Monday, December 07, 2009

01 De DEZEMBRO






Houve um consenso de que o dia 01 de Dezembro seria o dia internacional de combate a AIDS.

Até onde o palpiteiro aprendeu, a AIDS, Sídrome da Imudeficiência Adquirida - SIDA - em português, é uma doença que foi identificada em 1982. Até hoje o palpiteiro não sabe dizer a quem se deve atribuir o isolamento do vírus, se a pesquisadores americanos ou franceses. Discussão tão útil quanto saber se foi Santos Dumont ou os irmãos Whrite que inventaram o avião: o troço existe e seus inventores se tornaram menos importantes do que o invento.

A AIDS foi uma doença que assustou a humanidade. A pessoa pode contrair a doença por sêmen, secreções vaginais ou sangue contaminados. Por essas características de contágio é impossível discutir as formas de contaminação sem nos colocarmos frente a questões morais, éticas e ou religiosas. Os americanos mais conservadores chegaram a chamar a AIDS de "peste-gay", pois entendiam a doença como um castigo de Deus aos homossexuais promíscuos. Essa estupidez apenas contribuiu para que a doença se espalhasse entre pessoas que de algum modo acreditavam que apenas gays contraíam AIDS.

A doença é sorrateira. O vírus se instala e a pessoa não fica doente de imediato. Tem uma vida normal e inconscientemente dissemina o vírus para outras pessoas. Um dia aparecem os sintomas. Emagrecimento, manchas pelo corpo entre outros. A capacidade do corpo se proteger é comprometida, e no auge da doença o paciente pode morrer de uma simples gripe. Muitos morrem de tuberculose.

Por desconhecimento muitas pessoas adoeceram de AIDS na década de 1980, entre diferentes classes sociais, cor da pele e religião. Atores, atrizes, políticos, empresários, cantores e tantos outros famosos morreram de AIDS. Fred Mercuri e Cazuza morreram de AIDS. Renato Russo teve AIDS e, até onde o palpiteiro sabe, morreu de anorexia, em decorrência de uma depressão profunda agravada pelo conhecimento da doença.

Nenhuma doença teve tantos recursos, pesquisa e informação em tão pouco tempo quanto a AIDS.

No ínício da década de 1990 uma descoberta animou a humanidade. Um combinação de remédios permitiu uma sobrevida maior para portadores do HIV, com razoável qualidade de vida. Tomando os remédios certos com a regularidade adequada a pessoa estabiliza a doença e não piora. A AIDS era uma condenação a um máximo de 10 anos de vida. Com a combinação dos remédios, chamada de "coquetel", essa sobrevida aumentou muito.

Magic Johnson foi um astro da NBA, liga profissional do basquete americano. Contraiu AIDS e teve a coragem de assumir isso publicamente. Sabia que era um ídolo de muita gente. Poderia ter se escondido. Mas preferiu anunciar seu estado de saúde numa entrevista coletiva, como uma forma de alertar outras pessoas de que a doença é grave e que não poupa ninguém. Nem o medalhista olímpíco do primeiro Dream Team. Barcelona, 1992.

Magic Johnson ainda tentou voltar a jogar basquete e foi bem aceito pelos outros jogadores. Mas num lance normal se machucou e se cortou. Seu sangue apareceu. Viu nos olhos dos outros jogadores um pânico mal dissimulado. Decidiu ali que pararia de jogar basquete porque não tinha o direito de amedrontar outras pessoas com um problema que era dele. Largou o basquete e disse exatamente isso, sem dramas.

Um colega de escola do palpiteiro é soropositivo. Ou foi, pois o palpiteiro não sabe se ainda está vivo. Contaminou-se com o uso de drogas injetáveis, como tantos outros no mundo. Ficou triste, quis se matar. Mas decidiu mudar. Largou a vida do vício e deu a sorte de ter o coquetel disponível. Disse uma vez que não era fácil. Trata-se de uma combinação de remédios que deve ser tomada em horários específicos, cada um a seu tempo. Se não for assim o vírus reage, a imunidade do corpo cai e a morte se aproxima.

O palpiteiro já conversou com outros soropositivos, termo usado para as pessoas que portam o vírus mas que ainda não desenvolveram a doença. São também chamados de "assintomáticos", pois não apresentam os sintomas da doença. Adultos e crianças entre essas pessoas. Há alguns orfanatos espalhados pelo Brasil com crianças soropositivas que perderam os pais em razão da doença. Só mesmo vendo um orfanato desses para se descobrir o que é abandono, solidariedade, vontade de viver e esperança. Tudo numa mesma pessoa e num mesmo lugar. A AIDS não é uma doença qualquer.

Quando cursava geografia na USP o palpiteiro tinha um professor que a despeito de ser muito bem preparado era muito arrogante. O cara era insuportável. Mas um dia ele surpreendeu todos os alunos. Era 01 de Dezembro e ele resolveu falar sobre a AIDS. Disse que tinha pessoas queridas que tinham contraído a doença e que a morte de uma delas em especial o comoveu demais. Prometeu a si mesmo que sempre tocaria nesse assunto, para que outras pessoas soubessem da gravidade da doença.

O palpiteiro até hoje não suporta o tal professor arrogante. Mas reconhece que a atitude foi nobre. Falar sobre AIDs é ainda importante. Novos tratamentos deram melhor qualidade de vida às pessoas, mas não a cura. Muita gente ainda se contamina por falta de informação e conscientização. Gente que ainda crê na conversa de que "isso não vai acontecer comigo". Pois é, pode acontecer.

Todos nós temos essa obrigação, a de lembrar que é uma doença grave e que ainda necessita de maiores esclarecimentos.

Informação e memória ainda são os maiores instrumentos para a prevenção de uma doença que não tem cura.