No dia 20 de março de 2011 o então presidente dos EUA, Barak Obama, discursou no Teatro Municipal do RJ.
O discurso foi genérico e seguiu a fórmula do país dele, com palavras firmes, princípios consistentes e momentos de descontração.
Os EUA não são amadores. Sabem como lidar com cada país que demonstram algum interesse. Para alguns acenam com recursos econômicos. Para outros, ações militares. E tem alguns ainda que se contentam apenas com afagos no ego. Explorar o Brasil tem sido muito mais fácil do que derrubar o Taleban no Afeganistão.
Há décadas que o Brasil se alinhou à política externa do Tio Sam. Podemos dizer que esse alinhamento talvez fosse mais, ou menos intenso. Mas ruptura nunca houve.
Walt Disney afagou o ego nacional com orientação do Departamento de Estado e até desenhou um papagaio imbecil chamado Zé Carioca. Não diz nada na história de negócios da corporação do Mickey Mouse. Mas pesa muito no discurso tosco dos neo-colonizados.
E nisso o Brasil surpreende. Se com Portugal fomos colônia por imposição da história, com os EUA somos subalternos por opção.
Obama foi o Mr. Simpatia. Lembrou de Paulo Coelho, da Jorge Benjor e até do futebol. Brasileiros afoitos se emocionaram. O representante do império lembrou-se da nossa existência, reconhecimento maior para quem pensa apenas até onde a mão alcança. No caso, o controle remoto...
Os afagos de Obama e a emoção dos brasileiros lembram muito a relação entre aquele funcionário puxa-saco que se orgulha de ter o chefe ou o patrão como padrinho de um dos filhos. Orgulham-se de chamarem o superior hierárquico de "compadre". Um ovo de Páscoa da Nestlé ou um panetone mais caro dão conta de perpetuar o compadrio.
Alguns escravos também se contentavam com afagos do senhor da Casa Grande. Um gesto menos violento, ou o simples fato do senhor chamá-lo pelo nome já eram suficientes para o contentamento do escravo.
Não deixa de ser irônico que a reprodução pós-moderna da relação entre o senhor da Casa Grande e o escravo esteja na caricatura entre o presidente negro dos EUA e a elite branca brasileira. Vale menos a cor da pele e mais os papéis desempenhados entre quem manda e quem obedece. Docilmente.
Obama foi ousado. Exaltou a democracia brasileira e fez uma média com Dilma Roussef, tratando-a como uma heroína. Lembrou-se das torturas a que foi submetida. E o teatro municipal do RJ se emocionou. Palmas para Obama.
Alguém mais chato poderia se lembrar da "Escola das Américas", nas quais se ensinava a militares da América Latina como identificar, prender, torturar e matar em nome do combate ao comunismo.
Para que lembrar de história no momento do circo? Obama foi o animador de uma platéia de zumbis. Ou ignorantes da própria história.
O presidente elogiou o desempenho de Dilma quando jovem no combate a uma ditadura que o país dele descaradamente incentivou e financiou. Obama fez o papel que dele se esperava: contou metade da verdade. O público fez o que ELE esperava: aplaudiu com emoção, sem um único grama de senso crítico ou de conhecimento histórico.
Mais do que a ignorância o que impressiona é a postura de milhões de brasileiros que mudam de opinião de acordo com a edição do jornal do dia.
Em 2010, ano de eleição, Dilma era inexperiente, autoritária, assaltante de banco e uma terrorista que não poderia entrar nos EUA pelo seu comunismo.
Em 2011, primeiro ano de governo da ex-guerrilheira, ela se torna melhor do que Lula, mais inteligente e com uma política externa que "recoloca o Brasil no caminho certo".
O Brasil, visto de longe e acompanhado pela imprensa alterna momentos de insanidade com situações de grande comicidade.
Ridículo. Sem história, sem caráter, sem memória. E Obama voltou para casa. Entrevista dada por escrito à veja, imagens de sua visita ao Cristo Redentor e palmas no Teatro Municipal. O ator foi embora do Teatro e do Brasil. O público, feliz por ser enganado, aplaudiu. E já sente até saudade.
Grande abraço a você Obama. Mas concorde comigo: agir assim por aqui é uma baba, não?
Sugestão do amigo Guilherme Azevedo:
E um áudio daquilo que Obama não disse. E quem ninguém quis perguntar.
A fonte é a própria Casa Branca.
2 comments:
Moraes,
Quando virão os que realmente importam agora: os chineses?
Um pouco do vislumbre que os EUA tinham sobre o Brasil:
http://www.youtube.com/watch?v=Td5ad0n08XU
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