Saturday, March 12, 2011

O Japão de hoje e o fantasma nuclear. Mais uma vez.

Enquanto você estiver lendo esse palpite, estarão em funcionamento 442 usinas nucleares em todo o mundo, 2 no Brasil. Ao mesmo tempo outras 65 estarão em construção, 1 no Brasil.

E enquanto o palpiteiro esteve a escrever o que aqui segue, as autoridades japonesas tentavam buscar uma solução segura e eficaz para evitar um acidente nuclear de piores proporções na usina de Fukushima Daiichi. A usina foi afetada pelo terremoto que abalou sua estrutura e os japoneses foram obrigados a liberar parte da radiação do reator nuclear dela para aliviar a pressão e evitar o pior, uma explosão. Existem 2 usinas nucleares em Fukushima e o medo que todos que acompanham o caso com maior atenção é que se repita o que o mundo viu em Chernobil, na antiga URSS em 1986.

A favor do Japão em relação ao que ocorreu na antiga URSS tem a maior tecnologia, o aprendizado do que não se deve fazer e um preparo maior e com mais recursos para evitar acidentes, inclusive o essencial: dinheiro.

Contra, jogam a falta de informações precisas sobre o que realmente ocorreu, a falta de tempo para tomada de decisões mais serenas e a distância das usinas em relação a Tóquio, pouco mais de 200 km.


O Japão poderá ser o país que pela primeira vez na história soube lidar com um acidente de grande proporção de maneira competente e segura. Ou ir para a história como mais um argumento contra o uso dessa fonte de energia. Fukushima poderá ser esquecida daqui a poucos meses e voltar a funcionar normalmente. Mas também poderá ser sinônimo de tragédia nuclear e ficar ao lado de Chernobil quando lembrarmos dos riscos das usinas nucleares.

O curioso nessa história é que para o bem ou para o mal, o problema ocorre justamente no único país do mundo que foi alvo de ataques de bombas nucleares, lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Nenhuma sociedade discutiu tanto e se preocupou tanto quanto às vantagens e desvantagens desse tipo de energia quanto a nação japonesa.

As bombas nucleares são o lado mais perverso da energia nuclear. São de diferentes tipos e feitas para causar diferentes tipos de estragos com proporções variadas. Podem ser de fissão nuclear e destruir tanto quanto contaminar o ambiente com radiação. Podem ser de fusão nuclear e destruir muito mais do que contaminar. E podem ser de neutrons, feitas para apenas contaminar. Matam tudo o que é vivo com sua radiação, mas deixam os prédios intactos. Seu apelido é "bomba suja".


Mas a energia nuclear também pode ajudar a humanidade. Tem uso cada vez maior na medicina, com radioterapia e diagnósticos. São cada vez mais importantes para diminuir a morte por vários tipos de câncer. Também podem gerar energia, como no caso de Angra I e II, que respondem por cerca de 20% da energia consumida no RJ.


Até abril de 1986 havia uma empolgação mundial com o uso da energia nuclear em usinas geradoras de eletricidade. Acidentes já tinham ocorrido, mas nenhum de grande proporção e todos com rápida solução. Estatisticamente era provado que era uma fonte segura de energia. A humanidade superestimou os números e passou a acreditar cada vez mais em si, numa arrogância que lentamente abriu caminho para a negligência.

Foi quando explodiu o reator de número 4 em Pripriaty, na usina de Chernobil, localizada na Ucrânia, então dominada pela Rússia na antiga URSS. O acidente foi muito grave. E os erros dos soviéticos inaceitáveis. Tentaram esconder da população e do mundo a gravidade do caso. Milhares de pessoas se contaminaram e muitas delas morreram. Ninguém sabe com precisão, pois a URSS era uma ditadura que escondia números. Apenas 3 dias depois do acidente o mundo ficou sabendo do caso. Suecos notaram níveis radioativos acima do normal nas suas usinas e perceberam que a contaminação vinha de fora. Acionaram a Agência Nuclear da Europa, que descobriu que a contaminação era trazida pelos ventos da primavera, vindos da planície russa. A URSS foi obrigada a reconhecer que houve um acidente, que não conseguia contê-lo e que sua população foi exposta de maneira desumana à radiação. Há quem acredite que o ódio do povo contra seu governo por conta dessas mentiras e mortes tenham acelerado os processos que fizeram com que terminasse o socialismo e a própria URSS. Chernobil não acabou sozinha com a URSS em 1991, 5 anos após Chernobil, mas ajudou muito.

Décadas se passaram e a humanidade foi se esquecendo dos riscos da energia nuclear. Voltamos a ficar arrogantes. A alta do preço do petróleo entre os anos de 2003 e 2008 estimulou muitos governos a defenderem o uso dessa fonte de energia novamente. O Brasil inclusive. Em 2006 Lula prometeu que reativaria a construção de Angra III. Seu opositor na época, Alckimin, concordou.

Alguns ambientalistas e gente preocupada com a relação da humanidade com a natureza passaram a defender o uso da energia nuclear como alternativa segura e viável para conter a emissão de gases-estufa. E no momento em que revoltas árabes ameaçam tornar o petróleo ainda mais caro, mais gente entendia que a energia nuclear era a solução.

Tudo estava indo bem, até ontem. Se a energia nuclear vai se confirmar como fonte segura de fato e com poucos riscos, ou como um grande mal que a humanidade deve evitar, discutiremos nos próximos meses.

A resposta virá do Japão. Mas ainda não está pronta.





5 comments:

Fi said...

Belo palpite, mestre.

Kyrie said...

Ótimo Post, Ótimo Blog.

Kyrie said...

Ótimo post, ótimo blog.

Anonymous said...

Excelente!

Edmar Ávila said...

Agora todo mundo vai ficar falando da força da natureza... e a caravana passa!