Monday, July 15, 2013

Fora do ar

Por razões humanitárias este espaço ficará sem postagens até o próximo dia 24/07. 

O palpiteiro estará em algum lugar do Atlântico Sul. 

Caso queira saber mais do que isso, tente com esse pessoal:


CIA: 
 By postal mail:
Central Intelligence Agency

Office of Public Affairs

Washington, D.C. 20505


By phone:

(703) 482-0623

Open during normal business hours.


By fax:

(571) 204-3800



Ou...

NSA


National Security Agency

Attn: NCSC Capability Program

9800 Savage Road, Suite 6940

Fort Meade, MD 20755-6940

Sunday, July 07, 2013

Seria Snowden um heroi?

Em tempos de informação rápida, dispersa e superficial, herois e bandidos são construídos e desconstruídos com requintes de vulgaridade. O velho Mandela é o exemplo do momento. Ele foi condenado por terrorismo pelo regime    racista do Apartheid na África do Sul. E considerado pela CIA como elemento perigoso e potencialmente comunista, razão do apoio dos EUA ao governo racista sul-africano. Mandela defendeu ações terroristas contra o governo do seu país na década de 1960. Décadas depois, constatou-se que os planos de Mandela estavam num contexto de um regime autoritário e desumano, razão pela qual as explosões planejadas por seu grupo deveriam ser consideradas como atos de resistência legítima, a exemplo da resistência francesa contra os nazistas. Mandela foi solto por pressões internas e externas. Ganhou um prêmio Nobel da Paz e, hoje, no leito de morte, é considerado um dos maiores líderes do século XX. Ele teve uma vida pessoal nada tranquila. Contra ele, pesa uma acusação de agressão a sua primeira mulher, ainda antes de ser preso na década de 1960. Sob essa ótica, quem é Mandela? Líder pacifista, libertário, terrorista ou agressor de mulher? Quem leu a autobiografia do velho deve se lembrar da frase que nos ajuda a entende-lo: “não sou santo”.
A mídia estrangeira e sua subsidiária tosca no Brasil vivem a construir herois e bandidos. Curioso é notar que o heroi de hoje pode ser o bandido de amanhã, e vice-versa. Mas será que as pessoas mudam tanto assim? Ou mudam os juízos e rótulos que se constroem sobre elas?
Um palpiteiro notou que um candidato a herói/bandido não tem recebido a atenção devida, em que pese o conteúdo explosivo de sua importância. Edward Snowden é o típico caso misterioso, do qual ainda não tivemos a exata dimensão da sua importância.

Snowden é um nerd que não tem curso superior. Seu talento para sistemas de informação poderia ser comparado a Marc Zuckerberg do Facebook, Bill Gates, da Microsoft, ou Steve Jobs, da Apple. A diferença é que Snowden não ficou rico. Mas convenhamos, azucrinar a Casa Branca, irritar FBI, CIA e outros 13 serviços de inteligência dos EUA e, ainda por cima, indispor as relações dos EUA com dezenas de países, em menos de duas semanas, não é um feito a ser desprezado. Os outros nerds adorados pela mídia fizeram fortuna. Snowden está prestes a fazer história.

O nerd em questão trabalhou na CIA, na Suíça. Para quem não sabe, as contas secretas de paraísos fiscais como a Suíça atendem a mais do que corruptos, sonegadores fiscais, terroristas, traficantes e outros criminosos. Governos usam contas secretas para encobrir ações de seus espiões, em serviço pelo mundo afora. Quanto maior o poder econômico e ou político de uma potência, maior é a necessidade dessas contas secretas em outros países. Se levarmos isso em conta, dá para ter uma leve ideia do quanto Snowden viu e sabe.

As informações disponíveis até agora indicam que o nerd amargurou muita coisa pelo que viu e testemunhou. Em 2008, em final de governo Bush, Guerra do Iraque e campanha eleitoral, Snowden apostou que as coisas poderiam melhorar com a vitória de Obama. Não melhoraram.

O rapaz então tomou a decisão que causa confusão em meio mundo- e isso não é força de expressão. Vivia com sua namorada no Havaí até poucas semanas atrás. Decidiu voar para Hong Kong e denunciar o departamento de Estado dos EUA de lá, da China. O governo dos EUA pediu sua prisão. A China não tem acordo de extradição com os EUA e liberou o rapaz. Interessante notar que a China, acusada de prisões arbitrárias pelos americanos, não ter prendido Snowden em seu território. Gente maldosa e dada a palpites aposta num eventual acordo entre o governo chinês e Snowden: você denuncia os Ianques a partir de nosso território e damos as condições para que saia antes de sermos forçados a prendê-lo. A China não dá ponto sem nó. EUA, Rússia, Europa e América Latina em discussão por conta de Snowden e os chineses assistindo a tudo, de camarote...

Mas afinal, o que Snowden denunciou? Segundo ele, a Agência de Segurança Nacional dos EUA tem condições de monitorar e grampear qualquer computador conectado na internet. Sistemas sofisticados permitem a quebra de sigilo com a manipulação dos dados da Microsoft, Facebook, twitter, Skype e, quem sabe, até naquela página moribunda que você guarda no pré-histórico Orkut.

De acordo com o nerd dedo-duro, os EUA monitoram a União Europeia e várias autoridades dos países do continente. Há informações de que tenham fuçado a vida de autoridades e empresários no Brasil. E, se perguntar não ofende, a questão torna-se tão óbvia quanto abjeta: se os EUA agem assim com amigos, o que não estariam fazendo com inimigos? Ou antigos rivais, como Rússia e a China?

Snowden voou da China para a Rússia, numa área internacional do aeroporto de Moscou. Tecnicamente não está na Rússia. Os EUA pediram à Rússia que o prendesse. Mas o país também não tem acordo de extradição com os EUA. Danadinho esse nerd...

Apesar do escândalo provocado pelas atitudes nada legais- em duplo e pobre sentido- dos EUA, Snowden é um criminoso. Ninguém pode revelar segredos de Estado para o mundo. Isso é tão criminoso nos EUA, quanto no Brasil ou na Tailândia. Mas Snowden e muitas outras pessoas acreditam que não se trata de um crime. Trata-se do descumprimento das leis de um país que descumpriu leis, acordos e bons modos com meio mundo. Para o governo dos EUA, Snowden é nada menos do que um traidor de alto calibre. Para outros mundo afora, é um heroi que lutou pelo direito à verdade.

Na semana passada houve mais um episódio interessante nessa história toda. O presidente da Bolívia, Evo Morales, estava em Moscou, num encontro de chefes de Estados produtores de gás natural. O avião de Morales tem baixa autonomia de voo e precisa ser reabastecido com regularidade para viagens longas. No caminho de volta, Portugal, Espanha e França negaram o necessário pouso para o avião de Morales. Coube à Áustria conceder o direito INTERNACIONAL de um avião presidencial fazer uma parada para reabastecimento. Segundo Morales, os austríacos revistaram seu avião, à procura de Snowden. Não o encontraram. Mas provocaram um incidente internacional sem precedentes na história recente. A atitude dos austríacos é antes de tudo uma agressão, condenada pelos protocolos diplomáticos internacionais. Morales protestou, e teve a solidariedade de outros presidentes latino-americanos, o Brasil inclusive.

Mas cá entre nós, gente maldosa aposta que os russos e os bolivianos deram um passa-moleque nos EUA e nos seus paus-mandados europeus. Não precisa ser um gênio especialista em espionagem para imaginar que há a presença da CIA em Moscou. Assoprar nos ouvidos dos espiões da CIA na Rússia, sugerindo que Snowden estivesse no avião de Morales, não é algo lá tão difícil de fazer. Sobretudo para os russo, velhos conhecidos da CIA... Dada a gana dos EUA para prender Snowden e, a histórica relação hostil do presidente Morales aos EUA, nada mais lógico. Tudo faria muito sentido, caso Snowden estivesse realmente no tal avião. O saldo foi catastrófico para muita gente. Para os europeus que barraram Morales, ficaram o peso de cometerem uma ilegalidade e o constrangimento de terem agido errado sob ordens de Washington. Ou seja, saíram na foto como paus-mandados de Obama. Para os EUA, ficou pior. Seu serviço de inteligência e espionagem pode até ser sofisticado e intrometido, mas, neste caso, provou ser incompetente a ponto de não saber com precisão onde de fato estava Snowden...

A novela prossegue. A Venezuela está disposta a dar asilo político a Snowden. O problema é como deslocar o moço de Moscou a Caracas, num voo que exigiria pouso para reabastecimento. Uma pergunta é mais do que provocativa: onde?
Sabe-se lá o que acontecerá com Snowden e com as relações 

dos EUA com o mundo. Espionar a União Europeia,  indispor-se com a China, se atritar com o governo russo e ofender a América Latina não é pouca coisa para menos de 15 dias. O tempo se encarregará do destino de Snowden que, a despeito de ser inteligente e ousado, precisa de aliados poderosos e, quem sabe, alguma sorte. Não erra quem disser que, hoje, Snowden é prioridade número 1 dos EUA, comparável ao que foi Bin Laden há pouco tempo.

Mas a história, como a Geni, tem lá o seus caprichos. Até o momento, Snowden provou que é bom de xadrez. Joga com muita inteligência e uma ousadia capaz de fazer qualquer 007 de idiota.


Mas então, Snowden será Heroi ou bandido? Talvez daqui a algumas décadas tenhamos um julgamento mais sereno. Hoje, não deixa de ser empolgante assistir a mais uma página da história sendo escrita. E interpretada das maneiras mais diversas.