Thursday, August 28, 2008

Palpite de encomenda: energia nuclear

O Ricardo pediu um palpite sobre energia nuclear e como o assunto é de grande interesse do palpiteiro, aí vai.
A energia nuclear é cercada de mitos, medos, preconceitos e exageros. Mitos porque para muitos parece a panaceia que resolverá todo o problema de escassez de energia, dado seu grande potencial de uso. Medos, devido aos riscos que acidentes ou atentados podem provocar no caso da explosão de uma usina nuclear. Chernobyl ainda serve como um grande motivo para esse medo. Preconceitos, pois para muita gente é certo que usinas foram feitas para explodirem, assim como tudo o que se relaciona à energia nuclear leva à idéia de morte e tristeza. Exageros, pois é comum a amplificação de todos os sentimentos acima descritos...
O palpiteiro já foi um grande crítico dessa fonte de energia. Principalmente quando tinha 15 anos e ainda via a possibilidade real de uma guerra nuclear entre os EUA e a então URSS. As preocupações que levavam o palpiteiro a se opor ainda existem, mas foram ponderadas com um pouco de conhecimento sobre o assunto.
É verdade que a energia nuclear envolve riscos, problemas com a deposição do lixo atômico e as tentações para o uso maligno das bombas nucleares. Mas também é verdade que a energia gerada por elas podem alimentar hospitais e escolas que salvam vidas e levam conhecimento.
O Brasil teve uma aventura nuclear que custou muito caro. Por medo de físicos "comunistas", o regime militar preferiu torrar dinheiro com a compra de tecnologia dos EUA e da Alemanha. Quando descobriu que esses países queriam era mesmo ganhar dinheiro e não repassar tecnologia de verdade, a física e a engenharia brasileira foram chamadas.
Temos uma situação inusitada. Duas usinas com tecnologias diferentes, Angra I, dos EUA e, Angra II, da Alemanha. E temos um dos processos mais originais de enriquecimento de urânio, desenvolvido por aqui, depois de muito dinheiro público ter ido pelo ralo.
O medo da bomba não se justifica mais no Brasil. Apenas gente mal informada acreditava no débil mental do Enéas, que defendia a produção de bombas atômicas. Nossa Constituição proíbe a produção dessas armas e defende o restrito uso para fins pacíficos. Qualquer presidente teria que ter dois terços dos votos do senado e da câmara para aprovar algo que não parece ser do interesse da maioria dos brasileiros. E fazer a bomba para jogar em quem? E como?
Pelo lado do fornecimento de energia elétrica, a verdade é que o país tem crescido economicamente e aumentado seus índices de urbanização. São milhões de pessoas que adquirem a primeira geladeira ou uma segunda televisão, todos os anos. É normal o consumo aumentar até mais do que o crescimento da economia pode sugerir.
Recentemente o governo anunciou a retomada de Angra III. Decisão delicada. Terminá-la significa aumentar os riscos de acidentes na região e também os problemas com a deposição do lixo nuclear. Não terminá-la significa desperdiçar milhões de dólares com a manutenção de um equipamento caro e que não pode ser vendido. Um país com tantos problemas sociais não tem o direito de jogar tanto dinheiro fora.
O palpiteiro conhece uma pessoa que foi salva com o uso da radioterapia num tratamento contra tumor. A pessoa está ótima hoje. Ela voltou a sorrir, assim como seus familiares e amigos. Mas o palpiteiro também sabe que o Brasil possui muitas formas de obter energia que não seja apenas com o uso de usinas nucleares.
Resumindo, o palpiteiro concorda com a conclusão de Angra III e com investimentos em pesquisas na área, pois entende que o Brasil não deve ficar à margem de um conhecimento tão importante para a humanidade. Não fazer isso é depender eternamente dos outros nesse setor.
Por outro lado, o palpiteiro entende que 3 usinas nucleares já estão de ótimo tamanho. Vamos utilizá-las e zelar para que não causem problemas a ninguém. E que elas possam contribuir para a formação de técnicos, cientistas e gestores que nos ajudem a buscar fontes realmente limpas, seguras e viáveis. Enquanto não chegamos lá, vamos ter que usar mesmo o que temos. Ou o que podemos ter a médio prazo.

Tuesday, August 05, 2008

Um nome para rua

Uma pessoa que quisesse conhecer algo da história de uma sociedade poderia começar prestando a atenção nos nomes dados a alguns lugares ou monumentos. São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Trindade são daqueles nomes que logo revelam a presença católica no Brasil. Saber por exemplo que em vários lugares do país existem grandes avenidas com o nome de Getúlio Vargas também nos dá uma idéia da importância que o homem teve por aqui. De outro modo, ver que em São Paulo não se dá destaque a esse presidente, mas que ostenta com destaque a Família Mesquita e uma avenida 9 de Julho, também ensina o quanto Vargas foi negado nesse estado.
A Praça de Maio na Argentina é a grande referência à independância da nação, assim como também NY homenageou Roosevelt, batizando o aeroporto com o seu nome. Nomes de pessoas, datas históricas, nomes de batalhas são escolhidos para que as gerações seguintes saibam da diferença que alguns eventos ou personalidades tiveram na sua história.
Assim, fica fácil de entender que temos em SP homenagens a generais como Castelo Branco, Costa e Silva e até uma ruazinha com o nome do torturador Sérgio Fleury, deixando claro o destaque que essas personalidades tiveram. Saber que a queda da ditadura não removeu seus nomes, é entender que a lembrança de suas existências e "ações" não incomodam a sociedade paulista hoje em dia. Também é sintomático lembrar que não possuímos muita coisa sobre Luís Carlos Prestes, Paulo Freire e Carlos Marighela na cidade, afinal, foram os inimigos do regime e não mereceram homenagens daqueles que reprimiam. Os nomes dos lugares revelam a história tanto quando destacam como quando desprezam algumas personalidades ou fatos.
Ter um aeroporto com o nome do Governador Franco Montoro é reconhecer a importância que aquele da ditadura teve na redemocratização. Saber que Luíza Erundina escolheu o nome "Direitos Humanos" para avenida na zona norte de SP é admitir que não apenas os perseguidores mereceram destaque. Por outro lado, lembrarmos que um viaduto tem o nome de "Luís Eduardo Magalhães" é lembrar que aliados da ditadura que prosseguiram na vida política com a redemocratização conseguiram de algum modo manter a visibilidade do passado. Mudança de palco e de enredo com velhos atores...
Mas algo de estranho vem ocorrendo com os nomes dos lugares, ou logradouros, como preferem a Prefeitura e o Estado de SP. De uns tempos para cá têm surgido nomes de jornalistas. João Saad da Bandeirantes no Ibirapuera. Júlio de Mesquita Neto, do Estadão, na Marginal Tietê. Roberto Marinho na Marginal Pinheiros. Otávio Frias numa ponte horrorosa no Morumbi. Algo tem motivado a troca de militares e políticos por donos de empresas de notícias.
Alguém mais ingênuo ou estúpido poderia dizer que empresas de notícias apenas relatam fatos e que não influenciam no nosso dia-a-dia. Mas quando esquecemos médicos, professores, bombeiros, policiais, operários e passamos e destacar donos de jornais, emissoras de rádio e de televisão, é sinal de que alguns valores estão mudando. Parece que ao contrário de relatar fatos, jornalistas e patrões das notícias passaram a interferir com mais intensidade a política no Brasil.
Em época de eleições municipais, muitos se lembram que alguns vereadores apenas se dedicam a a votarem nomes de ruas e praças. Isso até parece coisa pequena. Mas esmiuçando bem a escolha de alguns nomes, veremos que até o que aparenta inutilidade tem sua razão de ser.