Sunday, June 16, 2013

Sem ainda vencedores, há muitos perdedores até agora...

Ainda não está claro quem de fato vai ganhar com toda a movimentação que o Movimento Passe Livre tem promovido em São Paulo, com sinais de expansão nacional e discreta atenção internacional.

Um curioso, testemunha da manifestação histórica de 13 de junho, notou algumas peculiaridades em relação a outras vistas nas décadas de 1980 e 1990. 

Em primeiro lugar, a falta de uma liderança dos moldes convencioanais. Não há carro de som, com liderança discursando à frente. Também não há palanques nos locais de partida e de chegada. Os manifestantes se manifestam, pura e simplesmente. 

Outro aspecto é a idade dos participantes. Em geral, muito jovens, abaixo dos 30 anos. Não poucos, abaixo de 18 anos. O curioso que estava na rua da Consolação, em frente à praça Roosevelt, tinha 40 anos de idade. Notou poucos como ele em meio à multidão. Acima de 30 anos, jornalistas e oficiais da PM. (Curioso registrar que muitos dos soldados têm idade próxima dos manifestantes...)

A manifestação com tantos jovens e nenhuma liderança expressiva tem lá suas virtudes. Conforta aqueles que querem ter participação política mas que não concordam ou não mais suportam as lideranças partidárias formalmente organizadas. Não deixa de emprestar leveza ao que se pretende: livre manifestação. 

Mas também há problemas. Lideranças responsáveis são úteis para dar algum cuidado para com seus liderados. Além da segurança física, quanto a não aceitação de provocações para a violência, as lideranças cumprem o papel de não permitir perda do foco, ou seja, dos motivos pelos quais se protesta. A diversidade de bandeiras e dizeres nos cartazes revela mais do que indignações contidas na garganta. Demonstra o quanto nossa sociedade está carente de organizações sociais, políticas e populares que realmente representem quem dizem representar.

O curioso observou bandeiras do PSOL, PCO e PSTU. Encontrou pessoas simpáticas ao PT. Mas havia também gente que não aprecia partidos de esquerda, moderada ou não. Dizer que as manifestações em São Paulo tem uma coloração partidária definida é não saber o que tem acontecido. Gente que não suporta a esquerda e que sempre simpatizou com a nova direita, representada pelo PSDB e seus aliados, estiveram presente também. Saber se eram minoria inexpressiva ou significativa é ainda um mistério que apenas o tempo nos revelará. 

Mas se não há vencedores ainda definidos, o mesmo não se pode dizer dos perdedores.

Não há dúvidas de que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, com menos de 6 meses completos no cargo, tenha saído chamuscado. Tem boa capacidade de pensamento e fala. Mas é tão burocrático que não percebeu, a partir de seu gabinete, a força e as consequências da manifestações que dele sempre se lembram. Nunca positivamente. Haddad precisa se movimentar. Tem pelo menos 3 anos e meio de cargo. Há tempo para fazer muita coisa. O fato é que já queimou 6 meses, dos quais não se pode dizer que tenha colhido coisas boas para sua carreira política e para a cidade. 

O PT também não ficou bem na foto. Se toda a oposição raivosa não conseguiu juntar 30 pessoas na época do julgamento do "mensalão", deta vez o barulho e a participação popular são grandes. Ter a prefeitura de São Paulo parecia uma grande vantagem, e sempre é. Nesses últimos dias isso não foi verdadeiro. Pois se controlar a cidade com o maior orçamento municipal do país traz vantagens políticas, também oferecer desafios que, mal conduzidos, se transformam em grandes problemas. Os transportes coletivos de São Paulo são o problema de maior motivação dessas manifestações. E o PT ainda não deu mostras de que é capaz de minimizá-los. Esta devedor. As vaias a Dilma Roussef na abertura da Copa das Confederações não chegam a ser uma tragédia. Mas coisa boa não é, para quem deseja uma reeleição presidencial daqui a pouco mais de 1 ano. 

Mas para quem está acostumado ao Fla-Flu, em que uma perda do PT corresponde a vitória do PSDB, vai se assustar com o que temos hoje. Não apenas os ônibus ruins tiveram aumento de tarifas. Os trens da CPTM e do Metrô também ficaram mais caros. E não menos lotados e desconfortáveis. O governador Alckimin, tão apropriadamente conhecido como Picolé de Chuchu não pode acreditar que sairá ileso de tudo o que se viu até agora e de mais do que se verá. Alckimin demonstrou descolamento da realidade, tanto quanto Haddad, novo no cargo. Pior para ele, governador conhecido e ex-candidato presidencial. Se a Haddad a inexperiência alivia, a Alckimin a experiência o cumplica. No mais, Ackimin demonstrou o que muitos já sabem há anos. Os governos do Estado de São Paulo não mandam, de fato, na sua polícia. A PM tem vida própria e faz o que acha que deve fazer. Ninguém pode acreditar que Alckimin tenha ordenado o uso da força com tamanha intensidade na última quinta-feira. Mas é certo que tenha se comportado de modo frouxo, diante de comandantes militares da PM com "sangue no zóio", para usar termo tão comum na periferia paulistana e tão apropriado ao que se assistiu. 

A PM também não tem o que comemorar. Na terça-feira um de seus policiais foi covardemente agredido. Poderia ter morrido. Apartado de seus agressores por outros manifestantes menos selvagens, tirou a arma do coldre, apontou para o alto e não aitrou. EM qualquer lugar civilizado, deveria ter sido condecorado e homenageado. Fez o que se espera de um agente de segurança que respeita e deve fazer respeitar as leis. Foi mais lembrado como pretexto de vitmização da PM do que, verdadeiramente foi: um policial honrado. 
A PM foi para as ruas na última quinta-feira com raiva. Queria revanche. É humano compreender a raiva que a corporação sentiu em relação aos manifestantes. É selvageria aceitar que tamanha raiva fizesse parte das estratégias de "segurança" para o evento. Segurança Pública deve ser feita em nome do público. Inclusive da parte do público que a PM não gosta. Se não entendem isso, que larguem a farda e não atuem num setor que exige respeito às leis e equilíbrio emocional. Um Estado democrático de direito não permite ações de cunho pessoal entre portadores de armas, cacetetes, escudos e bombas...

Mas há, sem dúvida alguma, uma grande derrotada: a mídia. 

O curioso ficou menos de 50 minutos na rua da Consolação. Nunca viu, em toda a sua vida, tantos cartazes contra a mídia. Quase em número proporcional ao de cartazes contra o aumento das tarifas dos ônibus, razão inicial de toda a moviemntação. Não há dúvida de que o distanciamento entre o que está acontecendo e o que é noticiado nunca foi tão deliberadamente expressivo. A mídia brasileira briga com a verdade dos fatos há décadas. Desta vez fez besteira. Agrediu a verdade com requintes de crueldade. Há anos que alguns gatos pingados apontam o papel incompetente e desonesto de muitos veículos de comunicação. Desta vez o próprio papel da mídia fortaleceus aqueles que sempre a criticaram. 

A mídia tem aplaudido, se não incitado, ações violentas com excessos por parte da PM há muito tempo. Contra sem-terras, estudantes da USP, professores em greve ou moradores de favela em processos de reintegração de posse. Desta vez, às vésperas da manifestação de quinta-feira, a mídia queria mais força e mais abusos. O tiro saiu pela culatra. Ou os tiros. Muitos jornalistas presos, alguns feridos, dos quais uma jornalista da Folha de SP, covardemente atingida por um tiro de bala de borracha, a partir de uma viatura da Rota, sem motivo algum, distante dos conflitos da Consolação. No dia seguinte, uma mudança de tom. A mídia que antes "exigia" medidas enérgicas, passou a questionar o abuso de poder e o descontrole de uma tropa raivosa de policiais. O uso desproporcional da força nunca foi tão lembrado. 

Amanhã, segunda-feira, mais uma manifestação. Desta vez com concentração inicial em Pinheiros. Profetas apocalípiticos apostam em sangue. Talvez um cadáver pudesse satisfazer a sede de violência e o sensacionalismo de tantos. O palpiteiro aposta no bom-senso. A PM foi longe demais, assim como a mídia e os mais violentos dos manifestantes. O Brasil já tem no seu sangue a lembrança de que a solução violenta para tensões políticas não leva a bom caminho. 

No mais, o perdido governador do Estado soltou, dias atrás, mais uma de suas pérolas. Disse que as manifestações eram "políticas". Pois se uma concentração de pessoas com cartazes e palavras de ordem não são parte da política, ninguém mais saberá dizer o que é. 

Faltou dizer ao ilustre governador, e aos "jenios" que tanto apreciam esse tipo de arugmento, que sim, é uma manifestação política. Os gregos definiram, há algum tempinho, que discutir os assuntos da "polis" é política. Jovens, inexperientes ou não, estão a fazer isso, mesmo que de forma questionável. Senhor governador, aprenda uma coisa com essa molecada: é Política sim. Mas não a Política que o levou ao poder e que o sustenta, ao senhor e até seus adversários. Se não quiser aprender, não há problema. Uma hora essa nova realidade o desalojará de sua confortável cadeira.            

Sunday, June 09, 2013

O dilema de Haddad

Na última quinta-feira, estudantes secundaristas e universitários pararam a Av. Paulista e despertaram o eficiente e empolgado ódio da Tropa de Choque da PM Paulista. Aplausos contidos, libertos em comentários de corredor aprovaram: "...tá certo, cambada de vagabundos". Manifestantes foram dispersos, o trânsito votou a fluir e a cidade mais rica do país prosseguiu na liderança plena do que chamam - e não entendem- de "ordem e progresso"...

A imprensa nativa tem lado e não nega munição em sua luta, mesmo que não seja solicitada. Estará lá, sempre a postos para o discurso da lei e da ordem. Para a desqualificação de toda e qualquer manifestação contra o poder constituído, mesmo que seja o de sua contrariedade. A mídia, sorrateiramente, assume o seu compromisso do pretenso monopólio da crítica. Um "colunista" ou "articulista" - seja lá o que for esse troço- pode ofender um presidente, debochar do Congresso e ridicularizar uma decisão judicial. Mas APENAS a imprensa pode isso. Ninguém está autorizado a se manifestar sem o seu salvo-conduto. Nem contra um governo que ela despreza e lamenta a existência. 

Fernando Haddad não é o prefeito dos sonhos da mídia paulista. Tem o fardo de ser petista, a despeito de ser de família rica, cara de bom moço, pesquisador da USP e são-paulino. Fosse por Haddad, a imprensa teria tido outra postura. Entrevistaria um manifestante pobre e lhe daria toda a emoção possível. Mas o buraco é mais embaixo. A mídia porca sabe que a encrenca é grande. Se o povão perceber que paga muito caro por ônibus lotados, desconfortáveis e nada pontuais, por que não faria o mesmo pelos trnes e metrôs? Sim, o governo do Estado de SP precisa ser preservado, mesmo que isso livre a cara do maldito governo petista na cidade de SP...

Fernando Haddad não é um político convencional do PT. É da ala "intelectual", uspiana por assim dizer. Foi pesquisador da FIPE, "fundação" da U$P que coleta dados sobre inflação na cidade de São Paulo. Foi escolhido por Lula por representar o "novo", mesmo que à custa de uma constrangida foto ao lado de Paulo Maluf. Lula viu o óbvio. Pelo lado dos mais conservadores e proto-fascistas de SP, Haddad seria mais palatável, por ser branco, de família rica, cara de bom moço, uspiano e "são-paulino"- dizem que esse conjunto de "qualidades" foi citado pelo próprio Lula, conhecedor profundo do segmento que mais odeia o PT em São Paulo. 

Pelo lado progressista, Fernando Haddad entrou na cota da esperança daqueles que sonham com o primeiro governo petista de São Paulo, o de Luíza Erundina, entre 1988 e 1992. Erundina aumentou o salário do pessoal da saúde e da educação. Saneou as contas do município mesmo aumentando gastos com a construção de escolas, hospitais, postos de saúde, creches, redes de esgotos e casas populares. A cidade de São Paulo lhe retribuiu elegendo Paulo Maluf, numa época em que não havia reeleição. Sim, o povo de São Paulo preferiu Maluf a Suplicy, apoiado por Erundina...

Em 2012, Haddad ganhou a eleição prometendo coisas que poderia fazer e muitas outras que jamais faria. Até aí, jogo jogado, pois só não sabe disso quem é ingênuo ou mau-caráter, pois TODOS os políticos do mundo fazem isso. Mas, entre as promessas de Haddad, estava a do bilhete-único mensal. Algo relativamente simples, mas que traria impacto significativo para a vida de quem depende de ônibus e tem um orçamento tão apertado que qualquer R$ 10,00 por mês faz diferença. Dado que iniciativas desse tipo são compatíveis com o que já existe em outras grandes cidades do mundo, Haddad não prometeu nada impossível de ser cumprido. 

O problema do bilhete único mensal não foi a promessa em si, mas como ela foi feita. Em primeiro lugar, a porposta depende de aprovação na Câmara dos Vereadores e ajustes num orçamento que não foi aprovado na gestão de Haddad. Dado o impacto na contas do município, o tal bilhete único mensal seria viável apenas no final segundo semestre do primeiro ano de mandato, ou no ano seguinte. 

Para a aprovação do bilhete único mensal na Câmara, Haddad teve que barganhar apoio. Sub-prefeituras e cargos em po$tos estratégicos fazem parte desse processo de construção de apoio na Câmara dos Vereadore$. Luíza Erundina comeu o pão que o PSDB amassou quando foi prefeita. O P$DB se aliou a Maluf e fez do governo Erundina um inferno. Muitas coisas não puderam ser feitas por isso. Para quem não sabe, sem apoio do legislativo, nenhum prefeito, governador ou presidente governa ou se mantém no cargo. Pergunte isso a Collor, o caído. Pergunte isso a Dilma, aliada a Sarney e Renan Calheiros em Brasília. Pergunte isso a Alckimn, apoiado pelo menino tosco do KLB na Assembleia Legislativa de SP. (O palpiteiro morre de rir dos cretinos que debocham de Tiririca, chamam Lula de burro e que votaram na legenda que deu cargo ao garoto do KLB em SP...). 


Qualquer prefeito em São Paulo teria feito o que Haddad fez para alcançar seu objetivo maior: cumprir a promessa do bilhete único que o elegeu. Mas Haddad errou a mão. As passagens de ônibus de São Paulo não foram reajustadas por anos. Gastos com mão-de-obra, manutenção e diesel exigem um reajuste anual, assim como as contas de telefone, celular e água. Seja por oportunismo, seja por qual motivo for, Gilberto Kassab, o anitgo prefeito, não fez oq ue devia: reajustar as tarifas dos ônibus. E Haddad, o homem-FIPE, sabe disso melhor do que quaquer outro palpiteiro.

Kassab deu esse presente de grego para Haddad, coisa de 'brimo". O libanês que entrou deveria ter feito o reajuste que o árabe que saiu não quis fazer. Haddad é economista, filho de dono de loja na 25 de março e ex-pesquisador da FIPE-USP. Ele sabia que o reajuste seria necessário ANTES do bilhete único. 

Se você fosse o Haddad o que faria? O mais lógico seria esclarecer a população a respeito do oportunismo de Kassab em não aumentar a passagem em ano eleitoral, 2012. E, em seguida, provar, mesmo que à custa de críticas, que esse seria o custo necessário para viabilizar o bilhete único, cuja ideia não tem nada a ver com o reajuste. Mas Kassab inventou um partido- PSD- que ensaia apoiar o PT, ao mesmo tempo em que é aliado do PSDB... Se Haddad fosse um grama mais esperto teria agido de outro modo. Amigos, amigos, negócios à parte, ensinaram seus acestrais. Uma cosia é apoio político futuro. Outra coisa é ser prejudicado por oportunismos do passado. Haddad obedeceu a Lula, a Dilma e à cúpula do PT, que sonha com uma aliança com o PSD para derrotar Alckimin em 2014. Fosse mais sábio, Haddad saberia que há certas horas que é melhor brigar com todo mundo para salvar aquilo em que acredita e que sabe que o diferenciará no futuro. Mas Haddad preferiu a omissão. Fingiu que tudo estava bem e que valeria o risco de se queimar agora para gozar dos benefícios do bilhete único mensal em 2014. 

O problema foi aparecerem tantos estudantes na Paulista. Isso não estava nos planos tecnocráticos. 


Os críticos de manifestações são os mesmos que xingam o PT e Lula, mas que não conseguiram juntar 30 pessoas na mesma avenida Paulista, à época do julgamento do "mensalão". No fundo, sentem inveja, nada mais do que isso. 


A questão das tarifas de ônibus em São Paulo passa pelas disputas eleitorais de São Paulo e de Brasília. Simplesmente isso. Quem ficar olhando vidraças quebradas de bancos e latas de lixo incendiadas cumprirá o papel de tonto que lhe tem sido habitual: o de acreditar naquilo em que vê, não naquilo que é... Grandes grupos de mídia à beira da falência e político oportunistas agradecem a sua cretinice ao chamar manifestantes de "baderneiros". 


Nota: O palpiteiro votou em Haddad e, se eleição fosse hoje, com os mesmo candidatos e circunstâncias, teria feito o mesmo. O que não significa salvao-conduto para toda e qualquer asneira que Haddad faça no cargo. Voto, voto, críticas à parte...
  


Para os invejosos do presente, uma notícia de uma passado recente...