Tuesday, December 20, 2011

Cachorro é cachorro. Ou não?

O palpiteiro sempre gostou de cachorros. E não se lembra de ter morado em casa onde não existisse um cachorro de estimação.

Mas o palpiteiro é do tempo em que cachorro de estimação era apenas um bicho para ter em casa, não um potencial substituto para relações humanas. Para humanos problemáticos, diga-se.

Os cachorros de antigamente comiam restos do almoço e tomavam banho com sabão Rio no tanque de lavar roupas. O mais comum era que ficassem acorrentados. A ideia era que “ficassem nervosos”, ou seja, bravos para serem bons protetores da casa. Registre-se aqui que na família do palpiteiro cachorro algum foi acorrentado para “ficar nervoso”. Mas também é verdade que nas casas onde isso ocorria ninguém se incomodava.

Alguma coisa mudou para melhor. Outras mudaram para pior. Restos de comida não são a dieta mais adequada para um cão. Fazem mal ao organismo do bicho e o produto final é muito mais fedorento. O uso de ração apropriada é mais prático também. Mas também é uma poderosa indústria que não se incomoda quanto aos exageros em relação à qualidade da dieta canina.

Não faz muito tempo os cachorros eram sujeitos à condição de suas vidas. Nasciam, cresciam, reproduziam-se. Adoeciam e morriam. Não havia sentido em procurar veterinário num país onde tanto o número de médicos quanto o acesso a eles eram difíceis à maioria das pessoas.

Fotografias? Se dessem sorte os totós saíam de atrevidos. Às vezes com metade do corpo. Ou só a cabeça. Ou um pedaço do rabo. Totós? Alguém conhece um cachorro hoje que seja chamado de Totó? Na crescente insanidade que se desenvolveu nas últimas décadas, nomes humanos passaram a ser escolhidos para cães de estimação. No começo eram apenas personagens da TV ou dos filmes. Mas há muitos com nomes de seres humanos.

O que tem ocorrido de fato é uma desesperada tentativa de humanização de um bicho que não é humano.

O palpiteiro já ouviu várias pessoas afirmarem – categoricamente- que seus cachorros merecem mais respeito que muitos seres humanos. Isso para não falar de pessoas que trocam fotos de seus bichinhos e os tratam como se fossem filhos.

Não há grande problema em amar muito um animal de estimação, tratá-lo com carinho e chorar pela sua doença ou morte. Mas é indiscutivelmente doentio substituir uma relação humana por uma com um cachorro. O palpiteiro aprendeu que substituir uma companhia humana pela de um cão revela muito. Pode ser o instinto de mamífero, que nos induz a cuidar de filhotes, como cuidamos dos filhos. Pode ser o resultado de uma vida de frustrações com relacionamentos humanos que levaram uma pessoa a desistir de mudar. Amar um cachorro em excesso é abusar da condição desigual entre o dono e o bicho. Um cão não tem outra opção que não seja a de se submeter ao dono. Precisa de alimento e abrigo. Se tiver carinho, melhor ainda. Mas um cão não tem como contestar as insanidades do dono. Não questiona seus erros, suas instabilidades e suas canalhices. Em poucas situações veremos algo tão egoísta quanto amar alguém que não pode nos confrontar. E que amamos justamente por essa razão.

A insanidade às vezes se encontra com a falta de civilidade do dono do cão. O proprietário-amigo do cachorrinho não percebe o quanto pode fazer mal por levar seu bichinho-objeto a restaurantes, supermercados ou açougues (todas essas situações foram reais para o palpiteiro). Se alguém reclama é rotulado como desumano ou ignorante.

Quem tiver ao menos um grama de educação ambiental saberá que não se deve levar cachorro a praia. São grandes as chances de transmitirem doenças a crianças. Mas os cachorros adoram praia e muitos ficam plenamente felizes com o ambiente. Tente, no entanto, pedir ao dono de um cão na praia que retire o animal por medida de segurança sanitária. Em geral os donos se irritam e sentem-se profundamente ofendidos. Levam para o lado pessoal e julgam terem ofendido seus filhos. Cachorros.

Nos últimos dias um vídeo se tornou popular e despertou a indignação de muitos quando mostrou uma enfermeira a bater num cachorrinho diante de uma criança. As cenas são fortes e dificilmente a agressora teria como negar o que é mostrado. Imediatamente o palpiteiro recebeu uma proposta de abaixo-assinado com mais de 300.000 adeptos pedindo “a pena mais rigorosa” contra a tal agressora.

Qualquer um tem o direito de assinar o que quiser. Inclusive um pedido de prisão rigorosa para uma agressora de cachorrinhos indefesos. Mas o palpiteiro não se lembra de tamanha manifestação quando a missionária Doroth Stang foi assassinada na Amazônia.

E nesse contexto, afirmar que muitas pessoas estão insanas na suas relações com cachorros não parece implicância.

Alguma coisa via mal entre os seres humanos. E isso poderá ser medido facilmente pelo tom de agressividade que alguns comentários terão contra esse palpite.

O palpiteiro lamenta.



P.S.: o palpiteiro tem duas cadelas vira-latas e gosta muito delas.

Thursday, December 15, 2011

Para aliviar...

Sugiro crônica do Rubem Alves, para pensar...



Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?

O nome não me era estranho. Eu já o vira de relance em algum jornal ou revista. Mas não me interessei. Aquele nome, para mim, não passava de um bolso vazio. Eu não tinha a menor idéia do que havia dentro dele. Sou seletivo em minhas leituras. Leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas eu me comporto da mesma forma como me comporto diante de uma mesa de bufê: provo, rejeito muito, escolho poucas coisas. Concordo com Zaratustra: “Mastigar e digerir tudo - essa é uma maneira suína.“

Aquele bolso devia estar cheio de coisas dignas de serem comidas – caso contrário não teria sido oferecido como banquete nas páginas amarelas da VEJA. Mas eu não comi. Aí um amigo me enviou via e-mail cópia de uma crônica do Arnaldo Jabor, a propósito do dito nome – crônica que eu li e gostei: sou amante de pimentas e jilós.

Senti-me parecido com o Mr. Gardner, do filme “Muito além do jardim“, com Peter Sellers. Mr. Gardner jamais lia jornais e revistas. Aproximei-me então da minha assessora e lhe perguntei, envergonhado, temeroso de que ela tivesse visto o dito filme, e me identificasse com o Mr. Gardner. “Natália, quem é Adriane Galisteu?“ Esse era o nome do bolso vazio. Ela deu uma risadinha e me explicou. À medida em que ela explicava, as coisas que eu havia lido começaram a fazer sentido, e eu me lembrei de uma estória que minha mãe me contava: uma princesinha linda que, quando falava, de sua boca saltavam rãs, sapos, minhocas, cobras e lagartos... Terminada a explicação, fiquei feliz por não ter lido. Lembrei-me de uma advertência de Schopenhauer: “No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos... Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.“ Existirá possibilidade de que a leitura dos jornais nos torne estúpidos?

O que está em jogo não é a dita senhora, que pode pensar o que lhe for possível pensar. O que está em jogo é o papel da imprensa. Qual a filosofia que a move ao selecionar comida como essa para ser servida ao povo?

A resposta é a tradicional: “A missão da imprensa é informar“. Pensa-se que, ao informar, a imprensa educa. Falso. Há milhares de coisas acontecendo e seria impossível informar tudo. É preciso escolher. As escolhas que a imprensa faz revelam o que ela pensa do gosto gastronômico dos seus leitores.

Jornais são refeições, bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso. Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach estava certo ao afirmar que “somos o que comemos“, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo os jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer eles serão iguais àquilo que leram.

Faz tempo que parei de ler jornais. Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando meus olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos jornais. Muita coisa importante e deliciosa acontece sem virar notícia, por não combinar com o gosto gastronômico dos leitores. Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações. Parei de ler os jornais, não por não gostar de ler mas precisamente porque gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos: leio bovinamente, vagarosamente, como quem pasta... ruminando. O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer. Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, freqüentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor se livra do trabalho de pensar.

Confesso que não sei o que fazer com a maioria das notícias dos jornais: entendo as palavras mas não entendo a notícia. Penso: se eu não entendo a notícia que leio, o que acontecerá com o “povão“? Outras notícias só fazem explicitar o que já se sabe. Detalhes, cada vez mais minuciosos, das tramóias políticas e econômicas de um Maluf, de um Jader, nada acrescentam ao já sabido. Esse gosto pela minúcia escabrosa se deriva da pornografia, que encontra seus prazeres na contemplação dos detalhes sórdidos, que são sempre os mesmos, como o comprovam as salas de “imagens eróticas“ da Internet. A dita reportagem sobre a tal senhora e as notícias sobre Jader e Maluf atendem às mesmas preferências gastronômicas. Será que as notícias são selecionadas para dar prazer aos gostos suinos da alma? Por outro lado, há os suplementos culturais que, para serem entendidos, é preciso ter doutoramento. Para o povão, o futebol...

Ao final de sua crônica o Arnaldo Jabor dá um grito: “Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade...“ Dizendo do meu jeito: os órgãos de imprensa têm de contribuir para a educação do povo. Mas educar não é informar. Educar é ensinar a pensar. Os jornais ensinam a pensar? Repito a pergunta: Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?

(Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001.)

Sunday, December 04, 2011

Luto por Sócrates Brasileiro

Sempre admirei Sócrates como jogador e cidadão.


Tinha um toque de bola refinado. Fazia do futebol mais arte do que esporte.


Sócrates conseguiu a proeza de fazer parte de uma seleção brasileira que não ganhou uma Copa do Mundo, mas que é reconhecida como a do futebol mais belo já visto. No conjunto, não na individualidade.


Sempre foi um militante político. Numa categoria profissional em que predomina o narcisismo, a superficialidade e o consumismo mais fútil, ele se diferenciava. Falava sobre desigualdade social e injustiças num ambiente em que adoram drogas, mulheres e carros de luxo.

Haverá quem cuspa em seu caixão. Moralistas de plantão. Pessoas que conseguem se sentir melhor quando apontam os erros de quem morreu. E que nada falam sobre a dignidade de quem acabou de partir.

Ele foi tão superior a mesquinharias que é admirado por todos que prezam o bom futebol. Não aparecem diferenças de torcida quando se fala dele.


Sócrates deixa saudade e tristeza.


P.S.: Nem por isso vou torcer para o Corínthians...

Saturday, November 26, 2011

Um recado para você que vai prestar a Fuvest

Você se submeterá a uma prova que tem o grau de dificuldade natural de um concurso muito concorrido. E que também tem uma proporcional carga de mitos e lendas.

Você é um dos mais de 146 mil candidatos que assumiram o desafio de concorrer a uma vaga na maior universidade da América Latina.

Muitas coisas acontecem simultaneamente na hora da prova.


Tem muita gente que torce por você. E eu arriscaria dizer que dificilmente alguém irá torcer contra. Claro, haverá os invejosos e os inimigos declarados ou não. Mas cá entre nós, você realmente precisa deles?


Quando você estiver diante da prova haverá 90 questões. O combinado é que você acerte o maior número delas, se quiser passar para a segunda fase. Note que acabei de lhe dizer o óbvio. Você já sabia disso. Mas por que então eu lembrei disso?


Se você leu o que foi escrito até aqui é porque quer saber a opinião de mais um palpiteiro entre tantos que lhe dizem sobre a Fuvest. E esse palpiteiro parte de algumas experiências em relação a ela.

A primeira e mais importante é a de quem já se submeteu a essa prova sem ter a mínima noção do que estava a fazer. E que passou para a segunda fase e não viu o nome na lista dos aprovados em fevereiro. Sim, o palpiteiro já se frustrou com a prova.

A segunda experiência é a de quem já foi aprovado por ela. A de quem já viu o nome na tal lista. E que teve uma alegria tão grande que tornou a frustração anterior apenas o que realmente foi: um motivo para o aprendizado.

A terceira experiência é a de quem acompanha essa prova profissionalmente desde 1996. Enquanto você estiver na prova eu estarei a esperar a divulgação oficial dela. Minha ansiedade não se compara a sua. Mas também é grande, acredite. Durante todos os anos eu me empenho, assim como os meus mais sérios colegas, a tentar preparar pessoas como você, que só querem passar na dita prova. Você não tem ideia da felicidade que um professor sente quando um aluno diz que se lembrou das suas aulas durante a prova. Não há elogio, bajulação ou forma de agrado maior que supere esse sentimento.

A quarta experiência é a de quem já prestou mais de 5 vezes a Fuvest sem ter a mínima obrigação de ser aprovado- e não queira perguntar os motivos disso...A uns 20 minutos antes do início da prova os candidatos já estão dispostos em seus lugares, escolhidos pela Fuvest. Acostume-se a isso, pois nessa prova você não escolhe nem a carteira... Você olhará à sua volta e verá que a maioria dos candidatos tem a sua idade, ou que está muito próximo dela. Haverá um ou outro candidato mais velho. E todos calados. Alguns mais nervosos e outros nem tantos. Alguns fingindo concentração e outros realmente concentrados. Numa dessas provas que prestei sem a obrigação de passar, chamou-me a atenção uma garota de uns 17 anos que falava sozinha. Nem tanto o fato dela ter amigos imaginários, mas sobretudo pelo inusitado. Ninguém achou estranho.


Na hora em que o fiscal autorizar o início da prova muitas coisas passarão na sua cabeça. Qualquer coisa que não seja útil na prova só irá lhe atrapalhar. A tabela periódica, a cachorra Baleia de "Vidas Secas", a Líbia, Napoleão, b2 menos 4 ac, Newton, Azão e azinho, To be... Tudo isso poderá ter alguma utilidade na prova. E muito disso já está na sua cabeça.

Mas um problema maior que pode surgir são os fantasmas que você mesmo poderá criar. Preocupar-se com o número de questões, com a nota de corte e outras bobagens desse tipo na hora da prova é algo que não o ajudará. Não sei se você sabe, mas no momento em que você estiver fazendo a prova, nem a Fuvest saberá a nota de corte. Ela é definida pelo número de acertos dos candidatos. Uma prova mais fácil ou mais difícil pode fazer oscilar muito essa nota. E quem saberá se a prova foi fácil ou não? Ninguém...rs... Somente após os cartões de respostas terem sido lidos é que saberemos se os candidatos acertaram mais ou menos do que aqueles do anos anterior. Qualquer afirmação antes disso é um chute. Tão somente.

Outro fantasma que costuma aparecer é o julgamento pessoal. Ao invés de se concentrar na prova você começa a pensar no que fez ou no que deixou de fazer. Sejamos francos. Nós sempre sabemos o que fizemos de certo ou errado. E em geral estudamos muito menos do que gostamos de admitir publicamente. Se você gastou mais horas no MSN ou no facebook do que estudando ao longo do ano, isso é algo que diz respeito a você. Caso tenha feito isso, deixe essa reflexão para depois. É sempre bom pensar nos próprios atos. MAS FAÇA ISSO DEPOIS DA PROVA!!! Você está num concurso vestibular, não num divã. Não se esqueça disso...

E por fim, o fantasma que mais amedronta é irmão gêmeo do anterior. Se um lhe atrapalha porque você se julga, o outro o massacra porque o faz pensar no que você é perante os outros. Já testemunhei candidatos que reduziram sua frustração quando souberam do fracasso de outros. Já ouvi relatos de gente que ficou 40 minutos diante da prova sem nada fazer. Roendo as unhas e com o pânico de pensar no que os outros diriam diante de um eventual novo fracasso.


Não tenho a fórmula mágica para você passar na prova. E acredite que torço muito por você. Mas tenho a franqueza e a vivência suficientes para lhe afirmar que além da preparação acadêmica você terá que ter maturidade.


Num mundo onde se cultua a eterna juventude, maturidade tem sido uma palavra com pouca popularidade. Nesse caso, o que entendo como maturidade é o poder de misturar a ousadia e a humildade em doses adequadas. Tenha a ousadia para afirmar que não tem medo da Fuvest. Tenha a humildade para reconhecer que é difícil e que há muita gente merecedora.


Por fim vou lhe confessar algo: passar na Fuvest é apenas uma parte. A outra é estudar e seguir na carreira que você escolheu. Ninguém se torna melhor por ter estudado na USP. Você poderá ter as melhores propostas de trabalho e até algum status, mas não é a grife USP que melhora as pessoas. Paulo Maluf estudou na USP e não preciso dizer porque lembrei do nome dele nesse momento... Mas também estudaram pessoas maravilhosas que fizeram a diferença na história recente do Brasil. Conheço um bocado de pessoas que admiro e amo e que são muito felizes sem terem estudado na USP. Conheço pessoas execráveis e dignas de pena e que estudaram lá também.

Seja lá qual for o seu destino estou aqui, torcendo por você. Eu e todas as pessoas que realmente querem o seu bem. Algumas dessas pessoas talvez você nem saiba que existem. Mas elas torcem por você.


Ao fim de tudo, não lhe desejo sorte. Torço para que tenha mais do que inteligência. Torço para que tenha sabedoria.

Guarde isso. Mas não precisa se lembrar disso na prova...


Tuesday, November 15, 2011

Itália, Euro e um projeto de desgraça comunitária

Neste palpite segue em primeiro lugar um mea culpa. O palpiteiro sustentou pelo menos por 10 anos a ideia de que o Euro era um projeto bem-sucedido e fadado ao sucesso. Na arrogância daquele que palpita e não pensa, esse escriba chegou a afirmar, por várias vezes, que o Reino Unido não aderia ao Euro por uma questão de capricho "provinciano". O erro crucial dos eufóricos de 10 anos atrás era foi muito simples. Confundiram possibilidade com fato consumado.

Pois bem, anos se passaram entre a adoção do Euro e a crise de 2008 e, em 2011,discute-se dois pontos fundamentais: até que ponto o Euro foi uma opção bem sucedida e até quando resistirá aos sucessivos eventos que teimam em mostrar que se tratou de um projeto fracassado?

O que aqui se coloca é se o Euro, enquanto símbolo da unidade europeia , resistirá ou não.

Após a crise deflagrada em 2008 nos EUA ficou evidente que os países mais irresponsáveis com as suas irresponsabilidades financeiras teriam forçosamente as maiores perdas.

Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha não surpreenderam portanto.

Mas o problema foi estender as incerteza a países como a Itália e a França.


Mencione sem titubear pelo menos 1 um produto grego, português ou espanhol que não seja vinho, azeite ou azeitona em conserva. Pois isso retrata a fragilidade econômica desses países. Vivem de produtos pouco rentáveis e de atividades frágeis como o turismo. Antes da crise turistas dos EUA e do Japão figuravam entre aqueles que sustentavam o comércio. Depois dela há quem duvide da capacidade econômica desses países se sustentarem.

Mas a Itália era diferente. Ou ao menos parecia. Fiat, Ferrari e Pirelli eram alguns dos ícones empresariais do país, para não falar do obscuro lastro financeiro do Vaticano...

Mas descobriram que a Itália não tinha uma economia tão sólida quanto pareciam os anúncios da Benneton. O buraco é muito mais embaixo.

Logo então seguiu a desconfiança mais óbvia. Se a Itália não tem fôlego suficiente para sustentar suas dívidas, o que seria então dos outros países da Zona do Euro?


Aí está o nó. O país pode ser o arremedo de economia moderna como a Grécia ou a potência industrial italiana, mas ninguem nega um fato: os europeus estão todos amarrados. O que chamam de crise grega é nada mais do que o risco de calote de empréstimos concedidos por bancos alemães, franceses, ingleses e americanos. Isto é, um calote europeu representa um tombo muito forte entre bancos dos mais fortes, alemães, ingleses, franceses e italianos em especial.

Daí o medo coletivo. Um calote na Grécia se estenderia a Portugal, Irlanda e Espanha. No auge da desgraça a Itália. O que se vê hoje é menos o risco de presente e muito mais o medo do futuro.

Mas como algumas desgraças não são solteiras, muitos especuladores não titubearam em perguntar: se Portugal não é tão seguro, por que a Itália o seria??

Financistas e larápios das finanças não são burros. Não esperam os caos para se movimentarem. O fogo não os assusta, pois fogem como loucos do mínimo sinal de fumaça.

A Grécia abriga a fogueira. Portugal, Irlanda, Espanha e Itália exalam fumaça...



O lastro econômico do Euro tem endereço: Frankfurt. Não é por acaso que o Banco Central Europeu está naquela cidade. A Alemanha é o principal motor econômico do Euro. Num contexto de crise generalizada a Grécia perdeu 5% por do seu PIB em relação a 201o. A Alemanha ganhou modestos 0,5%. Mas ainda assim ganhou.


Sabe-se lá o que irá acontecer.



Em 10 anos teremos apenas duas possíveis verdades. A primeira, otimista, será a de que a Europa, a despeito das turbulências, foi capaz de resistir e manter o projeto de uma unidade econômica simbolizada pelo Euro. A segunda, pessimista, apontará o Euro como uma ideia muito bem elaborada, mas que fracassou pela incapacidade de plena união daquilo que um dia chamaram de União Europeia.


O tempo será, mais uma vez, o senhor da razão.


Enquanto isso observamos o inusitado. Europeus mendicando dólares do Brasil, Rússia, Ìndia e China para acertar suas contas.


E o mais interessante. A incompetência dos líderes do presente em oferecer um solução comunitária para uma crise que é sobretudo comum.


Os líderes europeus das décadas de 1940, 1950 e 1960 foram sábios o suficiente para perceberem que perderiam muito isolados.


Os líderes europeus do presente parecem presos demais às pressões domésticas para ousarem em soluções transnacionais.


Quem viver verá. E o que se vê hoje, em novembro de 2011, não parece lá grande coisa...


Thursday, June 16, 2011

Professor de cursinho não é comediante.

O amigo por opção, colega por destino e palpiteiro por opção, chamado André, fez uma sugestão-desafio que o palpiteiro encarou: a de comparar um professor de cursinho a um comediante de Stand-up comedy, seja lá o que isso for.

O palpiteiro, na condição de professor de cursinho - seja lá o que isso for também- sempre pensou nos limites e possibilidades da atividade. Nos potenciais e nos riscos que um educador nessa circunstância enfrenta. Há inclusive um material em gestação sobre isso, que se esconde entre gavetas e devaneios, cujas formas e liberdade surgirão em momento oportuno.

Em primeiro lugar é preciso diferenciar os propósitos, do comediante em pé e do professor de cursinho. Um é apenas a busca pelo entretenimento. Outro, PODE, ser o aprendizado. A diferença nem sempre é clara e a esse respeito não se pode culpar apenas o observador. Tanto o palpiteiro quanto o próprio André já foram testemunhas de professores que não souberam - ou não quiseram- ver ou determinar as diferenças. O palpiteiro já testemunhou a triste cena de um colega a ler um livro de piadas, daqueles comprados em bancas de jornais, para ter uma piada nova, ainda que de forma desonesta por omissão da fonte.

O vício do professor de cursinho nasce sobretudo do seu símbolo. Por décadas foi visto como o salvador da pátria, o cara que "ensina de uma forma mágica e divertida" tudo aquilo que não foi aprendido antes. Menos...

Achar que um professor de cursinho é melhor do que um professor do ensino fundamental ou médio é o mesmo que comparar o conforto de uma casa com ar-condicionado em Bagdá a um barraco da favela onde o Bob Marley começou a aprender tocar violão. São circunstâncias completamente diferentes em momentos absolutamente distintos.

Os professores do colégio tiveram a tarefa árdua de disciplinar, cobrar, ensinar, avaliar e julgar o aluno que vem pronto para o cursinho. O professor do cursinho não atribui nota, não julga e não cobra. É o amigão que está lá para ajudar. O mesmo aluno que não reconhece e nem respeita sua própria trajetória escolar decide que é hora de estudar com mais seriedade. Une-se então a fome com a vontade de comer. Um cara que quer ensinar a um cara que quer aprender. Não há escola NENHUMA no mundo que consiga algo desse tipo com tanta afinidade como num cursinho pré-vestibular.


No passado havia poucas universidades e até a década de 1980 poucos cursinhos que conseguiam lotar salas com mais de 300 alunos. Podia-se pagar muito bem esses professores, que eram então escolhidos pelos critérios mais rigorosos da época e que eram melhor remunerados. O sistema de avaliação desses profissionais era mais baseado no carisma e na didática do que propriamente nos resultados efetivos de seu trabalho. As vagas e os cursos nas faculdades eram tão escassas que o fracasso nos vestibulares era culpa da escola pública, do governo, do descaso com a educação. Nunca foi dos cursinhos. Assim era possível brincar, fingir que se ensinava e não ter uma cobrança quase inexistente sobre a qualidade do serviço prestado.


Esse mundo não existe mais no Brasil. As vagas e os cursos foram ampliados. Os vestibulares tornaram-se menos concorridos. As opções foram também aumentadas. E os cursinhos diminuíram de tamanho.


Como qualquer mudança histórica não há um fim que possa ser determinado com precisão no tempo e nem no espaço. Por isso não se pode dizer que os cursinhos deixarão de existir, assim como não se pode também acreditar que não servem para mais nada.


A despeito dos problemas que se encontram, há muita gente competente, qualificada e, acima de tudo inteligente, nos cursinhos. São profissionais que foram submetidos a diferentes situações de pressão, público e condições de trabalho. Se há os que mais se preocuparam em serem "engraçados e divertidos", há também os que sempre se comprometeram a melhorar, estudar e levar o que há de melhor para os alunos que encontram. Esses profissionais é que tem a admiração e o respeito do palpiteiro. E eles existem aos montes.


O palpiteiro aprendeu muitas coisas dando aulas em cursinho. No início relutava em fazer piadas por acreditar que não podia entrar no jogo da simples auto-promoção. Mas por ser bobo de natureza, não conseguiu por muito tempo. O maior desafio do palpiteiro foi então aprender a brincar. Aceitar o desafio de não abusar das condições favoráveis de uma sala de cursinho para sastisfazer mais o ego narcisista sob pena de deixar de ensinar o que era devido. Talvez entre os pecados capitais, o da vaidade esteja o que mais compromete professores. E professores de cursinho acabam por se expor diariamente a essa tentação.


Não há como saber se o palpiteiro foi bem sucedido na luta entre buscar a descontração sem abrir mão da seriedade. A impressão favorável que fica é a que tem principalmente pela internet ou encontros casuais pela vida. Quando o palpiteiro recebe palavras de reconhecimento e carinho de pessoas que, mais velhas, se mostraram muito mais inteligentes do que ele acha que é, fica a desconfiança de que algum sucesso obteve na luta entre o ego e o compromisso com a educação.


Há sempre técnicas, falas, gestos e recursos que todos nós usamos para o dia-a-dia. É humano, e professores de cursinho não estão imunes a essa condição. Mecânicos sabem a forma correta de segurar uma chave inglesa, açogueiros como cortar a carne. Bons médicos aprendem a fazer a melhor pergunta numa consulta. Um bom professor aprende qual palavra, brincadeira ou frase vai ajudar melhor na tarefa de fazer o aluno a entender aquilo que dele querem numa prova longa, cruel e desumana de vestibular. O palpiteiro tem um repertório de piadas e situações que gosta de fazer. Tanto pelo efeito didático que produzem quanto pela própria graça que provocam. É da profissão. É do vício humano chamado vaidade. Mas por mais que sejam repetidas, um fato jamais poderá ser esquecido. Cada turma é especial, formada por pessoas únicas, com propósitos singulares. Por isso, cada turma é também individualizada, particular, original. Desse modo, uma mesma piada, repetida há anos, terá sempre um efeito diferente. Se o professor não souber disso será o repetidor mecânico, o brinquedo "made in china" que qualquer criança de 5 anos enjoa. Se levar em consideração as expectativas e as necessidades diferenciadas de cada um, será como a taça de cristal, que mesmo compartilhada, dará a sensação agradável do bom vinho. O vinho do conhecimento.


Resumidamente é isso. O palpiteiro raramente se presta a dizer coisas sobre a própria vida. Mas a provocação existiu. Culpem o André. Mas para quem não se constrange quando aponta as esquisitices alheias, nada mais natural do que conversar sobre as suas próprias. Quem por aqui perde seu precioso tempo entenderá.

Saturday, May 28, 2011

O voo 447 e a conveniente culpa dos pilotos

No dia 01 de junho de 2009 o Brasil ficou triste com a queda de uma aeronave da Air France que matou 228 pessoas, no acidente conhecido como "a queda do voo 447".

Para além da tristeza dos familiares e amigos que sofrem com a perda das vidas, um acidente aéreo é sempre uma oportunidade para aprimorar procedimentos e práticas que contribuem para que outros não ocorram. Qualquer pessoa que tenha segurança em uma viagem aérea deve isso, em parte, aos estudos e conclusões dos acidentes que ocorreram no passado. As vidas perdidas de outras pessoas acabam por proteger as nossas. É também por isso que devemos o respeito aos que se foram em acidentes aéreos. Passageiros, tripulação e vítimas em terra.

O voo 447 trouxe elementos adicionais para um caso que deveria seguir o padrão de todos os outros. Apurar as falhas, avaliar os erros, apontar responsabilidades. Punir eventuais culpados.


Mas algo de estranho tem acontecido. As autoridades francesas demonstraram um interesse para lá de curioso no episódio. Gastaram muito dinheiro e tecnologia para recuperar a caixa-preta do avião. Ao mesmo tempo, a Air France tem se desdobrado para provar que não teve responsabilidade na falta da troca de equipamentos que poderiam ter contribuído para a queda do avião.

O caso está prestes a completar 2 anos e especulações surgem numa direção perigosa, a saber, a responsabilização do piloto e de seus co-pilotos.


Culpar um piloto por um acidente sem sobreviventes é sempre um recurso conveniente àqueles que de fato deveriam ser responsabilizados. Pilotos mortos não podem se defender. Isso livra a cara de quem deveria ser enquadrado como responsável, negligente ou culpado.


A Airbus, fabricante do avião que caiu, tem sido acusada com frequência por defeitos de concepção de engenharia que na prática colocam as vidas das pessoas em risco. Apenas para lembrar, desconfianças também recaíram sobre a Airbus na queda do avião da TAM em Congonhas, São Paulo.


Alguém muito maldoso poderia insinuar que há algo de estranho nesses acidentes em que a Airbus é acusada de erros de fabricação e que nada acontece para ela. A fábrica fica em Toulouse, França. Admitir que alguns modelos da empresa não são seguros é o mesmo que pedir para que as companhias aéreas de todo o mundo não comprem seus aviões.


Não é conveniente para a Airbus que eventuais falhas de fabricação sejam provadas. Não é boa notícia para a França ter uma queda de vendas da Airbus, pois isso significaria menos empregos, menos impostos e a perda de mercado para a concorrente dos EUA, a Boeing. Numa época em que a economia na Europa não vai nada bem.


Tem muita gente com altos salários na França torcendo para que a culpa do acidente do voo 447 recaia sobre a tripulação. E gente maldosa diria que a o governo francês daria uma força para que isso ocorresse. O palpiteiro jamais acusaria o governo de um país amigo e soberano de manipular informações que afetam seus interesses políticos e econômicos. Governos não mentem, nunca. E em nenhum lugar do mundo. Governos não mentem quando há vidas humanas em discussão...


Para não deixar de seguir no seu compromisso com o absurdo a revista veja- aqui sempre com minúsculas- deu mais uma das suas. Na última edição a dita revista surpreendeu mais uma vez. Usa de todo o seu sensacionalismo para forçar a tese de que a culpa foi dos pilotos. E o mais inusitado: brinca com a tragédia alheia ao estampar o pânico da queda de um avião com técnicas de HQ. Na capa.

O caso em si já causa constrangimento. Uma revista como essa, náusea.


Sobre o indiciamento da Airbus na justiça francesa:



Vale a pena saber o que o sindicato do pilotos tem a dizer sobre o caso:



Wednesday, May 11, 2011

A Transição em Cuba - I

História do socialismo como "acidente" em Cuba


Cuba é um país tão interessante de ser analisado quanto difícil. Por herança da Guerra Fria e preconceitos ou simpatias construídos ao gosto de cada um, o país acaba por servir como um daqueles temas em que ou se ama ou se odeia.


Por incrível que pareça, a melhor definição de Cuba que o palpiteiro já ouviu não veio de nenhum intelectual das ciências humanas e nem de nenhum político. Paulo Vanzolini, biólogo e sambista, traduziu melhor do que ninguém a questão ao afirmar que o importante em Cuba é o nacionalismo. E que o socialismo veio por "acidente".


E quem quiser que observe o curioso comportamente cubano, que em cerimônias oficiais de diferentes naturezas ostenta uma bandeira que diz respeito ao país, não à ideologia. Ao contrário de muitos países que se tornaram socialistas, a bandeira de Cuba não tem foice e nem martelo. E a cor vermelha complementa, mas não predomina.


Fidel Castro identificou esse sentimento há muito tempo. Entendeu que a submissão aos EUA incomodava muito os cubanos. Havia antes de Fidel chegar ao Poder uma imoral lei na constituição do país conhecida como Emenda Platt. Simplesmente um dispositivo legal que dava o direito dos EUA intervirem diretamente nos assuntos internos de Cuba. Algo muito longe de caracterizar um país independente de fato.



Cuba foi o paraíso para latifundiários que produziam açúcar e tabaco, assim como pequenos fabricantes de Run e Charutos. A máfia ítalo-americana descobriu que podia lavar dinheiro e lucrar muito se explorasse o turismo no país. E assim o fez.


O palpiteiro já se referiu em outras ocasiões à famosa cena do filme "O Poderoso Chefão - II" no qual mafiosos cortam um blolo de aniversário que tem o mapa de Cuba desenhado sobre ele. Francis Ford Copolla afirmou que a cena foi simbólica, a ilustrar a partilha do país para interesses estrangeiros, criminosos inclusive. E que Fidel Castro adorava aquela parte do filme...



Fidel Castro era filho de um comerciante rico e um admirador de muitas coisas dos EUA. Foi líder estudantil nacionalista e acabou por liderar a guerrilha que tirou o ditador pró-EUA do Poder.


Fidel fez uma reforma agrária que tirou terras de cubanos latifundiários e de 6 empresas dos EUA que controlavam 60% dos espaço agrário do país.


Os EUA apoiaram uma invasão de cubanos contrários a Fidel, vindos da Flórida e devidamente financiados e armados pela CIA. O "desembarque na Baía dos Porcos" foi um grande desastre. Além de não conseguirem tomar o Poder a partir da queda de Fidel, os aliados dos EUA conseguiram aquilo que Fidel mais queria: provar que era de Washington que vinham recursos e armas para oprimir o povo de Cuba. Um povo que comemorou a fuga do ditador pró-EUA e o fim da Emenda Platt não viu com bons olhos a aliança entre opositores cubanos de Fidel e a CIA. Ao querer destruir Fidel os patetas da CIA conseguiram o seu fortalecimento.



Em 1961 veio o Embrago Comercial, válido até hoje. Por meio dele, ficou proibido a quaquer empresa dos EUA a negociar diretamente com Cuba, sob pena de um processo Federal. A estratégia foi simples e consistia em sufocar a economia cubana ao mesmo tempo em que armariam e financiariam uma oposição organizada. Fidel aproveitou o Embargo desde então para minimizar os erros e as falhas do socialismo cubano. Convenceu muita gente de que o que dava errado não era por culpa do socialismo, mas sim pela sabotagem dos EUA. Mais uma vez os "estrategistas" de Washington ajudaram Fidel involuntariamente. Deram um discurso muito convincente e com forte apelo nacionalista. Fidel deve muito mais a Washington do que a Lênnin neste caso.


Em 1962, Cuba foi envolvida numa das piores crises da Guerra Fria. Os EUA detectaram com imagens aéreas - os satélites engatinhavam naquela época- que a URSS preparava Cuba para ser uma base de mísseis nucleares apontados para a "América". O mundo ficou chocado e Cuba enfurecida, pois ficou provado que os EUA espionavam seu país. Mais lenha na fogueira nacionalista cubana.


Os EUA mostraram os dentes e cercaram a ilha de Fidel com um bloqueio naval. A ordem era afundar qualquer navio militar da URSS com destino a Cuba. O mundo ficou tenso e há uma certa concordância de que foi o momento no qual a humanidade mais chegou perto de uma Terceira Guerra Mundial com armas nucleares e duas superpotências na liderança.


Houve conversas e os dois lados perceberam que foram longe demais. As provocações avançaram para um estágio no qual tanto os EUA quanto a URSS deveriam partir para a agressão. Felizmente prevalesceu o bom-senso e o políticos da época não quiseram ir para a história como os inciadores do fim do mundo.


Os EUA não afundaram nenhum navio e a URSS não fez de Cuba uma base para mísseis nucleares. Seis meses mais tarde os americanos retiraram mísseis nucleares da Turquia, apontados para Moscou, que conseguiu ainda a promessa de que não invadiriam a ilha e que aceitariam Fidel como líder do país. Um ameaça de Guerra Nuclear entre duas superpotências na qual Cuba era um ator de destaque. Foi o auge da afirmação nacional para um país que até 3 anos antes era apenas mais uma parte do quintal dos EUA na América Central.


Na mesma época em que o embargo comercial apertava a economia cubana, a URSS percebeu que poderia fazer do país uma vitrine do socialismo para a América Latina. Por um lado muita ajuda econômica para setores diversos, inclusive sáude e educação. Por outro, dinheiro, armas e técnicas para o apoio a socialistas em diversos países da América Latina, inclusive o Brasil. Muita gente de esquerda das décadas de 1960 e 1970 teve treinamento militar para guerrilha em Cuba. O país passou então a ser chamado pelos inimigos do socialismo como "eportadora de revoluções".

Monday, April 25, 2011

Os 25 anos de Chernobyl

Em Abril de 1986 a primavera já era percebida na Ucrânia. Os ventos da primavera sopraram em direção a Europa. A radioatividade viajou para muito longe. Consulte um mapa e veja a distância entre a Ucrânia e a Suécia. Pois foi na Suécia que se percebeu uma anormalidade nos índices de radioatividade.

Quando a Usina Nuclear de Chernobyl teve seus problemas não se viu, ouviu ou se sentiu nada de anormal.


A radioatividade é silenciosa, invisível e imperceptível para os seres humanos.


A Ucrânia era dominada pela Rússia no que chamávamos de URSS.


Os soviéticos não queriam disseminar o pânico e nem admitir que havia um problema de tamanha gravidade.

A imprensa foi censurada.


Pessoas foram contaminadas por não terem sido informadas.


Muita morreram.

Quantas? Ninguém sabe. E quem sabe não fala a verdade.


Os russos e os defensores da energia nuclear tendem a minimizar os números.


Os histéricos e amantes de tragédias exageram.


Até hoje crianças nascem com problemas sérios. Muitas desenvolvem câncer e outros problemas.


Áreas consideráveis da Ucrânia, Belarus e da Rússia não podem ser utilizadas para nada, por conta da contaminação. Muitas delas estão sendo usadas.


Quis a história que esse quarto de século de Chernobyl fosse lembrado no mês em que as autoridades japonesas demonstram uma grande dificuldade para contornar os problemas em Fukushima.


As autoridades japonesas diziam há algumas semanas que o vazamento seria contido e que o problema não era tão grave.

Pessoas estão sendo removidas de áreas que antes eram consideradas seguras.


A URSS era uma ditadura. O Japão é uma democracia.

Russos mentiram com o apoio do exército.

Japoneses parecem esconder a verdade com uma nova arma: os meios de informação.


A energia nuclear ainda é perigosa.


E a mentira parece ainda ser tão letal quanto a própria radioatividade.





Saturday, March 26, 2011

A hora do Planeta num dia de poluição

Uma organização não-governamental chamada WWF organizou uma campanha mundial para "conscientização ambiental" no dia de hoje. Fique tranquilo, pois não tomarão muito do seu tempo. O teatro se chama "A hora do planeta". Você apaga as luzes por uma hora e depois vai comer uma pizza feita no forno a lenha ( essa ironia não é do palpiteiro, mas do amigo Elias Jabbour).

A ideia é simpática. "Se cada um fizer a sua parte, todos ganhamos". "Depende de nós".


Lorota.

Balela.


O palpiteiro não defende a destruição do planeta e não julga errado economizar energia. Mas se posiciona contra qualquer uso da questão ecológica feita de modo infantil ou malandra.


Foi nos EUA que surgiu a ideia do "small is beautiful", ou "o pequeno é belo". É poético, mas pouco eficaz.


A malandragem é colocar a culpa pelos problemas ambientais nos indivíduos e esquecer os maiores responsáveis por eles.

Pense rápido: quem produz mais lixo, você em um mês ou uma lanchonete do Mc Donald's em um dia?


Um dos melhores negócios da atualidade é montar uma organização não-governamental, ong. Seja lá o que for isso, a propaganda é forte. São associações privadas mantidas por pessoas com um interesse comum, a defender causas coletivas. Quem pode ser contra uma iniciativa dessas?


Mas perguntar não ofende: e quando uma organização não governamental recebe algum tipo de ajuda de órgãos de governo, ela passa a ser o que?


Um professor do palpiteiro na faculdade de Geografia ironizava o termo ao dizer sempre "organizações NEO-governamentais"... O trocadilho era inteligente e já revelava a crítica sobre as ongs que recebiam recursos públicos para disfarçar ações de governos, empresas ou políticos. Esse professor entendia tão bem do assunto que acabou cedendo e montou sua própria ONG... Quase fez um negócio milhonário com um laboratório farmacêutico europeu. Receberia alguns dólares em troca de facilitar a ação do laboratório na biopirataria na Amazônia. Alguém descobriu e denunciou. E o negócio não saiu.


O professor do palpiteiro não merece nem a menção do nome e por isso não será dado o crédito por seu trocadilho.


Mas ficou o aprendizado. Quando você ver uma ONG em campanha, seja lá do que for, pergunte: quem paga essa organização?


O palpiteiro fez isso para o WWF e a "Hora do planeta". Qualquer um pode fazer isso. Basta entrar no endereço da WWF e clicar "Brazil". Na seção "quem somos" veja um quadro à sua esquerda. Há um link para "prestação de contas". Acesse a página 52 e... Bingo!! Você verá os parceiros da WWF no Brasil em 2009.

É muito interessante. A começar pelo termo "parceiro".


Seriam pessoas que dançaram quadrilha com a galera do WWF em alguma festa junina em 2009? Seriam músicos de apoio em alguma banda de punk-rock? Seriam alguns jogadores de futebol de várzea para peladas de fim-de-semana?

Pelo amor de Deus, o que eles querem dizer com "parceiros"?

Na falta de clareza qualquer um pode pensar qualquer coisa. Até recursos econômicos.

Dê uma olhadinha nos "parceiros" da WWF no Brasil.

Wall Mart: dispensável pensar no tipo de "parceria" em nome do planeta vindo de uma empresa que ganha muito dinheiro com o consumismo voraz...

Unidas: lindo! Um "parceiro" que vive de alugar automóveis. Perguntar não ofende: o que a Unidas pensa sobre substituir o transporte individual pelo coletivo? O que eles devem achar de usarmos mais metrô, trens e ônibus e menos automóveis? Unidas com WWF na "Hora do planeta"...


Itaú: esse é de peso. Bancos emprestam dinheiro para as pessoas comprarem de tudo e para as empresas tocarem seus negócios. Será que um gerente do Itaú pensa no planeta quando vai conceder algum financiamento? Será que ele se pergunta: "essa atividade vai impactar o ambiente?"...

Negócios no século XXI não prosperam sem marketing.


E poucas ações de marketing são tão fortes quanto falar em nome da natureza.


Pega bem falar da natureza. Bandeira fácil de lavantar, pois não haverá quem se oponha.


Empresas, partidos e políticos sabem disso.


E abusam da boa vontade alheia.

Abusam da ingenuidade ambiental.


A malandragem é simples: quando falar dos impactos da natureza, procure sempre um vilão fora da sua área de alcance. Nunca se coloque no problema. aponte sempre um culpado que não tenha relação com seu modo de vida.


Afinal de contas a "Hora é do Planeta", não da humanidade tal qual está organizada...



Link da WWF:







Monday, March 21, 2011

Malandros escondem a história. Cretinos aplaudem.

No dia 20 de março de 2011 o então presidente dos EUA, Barak Obama, discursou no Teatro Municipal do RJ.


O discurso foi genérico e seguiu a fórmula do país dele, com palavras firmes, princípios consistentes e momentos de descontração.


Os EUA não são amadores. Sabem como lidar com cada país que demonstram algum interesse. Para alguns acenam com recursos econômicos. Para outros, ações militares. E tem alguns ainda que se contentam apenas com afagos no ego. Explorar o Brasil tem sido muito mais fácil do que derrubar o Taleban no Afeganistão.


Há décadas que o Brasil se alinhou à política externa do Tio Sam. Podemos dizer que esse alinhamento talvez fosse mais, ou menos intenso. Mas ruptura nunca houve.


Walt Disney afagou o ego nacional com orientação do Departamento de Estado e até desenhou um papagaio imbecil chamado Zé Carioca. Não diz nada na história de negócios da corporação do Mickey Mouse. Mas pesa muito no discurso tosco dos neo-colonizados.

E nisso o Brasil surpreende. Se com Portugal fomos colônia por imposição da história, com os EUA somos subalternos por opção.


Obama foi o Mr. Simpatia. Lembrou de Paulo Coelho, da Jorge Benjor e até do futebol. Brasileiros afoitos se emocionaram. O representante do império lembrou-se da nossa existência, reconhecimento maior para quem pensa apenas até onde a mão alcança. No caso, o controle remoto...


Os afagos de Obama e a emoção dos brasileiros lembram muito a relação entre aquele funcionário puxa-saco que se orgulha de ter o chefe ou o patrão como padrinho de um dos filhos. Orgulham-se de chamarem o superior hierárquico de "compadre". Um ovo de Páscoa da Nestlé ou um panetone mais caro dão conta de perpetuar o compadrio.


Alguns escravos também se contentavam com afagos do senhor da Casa Grande. Um gesto menos violento, ou o simples fato do senhor chamá-lo pelo nome já eram suficientes para o contentamento do escravo.

Não deixa de ser irônico que a reprodução pós-moderna da relação entre o senhor da Casa Grande e o escravo esteja na caricatura entre o presidente negro dos EUA e a elite branca brasileira. Vale menos a cor da pele e mais os papéis desempenhados entre quem manda e quem obedece. Docilmente.


Obama foi ousado. Exaltou a democracia brasileira e fez uma média com Dilma Roussef, tratando-a como uma heroína. Lembrou-se das torturas a que foi submetida. E o teatro municipal do RJ se emocionou. Palmas para Obama.


Alguém mais chato poderia se lembrar da "Escola das Américas", nas quais se ensinava a militares da América Latina como identificar, prender, torturar e matar em nome do combate ao comunismo.

Para que lembrar de história no momento do circo? Obama foi o animador de uma platéia de zumbis. Ou ignorantes da própria história.


O presidente elogiou o desempenho de Dilma quando jovem no combate a uma ditadura que o país dele descaradamente incentivou e financiou. Obama fez o papel que dele se esperava: contou metade da verdade. O público fez o que ELE esperava: aplaudiu com emoção, sem um único grama de senso crítico ou de conhecimento histórico.


Mais do que a ignorância o que impressiona é a postura de milhões de brasileiros que mudam de opinião de acordo com a edição do jornal do dia.


Em 2010, ano de eleição, Dilma era inexperiente, autoritária, assaltante de banco e uma terrorista que não poderia entrar nos EUA pelo seu comunismo.

Em 2011, primeiro ano de governo da ex-guerrilheira, ela se torna melhor do que Lula, mais inteligente e com uma política externa que "recoloca o Brasil no caminho certo".


O Brasil, visto de longe e acompanhado pela imprensa alterna momentos de insanidade com situações de grande comicidade.


Ridículo. Sem história, sem caráter, sem memória. E Obama voltou para casa. Entrevista dada por escrito à veja, imagens de sua visita ao Cristo Redentor e palmas no Teatro Municipal. O ator foi embora do Teatro e do Brasil. O público, feliz por ser enganado, aplaudiu. E já sente até saudade.


Grande abraço a você Obama. Mas concorde comigo: agir assim por aqui é uma baba, não?


Sugestão do amigo Guilherme Azevedo:






E um áudio daquilo que Obama não disse. E quem ninguém quis perguntar.


A fonte é a própria Casa Branca.


Wednesday, March 16, 2011

Um palpite com energia nuclear, Saramago e Japão.

O palpiteiro tem entre alguns livros um muito especial, chamado "Previsão de Impactos". A edição guardada com cuidado é autografada pelo organizador, Aziz Nacib Ab´Saber.

Trata-se de uma coletânea com trabalhos acadêmicos sobre impactos sócioambientais que poderiam ser evitados e ou minimizados. Entre os diferentes estudos, há o da simulação de um acidente em Angra, no caso de um vazamento de radiação das 2 usinas nucleares. O trabalho é assinado por Luís Pinguelli Rosa, da UFRJ e, entre as mais variadas críticas seguem algumas (da década de 1990...): falta de coordenação na evacuação das pessoas; falta de entendimento das próprias pessoas da região sobre os riscos reais a que estão expostos; incompatibilidade na comunicação por rádio entre as forças armadas, dos hospitais, da PM e dos bombeiros. Tão ruim quanto o acidente em si, seriam os problemas decorrentes dos erros na retirada das pessoas e na mobilização daqueles que deveriam contornar o problema. Lendo o relatório fica a impressão de que anjos da guarda realmente existem e que se reunem em Angra...


O palpiteiro sempre admirou a capacidade de organização e o senso de cidadania dos japoneses. Eles possuem costumes e formas de organização comunitária que comovem qualquer um. Mas toda essa coesão nacional está colocada à prova agora. Até o momento não se tem notícias de saques, violência e pânico coletivo. Mas isso é até agora.

O povo japonês está ordeiro e confiante nas autoridades do país, que dizem a todo momento que as coisas estão sob controle.


Mas a realidade tem sido mais cruel. Quando se tem a notícia de que um reator da usina de Fukushima foi resfriado, eis que um outro explode. Chega a ser assustador ver as imagens das caixas de concreto que abrigam os equipamentos nucleares. São grandes caixas, cujas explosões vistas ou esperadas podem mudar a história do país e da própria maneira como lidamos com a energia nuclear.


O palpiteiro está sinceramente torcendo para que tudo dê certo por lá. São vidas humanas que correm riscos dos mais graves. Mas o medo é de que o caos se imponha a qualquer hora. Um aumento da radiação, uma explosão ou qualquer coisa que torne Tóquio uma megalópole de 28 milhões de seres humanos com medo.

Impossível não lembrar sobre o livro e o filme "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. Um vírus misterioso deixa todos cegos e as pessoas, privadas das coisas mínimas, revelam o que há de pior nos seres humanos. Falta de água, comida e energia tornam a vida inimaginável. E o pior, a falta de perspectivas de melhora. Na história, apenas uma mulher, a esposa do médico, enxerga. Contrariando o ditado que "em terra de cego quem tem um olho é rei", a mulher não usa sua vantagem física para se impor. Compreende que apenas a vida comunitária e respeitosa, baseada na tolerância das diferenças é que aponta para uma eventual salvação. Não há chance de sucesso individual. Ou todos se ajudam, ou todos se danam.


O mundo imaginado pelo finado Saramago é sombrio, mas acaba bem. Da selvageria e do egoísmo elevados às ultimas consequências surgem soluções impensáveis. O caos e as adversidades nos fazem sofrer, mas também podem nos ajudar a nos tornarmos seres humanos mais elevados e menos mesquinhos.

Que tudo corra bem no Japão. Que a história de Saramago continue a ser ficção. E que sejamos capazes de melhorarmos sem tragédias tão repentinas.

Saturday, March 12, 2011

O Japão de hoje e o fantasma nuclear. Mais uma vez.

Enquanto você estiver lendo esse palpite, estarão em funcionamento 442 usinas nucleares em todo o mundo, 2 no Brasil. Ao mesmo tempo outras 65 estarão em construção, 1 no Brasil.

E enquanto o palpiteiro esteve a escrever o que aqui segue, as autoridades japonesas tentavam buscar uma solução segura e eficaz para evitar um acidente nuclear de piores proporções na usina de Fukushima Daiichi. A usina foi afetada pelo terremoto que abalou sua estrutura e os japoneses foram obrigados a liberar parte da radiação do reator nuclear dela para aliviar a pressão e evitar o pior, uma explosão. Existem 2 usinas nucleares em Fukushima e o medo que todos que acompanham o caso com maior atenção é que se repita o que o mundo viu em Chernobil, na antiga URSS em 1986.

A favor do Japão em relação ao que ocorreu na antiga URSS tem a maior tecnologia, o aprendizado do que não se deve fazer e um preparo maior e com mais recursos para evitar acidentes, inclusive o essencial: dinheiro.

Contra, jogam a falta de informações precisas sobre o que realmente ocorreu, a falta de tempo para tomada de decisões mais serenas e a distância das usinas em relação a Tóquio, pouco mais de 200 km.


O Japão poderá ser o país que pela primeira vez na história soube lidar com um acidente de grande proporção de maneira competente e segura. Ou ir para a história como mais um argumento contra o uso dessa fonte de energia. Fukushima poderá ser esquecida daqui a poucos meses e voltar a funcionar normalmente. Mas também poderá ser sinônimo de tragédia nuclear e ficar ao lado de Chernobil quando lembrarmos dos riscos das usinas nucleares.

O curioso nessa história é que para o bem ou para o mal, o problema ocorre justamente no único país do mundo que foi alvo de ataques de bombas nucleares, lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Nenhuma sociedade discutiu tanto e se preocupou tanto quanto às vantagens e desvantagens desse tipo de energia quanto a nação japonesa.

As bombas nucleares são o lado mais perverso da energia nuclear. São de diferentes tipos e feitas para causar diferentes tipos de estragos com proporções variadas. Podem ser de fissão nuclear e destruir tanto quanto contaminar o ambiente com radiação. Podem ser de fusão nuclear e destruir muito mais do que contaminar. E podem ser de neutrons, feitas para apenas contaminar. Matam tudo o que é vivo com sua radiação, mas deixam os prédios intactos. Seu apelido é "bomba suja".


Mas a energia nuclear também pode ajudar a humanidade. Tem uso cada vez maior na medicina, com radioterapia e diagnósticos. São cada vez mais importantes para diminuir a morte por vários tipos de câncer. Também podem gerar energia, como no caso de Angra I e II, que respondem por cerca de 20% da energia consumida no RJ.


Até abril de 1986 havia uma empolgação mundial com o uso da energia nuclear em usinas geradoras de eletricidade. Acidentes já tinham ocorrido, mas nenhum de grande proporção e todos com rápida solução. Estatisticamente era provado que era uma fonte segura de energia. A humanidade superestimou os números e passou a acreditar cada vez mais em si, numa arrogância que lentamente abriu caminho para a negligência.

Foi quando explodiu o reator de número 4 em Pripriaty, na usina de Chernobil, localizada na Ucrânia, então dominada pela Rússia na antiga URSS. O acidente foi muito grave. E os erros dos soviéticos inaceitáveis. Tentaram esconder da população e do mundo a gravidade do caso. Milhares de pessoas se contaminaram e muitas delas morreram. Ninguém sabe com precisão, pois a URSS era uma ditadura que escondia números. Apenas 3 dias depois do acidente o mundo ficou sabendo do caso. Suecos notaram níveis radioativos acima do normal nas suas usinas e perceberam que a contaminação vinha de fora. Acionaram a Agência Nuclear da Europa, que descobriu que a contaminação era trazida pelos ventos da primavera, vindos da planície russa. A URSS foi obrigada a reconhecer que houve um acidente, que não conseguia contê-lo e que sua população foi exposta de maneira desumana à radiação. Há quem acredite que o ódio do povo contra seu governo por conta dessas mentiras e mortes tenham acelerado os processos que fizeram com que terminasse o socialismo e a própria URSS. Chernobil não acabou sozinha com a URSS em 1991, 5 anos após Chernobil, mas ajudou muito.

Décadas se passaram e a humanidade foi se esquecendo dos riscos da energia nuclear. Voltamos a ficar arrogantes. A alta do preço do petróleo entre os anos de 2003 e 2008 estimulou muitos governos a defenderem o uso dessa fonte de energia novamente. O Brasil inclusive. Em 2006 Lula prometeu que reativaria a construção de Angra III. Seu opositor na época, Alckimin, concordou.

Alguns ambientalistas e gente preocupada com a relação da humanidade com a natureza passaram a defender o uso da energia nuclear como alternativa segura e viável para conter a emissão de gases-estufa. E no momento em que revoltas árabes ameaçam tornar o petróleo ainda mais caro, mais gente entendia que a energia nuclear era a solução.

Tudo estava indo bem, até ontem. Se a energia nuclear vai se confirmar como fonte segura de fato e com poucos riscos, ou como um grande mal que a humanidade deve evitar, discutiremos nos próximos meses.

A resposta virá do Japão. Mas ainda não está pronta.





Wednesday, March 09, 2011

Carnaval sem memória e com muita grana

Durante as transmissões do carnaval um nome não saiu dos ouvidos do palpiteiro: João Carlos Martins.

Sim, o homenageado pela escola campeã do carnaval paulistano.

Seria o mesmo João Carlos Martins, acusado de participar do chamado "Caso Pau-Brasil"?

Era.


João Carlos Martins era amigo de Paulo Salim Maluf e ligado ao ex-prefeito Celso Pitta.


O pianista, hoje mostrado com orgulho e honra, foi acusado de participar de um esquema de caixa-dois de campanha que envolvia Celos Pitta, afilhado político de Maluf.


Mas para que lembra disso?


Estraga a festa...

O que interessa é apenas o presente para essa imprensa que noticia de acordo com suas conveniências.


Na década de 1990 interessava derrubar Maluf e até João Carlos Martins foi lembrado.


Hoje não interessa mais. Maluf se enfraqueceu e não ameaça mais os candidatos apoiados pela "grande imprensa".


Simples assim.

Viva o carnaval, viva a Vai-Vai, viva o pianista.


A falta de memória é antes de tudo seletiva nesse país...


Outra do carnaval:


A Nestlé comemora 90 anos de Brasil.


Pagou uma grana alta para ter Roberto Carlos como garoto propaganda da sua marca no Brasil.


A Beija-Flor, escola carioca, homenageou Robertos Carlos, garoto propaganda da Nestlé.


E assim transformaram o carnaval do Brasil: um grande negócio.


Quando você assistir o Jornal Nacional, repare nos anúncios da Nestlé, em horário nobre.


Quem desconfiar de que tudo não passa de negócios será tratado como chato.


Daí o palpiteiro cita o garoto propaganda da Nestlé: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi..."



Friday, March 04, 2011

Tráfego Aéreo Mundial (clique aqui)

Cada ponto amarelo corresponde a um avião.

Repare na diferença Norte-Sul.


A sombra corresponde à noite e por isso faz diminuir o fluxo nas áreas por onde passa.

Friday, February 11, 2011

E agora, como fica o Egito sem Mubarak?

O palpiteiro não acompanhou os acontecimentos no Egito como gostaria, mas leu, ouviu e ouviu o suficiente para dar um palpite. Evidente que é hora de um parecer, pois se tivesse mais embasamento, palpite não seria...

Pelo que se mostrou das manifestações por fotos e imagens podemos tirar algumas conclusões. A primeira é que a oposição foi nacional, popular e intensa. Embora se credite aos mais jovens a euforia e toda a energia para os protestos, não se pode descartar a participação de membros da classe média e de pessoas mais velhas e cansadas do governo Mubarak. O presidente egípcio conseguiu o que poucos governantes tiveram: uma ampla, geral e irrestrita oposição. Ele foi quase uma unanimidade.

Pelo que se viu no noticiário, os apoiadores de Mubarak variavam pouco. Eram em sua maioria funcionários públicos beneficiados pelo regime ou policiais que sabiam os riscos de mudanças democráticas. Quando uma ditadura cai aqueles que prendem, matam, torturam e se corrompem com o regime são os que mais temem um governos realmente justos, democráticos e firmes. A razão não é outra senão o temor da perda de privilégios e eventuais punições por abusos do passado.


Mas o que vimos na TV ou pelo computador não traduz exatamente o que ocorreu por lá. Se as imagens mostram uma massa unida e indignada nas ruas, é razoável acreditar que também havia divisões entre os principais líderes da oposição. É assim em qualquer lugar do mundo. As pessoas nunca pensam igual.


O exército foi sem dúvida o fiel da balança. Quem prestar um pouquinho mais de atenção nas imagens, verá carros de combate, blindados e soldados quase assistindo os protestos. O palpiteiro chegou a ver algumas fotos com pichações em tanques de guerra com soldados sorridentes. Ao longo desse período de manifestações o exército não se empolgou o suficiente para derrubar Mubarak num golpe de Estado clássico. Preferiu simplesmente nada fazer. Deu segurança mínima ao governo acuado e simpatia ampla aos manifestantes que se opunham. Talvez saia do exército alguns dos nomes que inevitavelmente aparecem como heróis nos livros de história. Não daqueles heróis com estátua e nomes de ruas. Mas daqueles que alcançam o reconhecimento e a gratidão de um povo que não foi massacrado pelas suas próprias forças armadas.


Tudo isso é muito bonito e chega a ser quase poético. Mas a realpolitik pressupõe negociações, pressões e recuos.


Os opositores mais exaltados pregarão uma revolução. O Irã para alguns seria um modelo, mas é muito difícil acreditar nisso num país que tem outra cultura e uma história muito diferente dos persas. Lideranças religiosas tentarão se cacifar para um novo Estado, talvez de modelo teocrático. Porém sabe-se que o exército que até agora jogou do lado da oposição pode muito mudar de lado e conter os mais afoitos. Conflitos não podem ser descartados, entre as forças armadas e os mais empolgados com os ventos da mudança. Se eles ocorrerão, dependerá da capacidade dos religiosos continuarem a organizar seus seguidores e terem disposição para continuar a lutarem. Talvez até com violência. É possível que isso aconteça, mas é também verdade que embora poético, um processo como esse cansa. Naturalmente haverá no Egito quem prefira voltar à normalidade e acompanhar uma transição mais pacífica.


Por dentro se confrontarão os mais nacionalistas, críticos das relações amigáveis com Israel e os mais moderados, favoráveis à manutenção da atual política externa bancada pelos EUA -$$$$.


Novamente surge o exército como fiel da balança e, nesse caso, o mais óbvio é acreditar que apoiará mudanças que tragam um pouco de democracia ao país, mas que não necessariamente o torne inimigo de Israel e órfão da ajuda -$$$$- dos EUA.


Parece mesmo óbvio acreditar que no fim de tudo a mudança ocorreria nos moldes brasileiros, nos quais velhos dirigentes continuam com algum Poder e que o povo passa se contentar com migalhas de participação política.

Mas quem acreditar no óbvio correrá o sério risco de quebrar a cara, pois o que ocorreu nos últimos 18 dias pode ser chamado de qualquer coisa, menos de óbvio.


Seja lá qual for o desfecho, é gratificante ver a alegria do povo egípcio e o alívio de ver Mubarak fora do Poder. É agradável saber também que estamos diante daquelas mudanças históricas, daquelas que irão para os livros escolares e retrospectivas da década.


O Egito mudou, afinal. Se para melhor ou pior só a história dirá.


Em homenagem aos Egípcios fica aqui o link da Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal. Teve participação do povo e de jovens capitães de um exército cansado de uma ditadura para lá de velha. Portugal ficou melhor. Que o mesmo ocorra com o Egito.




Vá de retro, Mubarak!!!

Caiu a múmia que governava o Egito.


Era jogada cantada.


Claro, quem leu veja ficou sabendo numa semana que Luciano Huck era bom e que Fernandinho Beira-Mar continua mal...



VIVA O EGITO!!!!


O que vem depois é outra história...