Saturday, April 21, 2012

Um sábado modernista

Sábado de outono na cidade de São Paulo. Temperatura agradável, com céu encoberto e uma garoa que ameaça ficar e não fica. 

No Memorial da América Latina os prédios cheios de curvas. Edifícios com espelhos d'água. E claro, o concreto armado da arquitetura modernista de Niemeyer. 

Em exposição, os paineis "Guerra e Paz", de Cândido Portinari. Imagens universais que retratam a alegria e a dor. Contrastes entre cores e temas dentro do mesmo estilo. Muitos triângulos. Sugeridos e sorrateiros. Um vídeo com imagens de esboços comenta, de maneira suave, algumas das ideias da obra. 

Ao fundo, um poema de Carlos Drumond de Andrade, outro modernista. 

Na sequência das imagens que compõem o painel da "Paz", a música é infantil e de domínio público, segundo o arranjo de Villa-Lobos. 

O palpiteiro teve assim um sábado modernista. Niemeyer, Portinari, Drumond, Villa-Lobos. E, não muito longe do Memorial da América Latina, um lanche no Ponto Chic, o mesmo bar e restaurante que outrora abrigava a vanguarda modernista da década de 1920, ainda no Largo do Paissandu.

O Brasil foi muito mais interessante quando acreditava que podia ser grandioso se fosse moderno. E moderno pressupunha ser avançado sem deixar de ser brasileiro. 


Os paineis "Guerra e Paz" evidenciam isso. Emocionam com cenas simples de áreas rurais brasileiras. Portinari conseguiu isso: ser universal sem deixar de ser brasileiro. 

Em tempos que uma gente afetada que acredita ser importante conhecer vinícolas francesas e out-lets da Flórida, Portinari retorna em boa hora. 

O Brasil sempre acertou quando ousou ser moderno sem deixar de ser Brasil. Instituto Butantan, USP, Petrobrás, Embraer. Tudo isso derivou desse sonho modernista. 


No ano em que lembramos dos 90 anos da Semana de Arte Moderna, nada mais apropriado em procurar saber o lugar e o momento em que perdemos o trem da história. 

Sei não. Se insistirmos um pouquinho mais, achamos o caminho de justo. De novo.