Monday, March 17, 2008

Trânsito: vai piorar para melhorar

Foi preciso que milhares de ingleses morressem de doenças para que Londres tivesse um sistema de esgoto.
Foi preciso que muitos europeus se matassem para que a Europa e, em especial a Alemanha, percebesse a importância dos Direitos Humanos.
Foi preciso que muitos automóveis se chocassem e que muitas pessoas morressem para que nos EUA inventassem leis e regras de trânsito.
Foi preciso que um incêndio de terríveis proporções em São Paulo, o Joelma, acontecesse para que o corpo de bombeiros fosse melhor equipado e que leis municipais se tornassem mais rigorosas quanto à segurança.
Quanto será preciso para que o trânsito de São Paulo piore para que possamos aprender que investir no transporte individual é um suicídio urbano?
Quanta fumaça tóxica deveremos aspirar até descobrirmos que o culto ao automóvel é algo que nos tem feito mal?
Quanto tempo ainda ficaremos parados no trânsito até percebermos que soluções superficiais como vistoria nos automóveis e pedágios urbanos mascaram o problema, sem alterar o problema maior: o grande número de carros?
Quantos túneis e pontes construiremos até aprendermos que quanto mais se investe na fluidez do trânsito, mais carros serão vendidos, por pura falta de alternativa de transporte coletivo dos cidadãos?
Quantos prédios e shopings serão construídos em áreas inadequadas, com ruas estreitas e já saturadas, até descobrirmos que as construções precisam ser planejadas, fiscalizadas e orientadas?
Quanto tempo ainda levará para descobrirmos que uma cidade administrada para o ganho de poucos irá prejudicar a vida diária de muitos?
Quanto tempo?
Boa notícia: a piora das condições levará indubitavelmente à busca por melhorias sérias e mais justas para todos.
Má notícia: ainda não piorou o bastante...