Wednesday, March 16, 2011

Um palpite com energia nuclear, Saramago e Japão.

O palpiteiro tem entre alguns livros um muito especial, chamado "Previsão de Impactos". A edição guardada com cuidado é autografada pelo organizador, Aziz Nacib Ab´Saber.

Trata-se de uma coletânea com trabalhos acadêmicos sobre impactos sócioambientais que poderiam ser evitados e ou minimizados. Entre os diferentes estudos, há o da simulação de um acidente em Angra, no caso de um vazamento de radiação das 2 usinas nucleares. O trabalho é assinado por Luís Pinguelli Rosa, da UFRJ e, entre as mais variadas críticas seguem algumas (da década de 1990...): falta de coordenação na evacuação das pessoas; falta de entendimento das próprias pessoas da região sobre os riscos reais a que estão expostos; incompatibilidade na comunicação por rádio entre as forças armadas, dos hospitais, da PM e dos bombeiros. Tão ruim quanto o acidente em si, seriam os problemas decorrentes dos erros na retirada das pessoas e na mobilização daqueles que deveriam contornar o problema. Lendo o relatório fica a impressão de que anjos da guarda realmente existem e que se reunem em Angra...


O palpiteiro sempre admirou a capacidade de organização e o senso de cidadania dos japoneses. Eles possuem costumes e formas de organização comunitária que comovem qualquer um. Mas toda essa coesão nacional está colocada à prova agora. Até o momento não se tem notícias de saques, violência e pânico coletivo. Mas isso é até agora.

O povo japonês está ordeiro e confiante nas autoridades do país, que dizem a todo momento que as coisas estão sob controle.


Mas a realidade tem sido mais cruel. Quando se tem a notícia de que um reator da usina de Fukushima foi resfriado, eis que um outro explode. Chega a ser assustador ver as imagens das caixas de concreto que abrigam os equipamentos nucleares. São grandes caixas, cujas explosões vistas ou esperadas podem mudar a história do país e da própria maneira como lidamos com a energia nuclear.


O palpiteiro está sinceramente torcendo para que tudo dê certo por lá. São vidas humanas que correm riscos dos mais graves. Mas o medo é de que o caos se imponha a qualquer hora. Um aumento da radiação, uma explosão ou qualquer coisa que torne Tóquio uma megalópole de 28 milhões de seres humanos com medo.

Impossível não lembrar sobre o livro e o filme "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. Um vírus misterioso deixa todos cegos e as pessoas, privadas das coisas mínimas, revelam o que há de pior nos seres humanos. Falta de água, comida e energia tornam a vida inimaginável. E o pior, a falta de perspectivas de melhora. Na história, apenas uma mulher, a esposa do médico, enxerga. Contrariando o ditado que "em terra de cego quem tem um olho é rei", a mulher não usa sua vantagem física para se impor. Compreende que apenas a vida comunitária e respeitosa, baseada na tolerância das diferenças é que aponta para uma eventual salvação. Não há chance de sucesso individual. Ou todos se ajudam, ou todos se danam.


O mundo imaginado pelo finado Saramago é sombrio, mas acaba bem. Da selvageria e do egoísmo elevados às ultimas consequências surgem soluções impensáveis. O caos e as adversidades nos fazem sofrer, mas também podem nos ajudar a nos tornarmos seres humanos mais elevados e menos mesquinhos.

Que tudo corra bem no Japão. Que a história de Saramago continue a ser ficção. E que sejamos capazes de melhorarmos sem tragédias tão repentinas.

No comments: