Em tempos de virtualidade e avanço da informática parece que tudo está ligado ao tal sistema. Se você tiver um problema no banco, haverá alguém dizendo que o problema está no sistema. Ligue para a central de reclamação e aprenderá que o que você diz não tem solução porque o sistema diz outra coisa. Peça uma solução e poderá ouvir de alguém que o sistema não permite alterações.
Vá pessoalmente ao banco. Reclame com o gerente e ele dirá que o sistema não permite a solução que você tem certeza que lhe é de direito. Ameace então - com sutileza- de reclamar no Banco Central, pois ele regula o sistema financeiro.Talvez o gerente, sistemático, entre em pânico e tente resolver o seu caso.
Descubra na sua luta dentro do sistema que você foi roubado, pois o sistema bancário tem falhas e alguém pode ter clonado seu cartão magnético. Vá até uma delegacia e utilize o sistema policial, controlado pelo sistema jurídico. Aprenda que você foi vítima de estelionato, artigo 171, segundo a linguagem do sistema legal. Veja pessoalmente o escrivão assinar no lugar do Delegado Titular, com uma assinatura diferente da que indica o seu nome e se convença que o sistema permite falhas. 171 no B.O. de 171... Parece outro idioma, mas aconteceu e pode ser assim dito.
Volte ao banco. Ouça de uma gerente que o outro caso que deve ser resolvido, aquele que o levou até o banco, é um código 48, e que por isso deve ter outro procedimento. Olhe para o seu gerente e ouça dele que irá demorar um pouco mais, pois o sistema operacional do terminal está "dando pau, e que por isso será necessário dar um boot..." Seria sotaque ou gíria daquela outra língua da Delegacia?
Sorria sempre, pois você já se cansou de brigar. Perceba então que o sistema pode falhar e que com cordialidade muita coisa ainda se consegue no Brasil. Lembre-se que a sutileza pode se infiltrar no sistema como a água no solo. Lembre-se que a água reage com as rochas e que pode no longo prazo dissolvê-la.
Sorria novamente. Desta vez não para o gerente. Sorria para si mesmo, certo de que o sistema e sua maldita língua poderão um dia entrar em colapso. Basta saber como nos infiltrarmos. Tal como a água, o sistema poderá ser então dissolvido. Erodido.
Saiba que o sistema ainda não prescinde das pessoas. Alerte-as de que aceitar a língua do sistema com seus códigos e signos significa aceitar o domínio do sistema. Subverta a linguagem. Deboche sobre a gramática árida desse sistema. E então talvez possamos aprender que a linguagem livre é a tradução do estado das pessoas livres.
Aperte a mão do gerente e peça um protocolo, pois ainda é essa a linguagem que ele pode entender...