Wednesday, December 20, 2006

O ITA e o consumismo

Um aluno comentou com esse palpiteiro sobre a proposta de redação para o ITA 2007 que tinha como tema uma frase muito sugestiva: “Compro, logo existo”. O dito cujo estava apreensivo, pois embora a instrução da banca examinadora dissesse que critérios ideológicos fossem descartados, o aluno ficou cabreiro e disse que optou por uma crítica comedida ao capitalismo, sem qualquer conotação que o identificasse como “de esquerda”. Esse palpiteiro entendeu e concordou com a atitude do aluno, mas não sem ficar se questionando sobre que motivos levariam o ITA a propor tal redação. Antigamente –há muito tempo mesmo...- não havia vestibular para muitos cursos universitários. O aluno se inscrevia no curso que queria fazer. Marcava-se uma data para uma entrevista e numa conversa de cerca de meia hora o professor da instituição dava o resultado. Por ser aos sábados, esses exames -que na verdade eram entrevistas - ficaram conhecidos como sabatinas. Os tempos hoje são outros. Antigamente poucos terminavam o que chamamos de nível médio e por isso a entrevista se justificava. E se foi verdade que o número de pessoas com o ensino médio completo aumentou, o mesmo não ocorreu com o número de vagas nas universidades, pelo menos não na mesma proporção. Mas a tal sabatina era muito mais do que uma prova oral. O professor tentava avaliar também o aluno por outros critérios como capacidade de argumentação, pensamento lógico, retórica e postura. Não é preciso pensar muito que injustiças também foram cometidas, tal a possibilidade de julgamentos subjetivos predominarem em alguns casos.

Com tanta gente capaz de cursar uma universidade pública e com tão poucas vagas, as universidades optaram pelos tais exames vestibulares. Uma vantagem foi a possibilidade de se avaliar uma grande quantidade de alunos em menor tempo. Dentre as desvantagens estava o risco de aprovar alunos com posturas éticas discutíveis, pois nada impede que uma pessoa seja extremamente inteligente e mau caráter. Uma qualidade não elimina necessariamente a outra. Qual a solução? Muito simples: redação. Além de avaliar certos posicionamentos éticos, há a vantagem de se avaliar a capacidade argumentativa do candidato, além de sua lógica. Unicamp, Fuvest e o Enem estão entre aqueles que reconhecem o valor das redações. Por isso a escolha de temas polêmicos e por vezes espinhosos, como o que o ITA propôs para 2007.

Mas porque uma instituição ligada à Aeronáutica, historicamente anticomunista, daria uma chance dessas, de criticar o capitalismo? Armadilha? Só para lembrar, apenas recentemente o ITA reconheceu o direito de alguns alunos terem seus diplomas, pois foram perseguidos em 1964 e 1975 sob o rótulo de “comunistas”. Coisas das ditaduras... Por isso o incômodo para esse palpiteiro: por quê?

O ITA foi criado em 1950. O mundo ainda estava chocado com o fim da Segunda Guerra Mundial e mais ainda impressionado com o desempenho dos EUA e da URSS. Os EUA estouraram Hiroshima e Nagasaki com bombas atômicas que quatro anos antes eram apenas “uma teoria”. Com dinheiro e muita ciência aplicada, provaram ao mundo que conhecimento pode se traduzir em Poder. Os soviéticos seguiram o caminho. E o resto da humanidade também. Pipocaram universidades e centros de pesquisa em todo o mundo. Alguns países multiplicaram por mil vezes o que investiam em pesquisas antes da maldita guerra. E assim o mundo mudou, dada a quantidade de conhecimentos adquiridos em tão pouco tempo. Iniciamos a “era atômica”, cuja chamada “era digital” também é um subproduto. Mais do que isso, o ITA, a USP, a UFRJ, o INPE, o INCOR, a PETROBRÁS e outras instituições brasileiras ligadas a algum tipo de conhecimento, nasceram do desejo de criar algo próprio, moderno e genuinamente nacional. Mário e Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral plantaram as sementes, colhidas por tantos brasileiros ousados como Oscar Niemeyer, Aziz Ab´Saber ou Isaias Raw, respectivamente arquiteto, geógrafo e pai das vacinas brasileiras. Outro Brasil, que acreditava que seria possível importar idéias para soluções próprias. Antropofagia... O Modernismo nos propunha isso: só fazer.

Mas algo aconteceu e nos desviamos de um caminho interessante. Trocamos o só fazer do modernismo pelo Just do it da Nike. A maldita ideologia neoliberal da década de 1990 pegou como praga e um sentimento de inferioridade se intensificou no Brasil. Em lugar de fazermos, melhor seria comprarmos. Pacotes prontos, em kits. Ligue 011 1406 e toque seu país para frente. Basta pagar. Aceitamos cartões... E assim abandonamos parte do sonho de tantos brasileiros que desejavam um país autônomo tecnologicamente e talvez melhor. O ITA formou grande parte dos engenheiros que hoje trabalham na Embraer, líder das exportações brasileiras. Pode parecer bobagem, mas esse palpiteiro acredita que o ITA está muito mais preocupado com as razões de sua existência do que o consumismo do capitalismo. Mas é só um palpite...

7 comments:

Anonymous said...

Bom texto, Moraes !
ainda bem que fiquei bem longe de assuntos "ideológicos" na minha redação.

Anonymous said...

P.S. Na redação da Unesp lembrei do seu texto do "Comer-Comer"

Anonymous said...

eu gosto das opções
"bloggerm anônimo e outro"
eu sou sempre o outro!!!
é, passei da fase do vestibular... mas, interessante...
todas as faculdades dizem não avaliar por carater ideologico as redações, mas... muita gente diz q não é bem assim!!!
abraços...

Anonymous said...

oi querido, tudo bem????
voc~e continua impossível hein...hauahauahu
tô com muita saudade de você
beijos da sua querida aluna:
VALÉRIA

Anonymous said...

Huahuahua não avaliam caráter ideológico ?!?!?! Coisa de manual neh !? ainda bem q eu jah passei disso =P
excelente seu palpite, um dos melhores eu diria
bju

Anonymous said...

nada a ver
todos os professores de pt/redação com quem conversei garantiram
que no vestibular do ITA não há policiamento ideológico.

Eles ainda frisam: "a banca examinadora aceitará qualquer posicionamento do candidato."

Afinal de contas, a quantos anos deixamos os anos de chumbo?

Anonymous said...

não sei não

leia a biografia do Marechal Casimiro Montenegro, escrita pelo Fernando Moraes.
O ITA é a melhor faculdade de Engenharia da América Latina.

Foi criada aos moldes do MIT e é produto de um sonho pessoal do Casimiro. O resto é história para boi dormir.