assassinatos em massa são alguns deles.

A questão das escolhas ultrapassou os limites da política. Tornou-se também uma discussão moral, necessária. J.K. Rowling, autora de Harry Potter, deixa isso claro nos livros que tanto agradaram o mundo. Os bruxos não nascem maus, mas fazem suas escolhas. Num dos filmes, Dumbledore, o mestre de Harry diz: "...tempos difíceis se aproximam, e devemos começar a escolher entre o que é certo e o que é mais fácil...".

A senhora Rowling é inglesa e nada burra. Sabe muito bem o que escreve e para quem escreve. Sabendo que atingiria tantas crianças, jovens e adultos, sentiu-se responsável e na obrigação de transmitir valores saudáveis. Rowlling é formada em letras clássicas por Oxford e faz parte da geração de ingleses que ouviram de seus pais, avós e professores o que foi a II Guerra Mundial para os ingleses. Para ela a II Guerra Mundial não foi apenas um fato histórico, mas um episódio que tirou vidas, separou famílias e provocou muita dor. Rowilng escolheu defender idéias humanistas. Ninguém a obrigou a isso. Simplesmente escolheu.

As escolhas que fazemos são perigosas, pois nunca optamos por aquelas que gostaríamos de ter elegido como possíveis. Na maior parte dos casos a vida nos coloca diante de circunstâncias nas quais não temos muito tempo para maiores reflexões. Arriscamos um lado sabendo que podemos ter feito a pior escolha e de que, em muitos casos, a opção foi irreversível. Assim fazemos com nossas profissões, amizades, passeios, religião e companhias. Podemos nos arrepender. Às vezes, amargamente. Àsvezes nos orgulhamos. Outras vezes morremos na dúvida.

Os professores fazem suas opções sobre seu estilo, formas de abordagens e conteúdos. Haverá sempre algo a dar maior destaque. Assim como algo a ser descartado. Os professores também podem ou devem ser julgados pelas opções que fizeram.

Jornalistas também. Ingressar numa empresa é se colocar entre aquilo que é importante para uma carreira e aquilo que é compatível com a consciência. Haverá situações nas quais contrariar princípios será inevitável. Isso também vale para jornalistas, policiais, professores e médicos.

No dia 01 de setembro de 2009 parte da população de Heliópolis se rebelou. Uma jovem mãe de 17 anos foi assassinada por policias da Guarda Civil de São Caetano do Sul.

Um dos guardas muncipais já havia sido expluso da PM de SP. Mas a prefeitura de São Caetano do Sul o contratou mesmo assim.

Os guardas perseguiam um carro roubado, segundo sua versão. Poderiam ter escolhido entre evitar riscos à população da favela ou atirar para matar um suspeito. Escolheram atirar e colocar em risco a vida de outras pessoas. Uma inocente morreu com um tiro no pescoço.

A população da favela poderia ter escolhido o silêncio e a passividade. Sabiam que eram vítimas históricas do preconceito, descaso e dos abusos de autoridade. Sabiam que a PM de São Paulo não gosta de pobre, negro e nordestino. Podiam ter ficado em suas casas, assistindo o Jornal Nacional. Ou então poderiam ir para um bar, reclamar do governo e da PM, tomando pinga e sem atitude prática alguma. Mas escolheram outro caminho. Muita gente ficou indignada. Para tudo deve haver um limite. E o medo da PM, assim como a passvidade involutária acabaram cedendo lugar à revolta. Espontânea, errática, aleatória. Mas nem por isso menos intensa e determinada. Algo deveria ser feito. Aquele cirme estúpido não poderia ter ocorrido. E outros não deverão ocorrer. Depredação, incêndio e um sentimento implícito: basta.

A PM de São Paulo não teve escolha. Manifestações daquelas devem mesmo ser contidas. Mas como uma polícia reconhecidamente violenta com aquelas pessoas iriam negociar? A relação de conflito e repressão é antiga. Não era hora de vacilar. E a PM escolheu a repressão, mais uma vez.

Uma ação da PM desse porte e nessas circunstâncias nunca é decidida de forma isolada. Um comandante avalia a situação, ouve seus subordinados e toma a decisão: reprimir. Mas um comandante da PM nunca é alguém idiota. Sabe que suas decisões poderão ter consequências graves. Talvez mais mortes. E por isso os comandantes da PM consultam a secretaria de Segurança Pública.

O secretário de Segurança dá a palavra final. É forçado tanto pelas circunstâncias quanto pela ferocidade de comandantes que às vezes gostam do papel de repressores. O secretário poderia questionar, afastar policiais que julgasse abusivos em suas decisões. Mas escolheu aceitar a independência da PM de SP. Aquela que dá as cartas, faz o cheque e manda que os civis, covardes, assinem. A repressão em Herliópolis foi também uma escolha da Secretaria de Segurança Públcia de SP. Do jeito que ela ocorreu.

A Globo teve várias opções de escolha. Poderia ter entrevistado os moradores e ouvido os policiais. Poderia fazer um trabalho de jornalismo investigativo. De quem era o carro roubado? Era mesmo roubado? Quem eram os policiais municipais na operação? Teriam a ficha limpa? Seriam suspeitos de outros abusos?

Mas a Globo escolheu a versão da PM. Preferiu noticiar os conflitos sob o ponto de vista de quem se senta no banco de trás da viatura da polícia. À distância e sempre ouvindo um lado só do problema.

A Globo recebeu um bilhetinho idiota, mal escrito e com toda a evidência de ter sido forjado. Poderia ter questionado e até divulgado o nome ou o cargo de quem lhe entregou o bilhetinho falso. Um bilhete que conclamava a população a se rebelar em troca de cestas-básicas. Algo como: "...enfrente a PM, arrisque tomar um tiro na cara ou borrachada nas costas. Faça isso e lhe daremos uma cesta-básica..."

A Globo revelou que para ela as pessoas pobres não são capazes de agirem sozinhas. Precisam de alguém a lhe dar ordens. Pensa assim porque age assim. Para ela, o que ela noticia é verdade, para todos.

A Globo escolheu divulgar a versão mais inverossímel. Mas foi a sua escolha.

Mas quem é a Globo? Apenas uma emissora de Televisão. A maior rede privada de notícias do Brasil.

Sim, Hilter também era o maior líder que a Alemanha já havia colocado no Poder até então.


Hitler, os alemães, seus soldados, a Globo e seus jornalistas fizeram suas escolhas.

A história da Alemanha e de Hitler conhecemos. A da Globo estamos testemunhando.



Para as fantasias do Jornal Nacional:


Para a cerimônia dos 70 anos do início da II Guerra Mundial:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/09/090901_polonia_guerra_tp.shtml