Wednesday, November 29, 2006

O sistema e a língua

Em tempos de virtualidade e avanço da informática parece que tudo está ligado ao tal sistema. Se você tiver um problema no banco, haverá alguém dizendo que o problema está no sistema. Ligue para a central de reclamação e aprenderá que o que você diz não tem solução porque o sistema diz outra coisa. Peça uma solução e poderá ouvir de alguém que o sistema não permite alterações.
Vá pessoalmente ao banco. Reclame com o gerente e ele dirá que o sistema não permite a solução que você tem certeza que lhe é de direito. Ameace então - com sutileza- de reclamar no Banco Central, pois ele regula o sistema financeiro.Talvez o gerente, sistemático, entre em pânico e tente resolver o seu caso.
Descubra na sua luta dentro do sistema que você foi roubado, pois o sistema bancário tem falhas e alguém pode ter clonado seu cartão magnético. Vá até uma delegacia e utilize o sistema policial, controlado pelo sistema jurídico. Aprenda que você foi vítima de estelionato, artigo 171, segundo a linguagem do sistema legal. Veja pessoalmente o escrivão assinar no lugar do Delegado Titular, com uma assinatura diferente da que indica o seu nome e se convença que o sistema permite falhas. 171 no B.O. de 171... Parece outro idioma, mas aconteceu e pode ser assim dito.
Volte ao banco. Ouça de uma gerente que o outro caso que deve ser resolvido, aquele que o levou até o banco, é um código 48, e que por isso deve ter outro procedimento. Olhe para o seu gerente e ouça dele que irá demorar um pouco mais, pois o sistema operacional do terminal está "dando pau, e que por isso será necessário dar um boot..." Seria sotaque ou gíria daquela outra língua da Delegacia?
Sorria sempre, pois você já se cansou de brigar. Perceba então que o sistema pode falhar e que com cordialidade muita coisa ainda se consegue no Brasil. Lembre-se que a sutileza pode se infiltrar no sistema como a água no solo. Lembre-se que a água reage com as rochas e que pode no longo prazo dissolvê-la.
Sorria novamente. Desta vez não para o gerente. Sorria para si mesmo, certo de que o sistema e sua maldita língua poderão um dia entrar em colapso. Basta saber como nos infiltrarmos. Tal como a água, o sistema poderá ser então dissolvido. Erodido.
Saiba que o sistema ainda não prescinde das pessoas. Alerte-as de que aceitar a língua do sistema com seus códigos e signos significa aceitar o domínio do sistema. Subverta a linguagem. Deboche sobre a gramática árida desse sistema. E então talvez possamos aprender que a linguagem livre é a tradução do estado das pessoas livres.
Aperte a mão do gerente e peça um protocolo, pois ainda é essa a linguagem que ele pode entender...

Friday, November 24, 2006

Falando da vida alheia

Abaixo está a primeira proposta permanente desse blog. Aparecerá toda vez que esse palpiteiro acreditar que pode falar algo sobre alguém. "Falando da vida alheia" tem como objetivo apresentar pessoas notáveis que normalmente são esquecidas. Num país em se perde tanto tempo para as aventuras submarinas de uma tal Cicarelli, o palpiteiro julgou apropriado abordar assuntos das vidas de outras pessoas...

Falando da vida alheia: Nelson Massini

Quem é Nelson Massini? Caso alguém queira saber sobre esse brasileiro, poderá acessar o google e digitar o nome dele entre aspas. Recomendo a ficha do cabra no lattes. Verá um currículo impresisonante. Massini é formado em odontologia pela Unicamp. Ficou reconhecido por sua participação no caso Mengele, em 1986. Para quem não lembra, Mengele foi um dos carrascos nazistas mais procurados pelo Mossad, serviço secreto de Israel -um dos melhores do mundo. Mengele fazia experiências genéticas em seres humanos no Campo de Auschiwitz, durante a II Guerra Mundial. Chegou a injetar tinta colorida nos olhos das pessoas para ver se poderia forjar a "raça ariana". Adorava fazer experiência em gêmeos. Crianças. Ao que consta, refugiou-se na Argentina após a guerra. Ouvi dizer que foi veterinário dos cavalos de Perón... Quando o Mossad estava quase a pegá-lo, entrou no Brasil, sabe-se lá com a ajuda de quem. Foi meu vizinho aqui em SP. Morava em Caieiras. Morreu afogado em Bertioga e foi enterrado em Embu. O corpo, pois a alma deve estar a queimar no inferno, em bom caldeirão, a 300 graus no óleo de dendê...
O Mossad chegou até seu túmulo em 1986. Ficou na dúvida se era mesmo o maldito. Romeu Tuma era chefe da Polícia Federal em SP, na época da transição democrática. Ficou assim: Tuma entrava com a fama, liberava a exumação do corpo e o Mossad teria o que queria: a certeza do caso Mengele. Tuma até hoje se orgulha dos prêmios que recebeu por isso. Tudo porque sabe assinar papéis...
Mengele era dado como morto com outro nome. Motivo: afogamento. Contudo, a caveira do esqueleto exumado apresentava um orifício no maxilar, dando a impressão de ter sido morto com um tiro, numa posição para lá de estranha. Era mesmo Mengele? Quem poderia dizer?
O caso Mengele envoleveu muitas pessoas. Legistas de SP comprovaram que era mesmo o safado. Na Inglaterra fez-se o exame de DNA, um dos primeiros para uso em medicina legal no mundo. Mas tivemos também Massini.
Como odontologista conseguiu provar o seguinte: Mengele tinha um problema crônico num dente. Não podia ir ao dentista, pois o padrão de sua arcada dentária o denunciaria como alemão do tempo da II Guerra. Como médico resolveu se virar. Cutucava com uma agulha o dente. Fazia a assepcia e depois esperava até a próxima vez. Fez isso durante muito tempo. Perfurou o maxilar de tanto fazê-lo. Segundo Massini, devia doer pra caramba... Azar o dele, digo do Mengele... Assim se notabilzou Massini, internacionalmente.
Em 1990, Caco Barcelos, ao fazer suas investigações sobre a morte de pessoas pela Rota em SP, chegou até o cemitério de Perus, também aqui perto de casa... Resultado: descobriu uma vala comum, onde vários corpos estavam enterrados como indigentes. Muitos com tiros no crânio, indicando execução. A ficha de muitos desses indigentes tinha um "T" bem grande na foto do IML, referindo-se à classificação de "terrorista". Esse termo era muito comum entre os agentes da repressão política àqueles considerados subversivos. Massini estava na Unicamp e assumiu o compromisso de identificar os corpos de Perus.
Em 1996, 19 sem-terras foram mortos pela polícia militar do Pará. A PM alegou confronto, numa situação em que tivemos 19 mortos de um lado e nenhum do outro. Curioso confronto com questionável desequilíbrio de forças...Massini comprovou que pelo menos 10 deles foram executados.
Seguiu um caminho nada convencional. Como dentista formado pela Unicamp poderia ter uma excelente carreira em SP, talvez na Oscar Freire, ganhando uma boa grana. Preferiu medicina legal. Apenas um louco para pegar gosto nisso. Ou apenas uma pessoa compromissada com certos princípios para entender a importância dessa área para a sociedade brasileira. Massini merece muito mais respeito do que seu longo currículo sugere. Num país em que muitos se impressionam com títulos, deveria ser respeitado pelas suas atitudes de interesse claramente coletivo.
Obs.: Além do Google, também é possível ler uma entrevista dada por ele na Revista Caros Amigos há alguns anos. Não me perguntem o número... Parece que o cabra também fez alguns serviçois para a ONU. Na incerteza dessa informação, preferi não citar. Quem souber, agradeço o palpite...

Wednesday, November 22, 2006

Anorexia e cinismo

A última vez que comprei uma revista Veja foi em Setembro de 1999. Queria "me informar" sobre os bombardeios da Otan sobre a antiga Iugoslávia. (É, no tempo do Clinton e dos democratas também existiam bombas...). Quando abri a revista sob o título "A Guerra pós-moderna" percebi que fui enganado. Fotos que ocupavam pelo menos a metade das páginas, impressionantes. E nada de texto. Descobri que Veja é para quem não gosta ou não sabe ler. Desde então acompanho esse panfleto que chamam de revista através das capas, nas bancas de jornal.
A mesma revista que foi moralista com Cássia Eller (drogas), Cazuza (homossexualismo, lembra? Eu me lembro...), política (PT e o mensalão) essa semana ataca a anorexia. Não preciso abrir a revista para imaginar as críticas cheias de adjetivos a condenar a busca insana pela beleza artificial. Não preciso de uma boa memória para me lembrar das capas de Veja que exaltavam esse mesmo padrão de beleza, com chamadas pró-operações plásticas ou dicas dietéticas...
Pensei então na incoerência que é geral e não exlusiva de Veja. Pensei nos filmes e desenhos animados que exaltam a comilança. Scooby-doo me veio a mente. Comer é sempre engraçado, divertido. Lembrei também das horas que a televisão dedica a mostrar receitas de comidas. Sempre com os anúncios publicitários dos produtos que serão necessários aos pratos sugeridos. "Nestlé", "Maggi"e claro, geladeiras, fogões e microondas a prazo nas casas Bahia... Sou do tempo em que os pais achavam absurdo comer fora. Lanches eram considerados supérfluos e muito caros. O pão-com-mortadela era algo tão comum quanto lógico nos diversos passeios. Herança dos imigrantes. Mas vieram os costumes made in USA. Comer fora e em grande quantidade passou a ser legal. Levar lanche de casa tornou-se algo menor, coisa de farofeiro. E uma vez na rua, o que comer? Mc Donald's. Pizza. "Lanche natural". (Até hoje desejo saber em que árvores dão esses lanches, ou se são criados em cativeiro, naturalmente...) O Mc Donald's descobriu o óbvio: invista sempre em crianças. Faça-as saber que o Big Mc é gostoso, legal e salva a vida das criancinhas com câncer. Agrade-as com brinquedinhos made in China para torná-las como as crianças obesas made in USA.
Quanda essas crianças se tornarem adolescentes descobrirão outro mundo. O mundo dos magros e fortes. A barriga cultivada com carinho e alegria na infância passará a ser um incômodo social, psicológico, psiquiátrico, estético e ecológico..
Mas tudo isso é contraditório? Incoerente? Para quem pensa no bem das pessoas pode ser que sim. Para quem busca o lucro a qualquer custo não. Veja e outros meios de informação tem compromisso com as vendas, não com a coerência. Hoje condenamos a anorexia e a busca pela perfeição estética. Semanas seguintes exaltamos a gula natalina e anunciamos as novas formas de emagrecimento. Informar? Vender?
Ao me fazer essas perguntas, lembrei-me de um grupo musical da década de 1980: Gengis Khan. Um argentino com umas mulheres oxigenadas e com poucas roupas tentou fazer sucesso com música tecno. Não deu tão certo quanto uma música chamada "Comer e comer". As crianças adoraram. As mães aplaudiram. O Biotônico Fontoura sentiu um breve sopro de concorrência. Lembro-me até hoje das piadas de duplo sentido e escassa inteligência do Gugu Liberato. Claro, mulheres de biquinis cantando "comer e comer" eram mesmo um prato cheio para piadas do nível do SBT...
Ao cinismo de Veja e a toda máquina de indução ao consumo alimentar de nossos dias dedico essas poucas palavras. Abaixo tem a letra do antigo "sucesso" de Gengis Khan. Cuidado, pode ser perigoso para menores...

Comer é lindo...

Comer Comer Gengis Khan
Quero acordar bem cedinho Fazer um lanchinho Laranja, café, leite e pão
Quero também chocolate Iogurte, abacate Biscoito, presunto e melão Quero comer toda hora Uma torta de amora Bolinha de anis ou caju
Eu gosto mais de torrada E uma baita fritada de carne de cobra e tatu
Eu gosto mais de torrada E uma baita fritada de carne de cobra e tatu Até de tatu? De cobra faz mal! Mas que comilão! Nhão! Nhão! Nhão!

Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer
Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer
Quero comer no almoço Um bife bem grosso Polenta, batata e arroz Prefiro carne assada Banana amassada com leite Sucrilho depois
Quero ensopado de frango Sorvete, morango Suspiro, pudim e manjar Eu vou ficar numa boa Comendo leitoa Com broa depois do jantar
Eu vou ficar numa boa Comendo leitoa Com broa depois do jantar Depois do jantar? Será que vai dar??? Não vai agüentar!!! 1, 2, 3
Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer Arriba! Comer comer, comer comer, comer comer comer comer comer Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer
Se eu não como, me dá nó nas tripas Me ataca a gripe Não posso dormir Incha meus olhos Eu fico tão fraco Que até um mosquito Vai me destruir Se eu não como, não posso gritar Não consigo falar E comer, só tremer Eu como de uma só vez A comida de um mês Até minha barriga crescer Eu como de uma só vez A comida de um mês Até minha barriga crescer Comida de um mês? Comendo outra vez? De uma só vez? 1, 2, 3
Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer Comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer

Obs.:por honestidade, aqui está o endereço de onde copiei e colei essa poesia: www.versostoscos.blogger.com.br

Monday, November 20, 2006

CONSCIÊNCIA NEGRA

Hoje é feriado na cidade de São Paulo, dia da consciência negra. Esse palpiteiro ouviu almas brancas de diferentes origens e semelhantes mediocridades manifestarem certa indignação, pois achavam injusto não poderem usar camisetas como "100% branco" ou que não tivessem um dia do branco. Para omitir o próprio racismo, esse palpiteiro percebeu que a tática é apontar o racismo no negro. O palpiterio em questão não é negro e nem branco, clasificando-se como "outros" segundo a metodologia do IBGE. Mas o palpiteiro leu um livro que recomenda, chamado "Longo caminho para a liberdade", escrito por um tal Nelson Mandela.
Mandela foi dos poucos alfabetizados em seu povo no sul da África do Sul, os Xhosa. Era campeão de boxe amador na categoria peso-pesado, bom orador e tinha cursado Direito quando foi morar em Jhoanesburgo. Não deu muito certo tratar um negão inteligente pra caramba, com mais de 1,80m e mais de 90 kg como inferior. Mandela foi obrigado a morar em SouthWesternTownship, SOWETO, um dos maiores centros de resistência ao regime racista do Apartheid. Partiu para a guerrilha e foi mais tarde preso e condenado a prisão perpétua como inimigo do povo. Ficou 27,5 anos preso. Na cadeia escreveu o livro que credenciou o palpitieiro a opinar sobre o dia de hoje. Entre tantas histórias, Mandela revela que o racismo não é inato. Não somos racistas por natureza, aprendemos a sê-lo. Esse ensinamento jamais foi esquecido.
Certa vez, o palpiteiro estava num Shoping metido a besta em SP. Era época de Natal e crianças pobres e mal vestidas entraram para brincar perto do papai Noel, o velho batuta. A filha do palpiteiro tinha pouco mais de 3 anos e brincou com as outras crianças, sem diferenciá-las pelas roupas ou pela cor da pele. As crianças são capazes disso. O palpiteiro estava emocinado, pois naquele instante entendeu Mandela. Por pouco tempo.
Os pais das outras crianças estavam indignados com a presença dos meninos pobres, mulatos e negros em sua maioria. Alguns tiraram seus filhos, ensinando-os a não se aproximarem daquela gente. Outros procuravam a segurança. O palpiteiro acredita que as crianças brancas daquele Shoping aprenderam uma lição ensinada há alguns séculos no Brasil.
Mandela disse que se aprendemos a ser racistas, podemos também aprender a não ser. Se entendermos a importância do dia de hoje, sem a medíocre reação às manifestações dos militantes negros, teremos um primeiro passo para um longo aprendizado. Assumir o problema é um avanço. Milton Santos, ilustre brasileiro e também genial como Mandela, disse que no Brasil não é feio ser racista, mas sim dizer que se é. Quem sabe hoje algumas almas brancas não repensem seus valores e rótulos?

Sunday, November 12, 2006

Filmes que eu recomendo e que ninguém quer ver...

O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS
Assisti ontem esse filme. A direção é de Cao Hamburger. o mesmo que dirigiu a série Castelo Rá-Tim-Bum que a extinta TV Cultura, atual TV Comercial, transmitiu na década de 1990.

O contexto do filme é um bairro de forte presença judaica em São Paulo, o Bom Retiro, no ano de 1970.

Muitas referências são lançadas no filme de um modo muito sutil. Para aproveitá-lo ao máximo, vai aqui alguns palpites:

- Tenha o cohecimento de algumas práticas judaicas, como a circuncisão e o Bahr Mitziva.

- Lembre-se que o ano de 1970 foi dos mais fechados durante toda a ditadura. O AI-5 tinha pouco mais de um ano e, apesar da pouca idade, fez um estrago considerável no exercício da liberdade e do palpite.

- Tente saber o que foi o AI-5...

- Seguindo sugestões do próprio diretor numa entrevista que ouvi pelo rádio no trânsito de SP, tive uma especial atenção sobre a tolerância entre pessoas de diferentes culturas e religiões. Você perceberá que política, futebol e a ausência de pessoas queridas são apenas elementos de um ambiente criado pelo diretor para tratar da importância do respeito entre as pessoas.

- E por fim, o palpite primordial: caso tenha alguns cretinos querendo "comentar baixinho" o filme durante a sua exibição, mande-os ficar quietos. Isso me incomodou profundamente num cinema daqui de São Paulo famoso por ter em seu público pessoas com aparência de intelectuais... Aparência.

Obs.: Vou contar o fim do filme: o Brasil ganha a Copa de 1970. Desculpe, não resisti...

PALPITE

DIREITO AO PALPITE
Esse blog é uma experiência de um palpiteiro no mundo virtual. Acostumado a dar palpites sobre o mundo na vida real, esse palpiteiro quer agora avançar as fronteiras...
O palpite é uma prática muito apreciada no Brasil, sendo um direito inalienável do cidadão. É da natureza do palpite não se restringir ao conhecimento do palpiteiro. Dá-se palpite a tudo ou qualquer coisa que possa ser objeto de considerações palpiteiras. Sendo assim, os palpites aqui emitidos abordarão política, ciência, artes, religião, sociedade, lazer, sexo e qualquer outra coisa que possa ser digna de um palpite.
Se quiser participar seja bem-vindo. Dê o seu palpite. Exerça seu direito ao palpite diário e livre.