Wednesday, November 22, 2006

Anorexia e cinismo

A última vez que comprei uma revista Veja foi em Setembro de 1999. Queria "me informar" sobre os bombardeios da Otan sobre a antiga Iugoslávia. (É, no tempo do Clinton e dos democratas também existiam bombas...). Quando abri a revista sob o título "A Guerra pós-moderna" percebi que fui enganado. Fotos que ocupavam pelo menos a metade das páginas, impressionantes. E nada de texto. Descobri que Veja é para quem não gosta ou não sabe ler. Desde então acompanho esse panfleto que chamam de revista através das capas, nas bancas de jornal.
A mesma revista que foi moralista com Cássia Eller (drogas), Cazuza (homossexualismo, lembra? Eu me lembro...), política (PT e o mensalão) essa semana ataca a anorexia. Não preciso abrir a revista para imaginar as críticas cheias de adjetivos a condenar a busca insana pela beleza artificial. Não preciso de uma boa memória para me lembrar das capas de Veja que exaltavam esse mesmo padrão de beleza, com chamadas pró-operações plásticas ou dicas dietéticas...
Pensei então na incoerência que é geral e não exlusiva de Veja. Pensei nos filmes e desenhos animados que exaltam a comilança. Scooby-doo me veio a mente. Comer é sempre engraçado, divertido. Lembrei também das horas que a televisão dedica a mostrar receitas de comidas. Sempre com os anúncios publicitários dos produtos que serão necessários aos pratos sugeridos. "Nestlé", "Maggi"e claro, geladeiras, fogões e microondas a prazo nas casas Bahia... Sou do tempo em que os pais achavam absurdo comer fora. Lanches eram considerados supérfluos e muito caros. O pão-com-mortadela era algo tão comum quanto lógico nos diversos passeios. Herança dos imigrantes. Mas vieram os costumes made in USA. Comer fora e em grande quantidade passou a ser legal. Levar lanche de casa tornou-se algo menor, coisa de farofeiro. E uma vez na rua, o que comer? Mc Donald's. Pizza. "Lanche natural". (Até hoje desejo saber em que árvores dão esses lanches, ou se são criados em cativeiro, naturalmente...) O Mc Donald's descobriu o óbvio: invista sempre em crianças. Faça-as saber que o Big Mc é gostoso, legal e salva a vida das criancinhas com câncer. Agrade-as com brinquedinhos made in China para torná-las como as crianças obesas made in USA.
Quanda essas crianças se tornarem adolescentes descobrirão outro mundo. O mundo dos magros e fortes. A barriga cultivada com carinho e alegria na infância passará a ser um incômodo social, psicológico, psiquiátrico, estético e ecológico..
Mas tudo isso é contraditório? Incoerente? Para quem pensa no bem das pessoas pode ser que sim. Para quem busca o lucro a qualquer custo não. Veja e outros meios de informação tem compromisso com as vendas, não com a coerência. Hoje condenamos a anorexia e a busca pela perfeição estética. Semanas seguintes exaltamos a gula natalina e anunciamos as novas formas de emagrecimento. Informar? Vender?
Ao me fazer essas perguntas, lembrei-me de um grupo musical da década de 1980: Gengis Khan. Um argentino com umas mulheres oxigenadas e com poucas roupas tentou fazer sucesso com música tecno. Não deu tão certo quanto uma música chamada "Comer e comer". As crianças adoraram. As mães aplaudiram. O Biotônico Fontoura sentiu um breve sopro de concorrência. Lembro-me até hoje das piadas de duplo sentido e escassa inteligência do Gugu Liberato. Claro, mulheres de biquinis cantando "comer e comer" eram mesmo um prato cheio para piadas do nível do SBT...
Ao cinismo de Veja e a toda máquina de indução ao consumo alimentar de nossos dias dedico essas poucas palavras. Abaixo tem a letra do antigo "sucesso" de Gengis Khan. Cuidado, pode ser perigoso para menores...

10 comments:

Anonymous said...

"Lanche natural". è mesmo! pq chamar de natural algo qeu geralmente leva: maionese, presunto, mussarela, atum ralado em conserva e condimentos, além do pão?

Nada disso dá em árvore e nada é encontrado na in natura.

Pior que isso é num país que vende toneladas de suco de laranja a preço uma duzia de banana, o copo se suco custar mais caro que uma coca-cola.

Vai ver que é pq. deve fazer um bem danado.

Rasca

Anonymous said...

A "jogadinha" é essa mesmo: propaganda feita para crianças quererem ser depósito de gordura com um palhacinho do mc do lado e dpois, na adolescência, se matam nas academias, fazem plásticas, ficam sem comer e o melhor de tudo isso ainda pode ser "ensinado" em alguns blogs, sites e comunidades do orkut por aí...
por exemplo: "coma apenas 200kcal por dia durante uma semana e perderá tantos quilos..." bulémicas "aconselhando": "o sorvete e comidas geladas são mais fáceis de gorfar, mastigue bem a comida"...
de todas as maneiras uma minoria se beneficia com o estrago na saúde dos outros e tudo isso com total apoio da mídia.
Simplesmente ninguém percebe.
e o mais surpreendente: alguns ainda se chocam quando uma modelo de 42kgs morre!
Realmente era algo totalmente "inesperado".

Professor, gostei mtu do seu blog, se meu comentário não fizer nenhum sentido desculpe pela ignorância.

Béf

Anonymous said...

tbm acabei de montar um fotolog, dá uma passada qqr dia, mesmo sendo meio "sem conteúdo".

http://ubbibr.fotolog.com/bifenha/

Béf

Anonymous said...

Acho que o problema não é existirem Veja´s e Mc´s, pois eles só estarão no nosso dia-a-dia se permitirmos.
O problema todo está na nossa sociedade facilmente manipulável, que sempre irá seguir as "tendencias" impostas, no caso, um corpo absurdamente magro.
Achei interessante o q aconteceu na Semana de Moda de Madri. Não q isso vá resolver o problema, mas pode ser um primeiro passo para q esse conceito besta de beleza seja quebrado.
Com certeza as mídias voltarão com as dietas pós natal assim que o assunto "anorexia" sair de pauta, mas tomara que, nem tão cedo, as pessoas esqueçam da modelo Ana Carolina.

Anonymous said...

concordo plenamente com suas palavras,

atualmente o mundo vive em torno do comercio (sempre viveu) mas hoje, eles nao ligam mais para nos trazer informacoes inteligentes as nossas vidas, soh ligam se seus produtos estarao vendendo...

Anonymous said...

No meu caso, nunca liguei pra essa apelação alimentar(que por acaso é evidente),mas pelo padrão de corpo "ideal" e sei o quanto é difícil aguentar a programação alimentar do comércio.Isso vai nos ajudar como prepararmos nossos filhos,em um período longínquo,e nos prepararmos para esse marketing que logo,logo voltará à tona.

Anonymous said...

A alguns anos atrás, fizeram um pesquisa entre as crianças brasileiras sobre o que elas gostariam de ser quando crescerem. A grande maioria queria ou ser modelo/artista de novela ou jogador de futebol. A mesma pesquisa foi feita entre criaças koreanas, e, surpreedentemente, a resposta majoritária foi "presidente da república".
O que isso tem a ver com o tema aneroxia? Resposta: inversão de valores. Hoje, no Brasil, valoriza-se mais uma "gisele" ou um "ronaldo" que um prêmio nobel. O que se esperar de um país que tem essa mentalidade???

Anonymous said...

Os Armênios dominarão o mundo ao lado da soja!!!
Falando em soja e mcdonald's, olha esse "joguinho virtual" http://www.minijuegos.com/juegos/jugar.php?id=4183
nele vc eh o responsavel pelo McDonalds, e tem q cultivar soja, criar bois, mata-los, fazer acordos, mkting para crianças e "Mc for 3rd world"!
Eh mtu bom!!!

abraços

Anonymous said...

Esse assunto, Anorexia, não está trazendo a tona apenas a preocupação absurda com a beleza, mas deixa claro o nível de hipocrisia que a sociedade atual atingiu. Como exemplo posso citar, o programa do Gilberto Barros, que chegou ao ponto de chamar para seu progama a mãe da modelo falecida...
Durante a entrevista, o apresentador teve a cara de pau de interromper para fazer propaganda de um produto de emagrecimento milagroso...
O cara não ficou nem constrangido...

Anonymous said...

Concordo em n.º, gênero e grau. Bombardeados por uma ilusão de vida de primeiro mundo, come-se em fast food, compra-se muito alem do consumo necessário, partindo para o-hoje em dia- inevitável consumismo... Para isso existem tais meios de comunicação, vitrine da vida desejada e nem sempre alcançada se não for no carnê.
Agora pergunte-se se o garoto da periferia que ganhou da mamãe um mp3 parcelado em 24 x se ele sabe ler e absorver o q leu, ou se apenas é uma máquina de reprodução.
Qual a solução para isso? investir na educação? Claro que não, vc é louco? vamos fazer revistas com milhares de fotos, sem conteúdo e cheia de propaganda para completar a cartilha que garantirá o Brasil no 3º mundo durante as próximas mil gerações.
Não sei ainda porque quero ser socióloga....