Enquanto você estiver lendo esse palpite, estarão em funcionamento 442 usinas nucleares em todo o mundo, 2 no Brasil. Ao mesmo tempo outras 65 estarão em construção, 1 no Brasil.
E enquanto o palpiteiro esteve a escrever o que aqui segue, as autoridades japonesas tentavam buscar uma solução segura e eficaz para evitar um acidente nuclear de piores proporções na usina de Fukushima Daiichi. A usina foi afetada pelo terremoto que abalou sua estrutura e os japoneses foram obrigados a liberar parte da radiação do reator nuclear dela para aliviar a pressão e evitar o pior, uma explosão. Existem 2 usinas nucleares em Fukushima e o medo que todos que acompanham o caso com maior atenção é que se repita o que o mundo viu em Chernobil, na antiga URSS em 1986.
A favor do Japão em relação ao que ocorreu na antiga URSS tem a maior tecnologia, o aprendizado do que não se deve fazer e um preparo maior e com mais recursos para evitar acidentes, inclusive o essencial: dinheiro.
Contra, jogam a falta de informações precisas sobre o que realmente ocorreu, a falta de tempo para tomada de decisões mais serenas e a distância das usinas em relação a Tóquio, pouco mais de 200 km.
O Japão poderá ser o país que pela primeira vez na história soube lidar com um acidente de grande proporção de maneira competente e segura. Ou ir para a história como mais um argumento contra o uso dessa fonte de energia. Fukushima poderá ser esquecida daqui a poucos meses e voltar a funcionar normalmente. Mas também poderá ser sinônimo de tragédia nuclear e ficar ao lado de Chernobil quando lembrarmos dos riscos das usinas nucleares.
O curioso nessa história é que para o bem ou para o mal, o problema ocorre justamente no único país do mundo que foi alvo de ataques de bombas nucleares, lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Nenhuma sociedade discutiu tanto e se preocupou tanto quanto às vantagens e desvantagens desse tipo de energia quanto a nação japonesa.
As bombas nucleares são o lado mais perverso da energia nuclear. São de diferentes tipos e feitas para causar diferentes tipos de estragos com proporções variadas. Podem ser de fissão nuclear e destruir tanto quanto contaminar o ambiente com radiação. Podem ser de fusão nuclear e destruir muito mais do que contaminar. E podem ser de neutrons, feitas para apenas contaminar. Matam tudo o que é vivo com sua radiação, mas deixam os prédios intactos. Seu apelido é "bomba suja".
Mas a energia nuclear também pode ajudar a humanidade. Tem uso cada vez maior na medicina, com radioterapia e diagnósticos. São cada vez mais importantes para diminuir a morte por vários tipos de câncer. Também podem gerar energia, como no caso de Angra I e II, que respondem por cerca de 20% da energia consumida no RJ.
Até abril de 1986 havia uma empolgação mundial com o uso da energia nuclear em usinas geradoras de eletricidade. Acidentes já tinham ocorrido, mas nenhum de grande proporção e todos com rápida solução. Estatisticamente era provado que era uma fonte segura de energia. A humanidade superestimou os números e passou a acreditar cada vez mais em si, numa arrogância que lentamente abriu caminho para a negligência.
Foi quando explodiu o reator de número 4 em Pripriaty, na usina de Chernobil, localizada na Ucrânia, então dominada pela Rússia na antiga URSS. O acidente foi muito grave. E os erros dos soviéticos inaceitáveis. Tentaram esconder da população e do mundo a gravidade do caso. Milhares de pessoas se contaminaram e muitas delas morreram. Ninguém sabe com precisão, pois a URSS era uma ditadura que escondia números. Apenas 3 dias depois do acidente o mundo ficou sabendo do caso. Suecos notaram níveis radioativos acima do normal nas suas usinas e perceberam que a contaminação vinha de fora. Acionaram a Agência Nuclear da Europa, que descobriu que a contaminação era trazida pelos ventos da primavera, vindos da planície russa. A URSS foi obrigada a reconhecer que houve um acidente, que não conseguia contê-lo e que sua população foi exposta de maneira desumana à radiação. Há quem acredite que o ódio do povo contra seu governo por conta dessas mentiras e mortes tenham acelerado os processos que fizeram com que terminasse o socialismo e a própria URSS. Chernobil não acabou sozinha com a URSS em 1991, 5 anos após Chernobil, mas ajudou muito.
Décadas se passaram e a humanidade foi se esquecendo dos riscos da energia nuclear. Voltamos a ficar arrogantes. A alta do preço do petróleo entre os anos de 2003 e 2008 estimulou muitos governos a defenderem o uso dessa fonte de energia novamente. O Brasil inclusive. Em 2006 Lula prometeu que reativaria a construção de Angra III. Seu opositor na época, Alckimin, concordou.
Alguns ambientalistas e gente preocupada com a relação da humanidade com a natureza passaram a defender o uso da energia nuclear como alternativa segura e viável para conter a emissão de gases-estufa. E no momento em que revoltas árabes ameaçam tornar o petróleo ainda mais caro, mais gente entendia que a energia nuclear era a solução.
Tudo estava indo bem, até ontem. Se a energia nuclear vai se confirmar como fonte segura de fato e com poucos riscos, ou como um grande mal que a humanidade deve evitar, discutiremos nos próximos meses.
A resposta virá do Japão. Mas ainda não está pronta.
5 comments:
Belo palpite, mestre.
Ótimo Post, Ótimo Blog.
Ótimo post, ótimo blog.
Excelente!
Agora todo mundo vai ficar falando da força da natureza... e a caravana passa!
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