Um moleque inconsequente no comando de um jet sky atropelou uma garotinha de 3 anos e a matou.
O moleque fugiu, sem prestar qualquer tipo de ajuda, sem perguntar o que aconteceu.
Sem admitir o que provocou.
Ao chegar em casa deve ter contado o fato aos pais.
Muitas serao as possibilidades do dialogo entre os pais do moleque e o rebento.
Seja la qual for a conversa que tiveram, o que se sabe: seus pais julgaram melhor fugir com o garoto das vistas de quem quer que fosse incomodar a tranquilidade da familia.
Ha quem diga que os pais deram fuga de Bertioga em um helicoptero. Tem gente que afirma que sairam em seus carros, convencionais para aquele padrao de moradia.
Seja de helicoptero, seja de carro, fica a curiosidade. O que conversaram no caminho? Teria o pai chamado o garoto para uma conversa seria? Teria ele lembrado do mal que seu garotinho provocou a outra familia? Ou o pai o foi xingando por ter estragado o feriado de carnaval??
O palpiteiro fez coisas erradas quando era menor. Em nenhuma delas seus pais o acobertaram.
Um vez o palpiteiro nao fez a tarefa de casa. A professora escreveu um bilhete que dizia: "...seu filho nao fez a tarefa de casa..."
A mae do palpiteiro leu o bilhete, deu um sabao nele e escreveu, no verso do bilhete: "...meu filho nao fez a tarefa porque foi vagabundo. Por favor, dobre a tarefa de hoje para ele..." A mae do palpiteiro acreditou na professora, respaldou a autoridade da mestra e nao deu chance de defesa. Aprendizado: ou anda na linha, ou fica sozinho com seu erro. O palpiteiro fez a taboada do 5 umas 20 vezes, pois a tarefa era para que todos fizessem 10 vezes...
O palpiteiro se recusa a acreditar que a maioria das familias tenham atitudes covardes e indignas como a familia do moleque do jet sky.
E fica aqui um desafio. Se voce tem alguma historia desse tipo, no qual seus pais, avos ou quem quer que seja o deixou na mao para educa-lo, que post aqui. Nada de comentario. Apenas exemplos de pais responsaveis...
Tuesday, February 21, 2012
Thursday, February 16, 2012
Lindemberg condenado e outros culpados livres
O palpiteiro acabou de assistir à transmissão da sentença de Lindemberg, assassino confesso da adolescente Eloá.
O julgamento só não foi mais explorado do que o próprio caso, no qual abutres de terno e gravata transmitiam com emoção e música de fundo um bandido com descarada vontade de sair na TV.
A juíza leu a sentença com elogios à PM de SP. Lembrou que é uma "das instituições mais respeitáveis do país". Fez referência ao combate diário que a PM de SP tem contra a bandidagem. Certo. Esqueceu-se de lembrar que a PM paulista foi para a história mundial como aquela que devolveu uma refém ao sequestrador. Ou o palpiteiro endoidou, ou muita gente se esqueceu que a outra menina, Nayara, se aproximou tanto de Lindemberg - com permissão da PM- que acabou sendo presa novamente. Nayara levou um tiro na boca e quase perdeu a vida. Mas a PM fez seu papel, segundo a juíza...
A juíza, quase elevada à condição de alteza, não poupou elogios também à imprensa. Lembrou do papel que a imprensa tem na comunicação entre o Estado que defende a lei e a sociedade, que deve ser defendida. Palavras bonitas, dignas de um discurso de formatura... Mas não há chance de sua alteza, a meritíssima juíza, repetir essa frase quando for lembrada que a "imprensa livre' deu voz ao macabro show de Lindemberg. Ou o palpiteiro endoidou, ou há registro de que a Rede TV transmitiu uma entrevista ao vivo, por telefone, do tal Lindemberg, que teve lá seu momento de fama e gloria televisa.
A "imprensa livre" do Brasil parece ter memória curta, em solidariedade à alteza meritíssima. Pois não é que deu pouco espaço para o pai da vítima? Everaldo Santos, era cabo da PM em Alagoas. Foi condenado pelo assassinato de um delegado de lá. Estava pedido pela justiça alagoana a pagar 33 anos de cadeia. No desfecho do caso, fugiu e não pode ir ao enterro da filha. Acabou preso um ano depois.
O palpiteiro tangencia a leviandade e arrisca imaginar que não pegava bem dar destaque ao caso do pai de Eloá. Vítima de um lado, por ter perdido a filha. Bandido de outro, por ter matado outras pessoas e viver em SP com identidade falsa. Não pegava bem para uma cobertura jornalística que priorizou a condenação de Lindemberg e fingiu que a ação da PM no caso fora impecável.
Que não se diga por aqui que o palpiteiro defende o assassino. é réu confesso, mau, exibido e tonto. Uma condenação a 98 anos de cadeia, mesmo que cumpra apenas 30 anos, não parece muito, neste caso. A sentença parece justa.
O que intriga o palpiteiro é o espetáculo midiático, no qual busca-se falar mal apenas de UM malvado. O ódio instigado contra Lindemberg lembra muito a expiação feita com sacrifício humano. Entrega-se um condenado à execração pública. E assim os outros atos de maldade, ainda que menores, são sutilmente esquecidos.
Para muita gente a justiça foi feita. Para o palpiteiro, veio incompleta. O tempo gasto para comentar o caso poderia ter sido aproveitado para questionarmos a ação da PM. Acertou em muitos pontos. Errou em outros. No mínimo, o mais grave, na entrega de Nayara ao cárcere de Lindemberg.
Outro erro da PM foi a sua fraqueza perante a mídia. Nos dias em que Eloá esteve sob a mira de seu algoz, a imprensa fazia transmissão ao vivo, com um criminoso que queria também aparecer na TV. Um comando mais corajoso da PM teira isolado a área a ponto de não permitir a visualização do que ocorria. Cerceamento da liberdade de imprensa? Nada disso. Questão de segurança. Está mais do que evidente que a relação odiosa entre o assassino que queria fama e a imprensa que queria ibope, contribuiu muito para o desfecho trágico do caso.
Mas Lindemberg foi condenado. A juíza teve seus dias de fama. A imprensa saciou sua fome de por audiência e , de quebra, fingiu mais uma vez que nunca errou.
E a sociedade adormece, mais uma vez. Iludida de que justiça foi feita, imprensa livre atuou e PM paulista venceu.
A PM de SP mais uma vez sai ilesa.
Os bandidos agradecem, mais uma vez.
http://opalpiteiro.blogspot.com/2012/02/lindemberg-condenado-e-outros-culpados.html
Para quem quiser saber como ser uma péssima jornalista numa emissora sem ética...
http://www.youtube.com/watch?v=Y3oTNzkxUQE
Tuesday, February 14, 2012
Para registro
I.
Entre os dias 13 e 15 de fevereiro de 1945 os Aliados bombardearam a cidade alemã de Dresden.
A cidade não era estratégica. Não tinha relevância econômica ou militar.
Milhares de pessoas foram mortas.
Motivo? Terrorismo.
O comando das forças dos EUA e do Reino Unido acreditou que tanta gente morta colocaria a população alemã contra o governo nazista, o que abriria caminho para a rendição alemã.
Dresden é um assunto incômodo.
O mundo ficaria mais fácil de ser entendido segundo a divisão entre bonzinhos e malvados.
Por esse ponto de vista, os nazistas foram maus e os Aliados bonzinhos.
O problema é quando se constata que aqueles que combateram os maus, também não eram grandes exemplos de bondade.
Pelas vítimas de Dresden essa postagem é dedicada.
II.
Se alguém dissesse, em 1989, que em 2012: uma greve liderada por um filiado ao PSDB na Bahia foi enfrentada por tropas do exército brasileiro com o aval da presidente da República, do PT, ex-guerrilheira, com o argumento de defesa da ordem estabelecida... esse alguém seria chamado de doido...
Sunday, February 12, 2012
A Guerra das Malvinas, de novo
No próximo mês de abril teremos 30 anos da Guerra das Malvinas, a guerra das conveniências de políticas internas.
Em 1982 a ditadura argentina estava acuada, com uma população impaciente com abusos de direitos humanos. Ela então resolveu agir. Tropas argentinas ocuparam as Ilhas Malvinas, tomadas pelos ingleses no século XIX, e por eles rebatizadas de Ilhas Falklands.
A atitude argentina foi tão oportunista quanto estúpida. Quis desviar a atenção da sua população para uma encrenca externa. Mas fez isso sem a menor condição militar para enfrentar o Reino Unido.
O Reino Unido também teve sua dose de oportunismo. Poderia ter optado por outros caminhos, sem o conflito militar. Mas o país estava em recessão econômica, com elevado desemprego e uma população também impaciente com seu governo. Uma guerra contra um país militarmente mais fraco e sem razão foi a opção dos ingleses. Hoje em dia tem até filminho que exalta Margareth Tatcher, a primeira-ministra que embarcou na guerra contra os argentinos.
O Reino Unido venceu a guerra, a Argentina foi humilhada. Margareth Tatcher teve sua popularidade em alta. E a ditadura argentina caiu de pobre, pois sua popularidade já não era boa antes da tal guerra...
Às vésperas dos 30 anos da Guerra das Malvinas a argentina tem um governo que tenta de novo aumentar a sua popularidade com o assunto. Cristina Kirshner não governa uma ditadura. Mas tem enfrentado o grupo El Clarín, a Globo de lá. Ao mesmo tempo, ainda não tem respostas satisfatórias para o medo de desindustrialização e desnacionalização que pode ocorrer no país com a força de empresas brasileiras que atuam em seu país. Mídia, sindicatos e empresários a pressionam nesse momento. Por que não uma encrenca internacional?
Do outro lado as coisas também não estão muito boas. O desemprego no Reino Unido é imenso, e o país ainda sente os efeitos da crise financeira de 2008. No horizonte mais sombrio de Londres, uma quebra do Euro e de muitas empresas na Europa afetaria muitos bancos ingleses, credores de muitos países europeus. Na impossibilidade de dar uma reposta que acalme a todos no Reino Unido, uma ameaça de guerra contra a Argentina não é necessariamente uma notícia ruim para o governo inglês.
E esse teatro avança. Certamente nenhum dos lados quer uma guerra de verdade. Mas encenam tanto que o risco é a brincadeira ficar séria. Um navio militar aqui, um bloqueio naval acolá... Uma convocação de um embaixador hoje, uma expulsão de diplomatas amanhã... Assim dançam Argentina e Reino Unido. Dançam? Não, tocam. Mais uma vez quem corre o risco de dançar serão soldados, dos dois lados. Em especial aqueles do lado mais fraco. E alguém tem dúvidas de quem está do lado mais fraco?
Monday, February 06, 2012
A greve da PM na Bahia é muito mais séria do que parece
A greve dos policiais militares na Bahia merece muito mais do que as cenas espetaculares de quem mais está interessado em disseminar o pânico coletivo do que informar à sociedade.
Policiais militares no Brasil em geral são muito mal pagos e submetidos a condições de trabalho que, se não os expõe ao risco direto da morte, diariamente os impõe dúvidas: "atiro agora?", "vou morrer?", "esse cara vai fazer alguma coisa?", "essa viatura funciona?".
Policiais militares merecem salários dignos. Assim como também os médicos e os professores. Essa greve é inusitada por isso: quantas vezes professores pelo Brasil afora foram espancados em manifestações públicas por melhores salários? E nisso essa greve se diferencia também. Os grevistas portam armas. Nunca ninguém viu cenas de professores jogando giz na população ou médicos ameaçando com estetoscópios. Mas homens de armas em punho foram vistos nas ruas de Salvador.
Como em todo grande conflito de posições as versões dos fatos variam e não raro se contradizem. O governo estadual (Jaques Wagner, do PT) afirma que são apenas 1/3 do total de policiais que aderiram à greve. Os grevistas dizem serem mais. Jaques Wagner foi sindicalista e sabe que os exageros de parte a parte fazem parte de uma disputa envolvendo sindicatos e governos. O curioso é que agora ele está do outro lado da mesa.
A população baiana está insegura e com razão. Lojas saqueadas amedrontam qualquer um. Mas acreditar que uma horda de bandidos resolveu da noite para o dia saquear lojas parece ser bem interessante a quem quer usar o pânico social como arma de luta. Há gente maldosa que acredita serem policiais encapuçados a agitarem saques ao comércio. Não seriam todos os grevistas, mas uma parte mais extremista.
O líder de uma das associações de policiais - eles não podem ter sindicatos- foi candidato pelo PSDB e se mostra entre os mais exaltados. Estaria fazendo uso político da greve? Claro que sim. Toda greve é política. A questão é saber a quem interessa.
Outro fato importante dessa greve é o pano de fundo: a votação da PEC 300 no Congresso Nacional. Esse projeto de lei estabelece um piso salarial que varia entre R$ 3,5 mil e R$ 7 mil. De acordo com gente que acompanha o caso, muitas associações de policiais estariam forçando a barra para que a aprovação da PEC 300 seja mais generosa e de acordo com seus interesses.
O palpiteiro não perde tempo com o Jornal Nacional, que normalmente reserva mais tempo ao futebol do que a banalidades como uma grevistas armados amedrontando um Estado inteiro. O palpiteiro também não se "informa' pela veja, que está mais preocupada com a grana do dono do Facebook...
Nessa história toda o palpiteiro tem buscado se informar pelo Terra Magazine, especialmente pelo jornalista Bob Fernandes, cabra bom que honra a profissão. De acordo com ele, há preocupações de governadores de outros Estados sob uma eventual onda de greves como na Bahia. Maranhão e Ceará já tiveram as suas. Espírito Santo e Rio de Janeiro seriam as próximas bolas da vez.
E São Paulo? O Estado mais rico e populoso tem uma PM com 138.000 homens. Se especularmos que 5% poderiam fazer uma agitação como a que ocorre hoje na Bahia, teríamos de cara quase 7.000 homens armados para bagunçar bem as coisas... A questão é saber até que nível há organização como na Bahia e se em São Paulo há tantas divisões. Dizem que na Bahia são pelo menos 30 associações que dizem representar todos os policiais. E em SP?
Um passarinho contou que em SP há um esquema interessante: entre oficiais a insatisfação com baixos salários e péssimas condições de trabalho é compensada com a promessa de cargos na estrutura civil. A Prefeitura de SP tem vários oficiais autuando nas subprefeituras. Outros atuam no Metrô, na CPTM, Sabesp e outras empresas do Estado. Esse mesmo passarinho estrelado e armado disse ao palpiteiro que, curiosamente, há reuniões frequentes com esses altos oficias. Para acerto de vagas, cargos e espaço. O passarinho capitão disse que não tinha cacife para participar dessas reuniões.
Por baixo, ou seja, entre policiais de patente mais baixa, o jogo é sinistro. A lei determina que os policiais devem respeitar as leis. Prevê também punições severas para abusos de autoridade. Mas uma vez que o Estado não garante aos policias condições mínimas para um trabalho decente e os remunera mal, o que ocorre? É feita vista grossa pelos abusos que cometem. A ideia é bem simples: "para que pegar no pé desses caras que tratamos tão mal?".
Pois bem, o jogo da hipocrisia parece ter seus minutos decisivos em 2012. A farsa de louvar policias que matam bandidos e que não respeitam leis como forma de acalmá-los por receberem tão mal está em crise.
A greve na Bahia é muito mais do que uma reivindicação por melhores salários. É política sim. Política de Segurança Pública. Fingir que é um caso isolado não vai adiantar muito. Com a palavra o governo Federal, governadores de diferentes partidos e o Congresso Nacional.
Obs.: há alguns anos, policiais civis em greve foram confrontados com armas em punho por policiais militares em São Paulo, a poucos metros da sede do governo do Estado, onde Serra estava escondido embaixo de alguma cama. Seria interessante saber o que aconteceria no mesmo Estado de São Paulo no caso de uma eventual greve de policiais militares. Como agiriam nossos investigadores, delegados e escrivães? é melhor torcer para que não aconteça...
Sunday, February 05, 2012
Mais números...
O PSDB pretende disputar a eleição para a prefeitura de São Paulo e ainda não sabe quem será o candidato.
Pior, na discussão interna para a definição do nome, perceberam que não sabiam exatamente quantos filiados o partido possui no município.
Alguém disse que eram 40.000. Pensaram melhor e chegaram à conclusão de que eram 22.000.
Uma outra contagem trouxe a novidade: 8.500 filiados numa lista que pode diminuir ainda mais.
Não bastasse o desencontro de informações, surge a ideia genial. Resolveram contratar uma empresa com gente que saiba fazer contas.
O palpiteiro posta esse palpite num domingo, quase 23:00h, 5 de fevereiro.
Se em outubro o resultado for negativo para o PSDB na cidade de São Paulo, não estranhemos...
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,psdb-contrata-empresa-para-atualizar-dados-de-filiados-em-sao-paulo,831802,0.htm
Essa notícia é ainda melhor.
Perguntar não ofende: se fosse com outro partido o destaque seria o mesmo??
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,filiados-tucanos-desconhecem-partido-,828549,0.htm
Essa notícia é ainda melhor.
Perguntar não ofende: se fosse com outro partido o destaque seria o mesmo??
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,filiados-tucanos-desconhecem-partido-,828549,0.htm
Monday, January 30, 2012
Sabe fazer contas???
Se você aplaudiu a truculência da PM na remoção da favela do Pinheirinho em São José dos Campos como medida necessária e legalmente correta, seria bom repensar o caso.
Claro, famílias desalojadas, crianças chorando ao sabor de bombas de gás lacrimogênio e muitas mães a sofrer talvez não lhe despertem grande compaixão.
Ao menos compaixão não foi o sentimento que se manifestou na juíza que lavou as mãos no caso; ao governador que aprovou a ação, sob o covarde argumento do respeito à decisão judicial; ao comando da PM que agiu sadicamente, certo de que estaria a ganhar com a demonstração de que zela pelo cumprimento das leis.
Pois se você, como essa turma, não se abala pela condição humana, resta um argumento: grana.
Parece-me que gente como você acredita que a propriedade privada esteja acima de tudo.
Pela sua lógica, a propriedade privada é sagrada. Pelo seu olhar, os moradores do Pinheirinho eram antes de tudo "invasores", como prefere dizerem os talking heads da TV Globo. Claro que não lhe deve interessar como os proprietários adquiriram o tal terreno. Talvez você acreditasse na máxima de que "ladrão que rouba ladrão..."
Mas não. Você não tem nem compaixão com famílias, teria com "ladrões que roubam ladrões"?
Pois bem, segue um argumento diferente para você, modelo de cidadão civilizado.
De acordo com o jornal "O VALE", de São José dos Campos, a ação de remoção dos moradores da favela do Pinheirinho teria custado ao governo do Estado R$ 100.000.000,00. Isso mesmo, 100 milhões de reais, caso se atrapalhe com tantos zeros...
O governador Geraldo Alckimin, a justiça (???) de São Paulo e a PM parecem estar certos de que a decisão mais correta e lógica seria mesmo a remoção dos moradores.
A imprensa internacional noticiou com estarrecimento. (Talvez faltem patrocínios da Sabesp, da CPTM e de outros órgãos estaduais na BBC...). A luz amarela acendeu para aqueles que se lembraram que em 2012 teremos eleições municipais. Talvez alguém tenha se lembrado que as imagens das mulheres e crianças removidas pela tropa de choque do PSDB poderiam ser usadas em campanhas eleitorais em todo o Brasil.
Geraldo Alckimin pensou rápido. Com a velocidade do congelamento de um picolé de Chuchu. Anunciou um aluguel social e a promessa de construção de novas moradias.
Um "jênio", enfim. Primeiro criou o problema das famílias desalojadas para depois anunciar com pompa a solução. Curioso é ter gente como você, a aplaudir...
Não tenho grandes esperanças em relação a você. Você não se irrita com o pedágio, acredita na salvação do planeta com a renúncia à sacolinha de supermercado e pouco está preocupado com a educação nas escolas públicas de SP.
Mas não custa lembrá-lo. A grana gasta na remoção do Pinheirinho poderia ser aplicada na sua rua. Poderia melhorar sua segurança e o hospital público que a sua empregada usa. E que teria sido mais barato, prático e humano, negociar com as famílias do Pinheirinho, antes de baixar a borracha nos tais "invasores".
Você parece um caso perdido. Mas não custa tentar. Talvez tenha sobrado alguns gramas de humanidade dentro de você. Mesmo que seja necessário apelar para o argumento mais sórdido que organiza sua escala de valores: o dinheiro.
Obs.: Diante desses dados, não custa nada pensar em trocar suas fontes de informação. O jornal "O VALE" fez muito mais ao dar voz ao Robertinho da Padaria, vereador do PPS de São José dos Campos, do que a Globo, Folha, veja, Estadão e CBN fizeram nos últimos dias...
Acesse "O VALE":
Saturday, January 28, 2012
Cinema e ação
Em 1973 Marlon Brando foi indicado para o Oscar de melhor ator, por sua atuação em "O Poderoso Chefão". Ganhou o prêmio mas não estava na solenidade. Mandou uma índia recebê-lo em seu lugar. Não bastasse isso, pediu para que ela lesse um manifesto, no qual criticava o tratamento dado aos índios nos EUA.
Soube-se depois que a índia era uma atriz, mas ficou na história a atitude de Brando. Se a mulher era mesmo uma atriz, melhor. Pois revelou seu cuidado em fazer um protesto em forma de espetáculo.
Em 2003 quem imitou Marlon Brando foi Michael Moore. Ele recebeu o Oscar por seu documentário, aqui chamado de "Tiros em Columbine". Em seu discurso, criticou o governo Bush, que se preparava para mandar tropas dos EUA invadirem o Iraque. Dividiu a plateia entre vaias e aplausos. Isso não impediu a guerra, mas hoje, quando o mundo constata o erro de Bush, Moore tem moral para dizer que se posicionou na hora certa.
Em 2008 Fernando Meirelles também aprontou. Ganhou um prêmio de pouca expressão concedido pela "veja São Paulo" e o repassou ao juiz Federal Fausto de Sanctis. O diretor de "Cidade de Deus", "O Jardineiro Fiel" e "Ensaio sobre a Cegueira" sabia muito bem o que estava fazendo. Tinha ciência do quanto a revista veja e o resto da "grande imprensa" havia distorcido a operação Satiagraha, da Polícia Federal. A veja jogou ao lado dos acusados e contra as investigações de corrupção. O gesto de Fernando Meirelles foi contundente, pois lembrou de alguém que fez diferença naquele ano e ainda por cima bateu com muita classe na parcialidade militante da revista. Meirelles não foi exatamente original, mas foi excelente.
Em 2012 cineastas voltam à cena. Os cineastas Marco Dutra e Juliana Rojas, de "Trabalhar Cansa", receberam um prêmio concedido pelo governo do Estado de São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes. No momento em que receberam o prêmio, Juliana leu uma moção de repúdio à ação do governo na remoção das famílias da favela do Pinherinho, em São José dos Campos. A leitura do manifesto ocorreu diante do secretário de Cultura de São Paulo, o tucano Andrea Matarazzo, também interessado em disputar a prefeitura da capital. Entre os presentes houve quem aplaudisse de pé, assim como algumas manifestações democráticas dizendo "chega!".
As atitudes dessas pessoas do cinema são louváveis pelos riscos que se propuseram a enfrentar. No calor dos acontecimentos é sempre mais fácil seguir com a maioria ou se omitir diante de fatos que colocam em dúvida o que pensamos ser o certo ou o errado.
Se você vivesse no mundo noticiado pela Globo ou pela veja jamais saberia desses fatos. A era da informação é muito mais do que quantidade de dados. É também a chance de usarmos os meios modernos de comunicação para ações que antes teriam pouca repercussão. Os cineastas que ousaram protestar na sede de governo do Estado sabem disso.
E ainda bem que gente assim existe.
Tuesday, January 24, 2012
Posso perguntar???
Cadê a galera que aderiu ao abaixo-assinado contra a doida que matou o cachorrinho em GO???
Onde está a humanidade de vocês??
Onde está a humanidade de vocês??
Não adianta fingir que não é nada...
Uma hora a máscara cai.
Resta saber se os acontecimentos dos últimos dias prenunciam isso.
Louve-se
Justiça seja feita, o palpiteiro se sente na obrigação de aplaudir um jornalista.
Em meio a tantos vendidos, Boechat prova que é possível cutucar o Poder mesmo trabalhando em uma grande rede de TV nacional.
Um dia perceberão que ter gente que respeita a inteligência de quem assiste TV não provoca revolução alguma. E dá até IBOPE.
Parabéns à Bandeirantes por mantê-lo. Mas não me empolgo, ainda tem o Bóris Casoy por lá, para provar que é preciso avançar muito ainda...
Monday, January 23, 2012
Esqueça as coisas ruins. Os poderosos agradecem
No dia 12 de janeiro de 2007 houve um acidente na obra de linha 4 do Metrô de SP, no que hoje é a estação Pinheiros. Na época seguiu-se o padrão da calhordice: a empresa e o governo do Estado culparam o excesso de chuvas. O consórcio que tocava a obra alegou não terem vítimas fatais. Mais tarde foram anunciadas as mortes de 7 pessoas.
Um laudo pericial apontou o óbvio: o Consórcio responsável pela construção da Linha 4 economizou onde não devia; tocou o troço com altos riscos de acidentes; e a Companhia do Metrô de SP - com as bênçãos do governo estadual - fingiu que era exagero pensar o contrário.
Sete pessoas morreram.
Quem passar pelo que hoje foi uma cratera que engoliu uma Van, e que matou 7 pessoas, verá uma obra moderna. Uma estação de arquitetura bonita. Muitos vidros deixam a luz natural entrar e se vê a nítida preocupação ambiental e econômica, pois menos lâmpadas artificiais são necessárias para iluminar a passagem das milhares de pessoas que passam por lá todos os dias.
Não há nada visível que lembre a morte de 7 pessoas naquele lugar. Se tiver, alguém que diga, e esse palpiteiro se redimirá. Mas causa estranheza ver que nada faça referência às vidas perdidas pela busca pelo lucro e pela negligência das autoridades que deveriam ter fiscalizado uma obra com aquela complexidade.
São Paulo é uma cidade que esquece suas tragédias. Ou que tenta fingir que elas nunca ocorreram. São no máximo imagens antigas que passam de quando em vez em reportagens especiais da TV.
O Carandiru não tem grande destaque em nenhum memorial no local onde a PM massacrou 111 presos pelados e rendidos. Há quadras esportivas no local hoje em dia.
O Edifício Joelma, incendiado em 1971, ainda esta de pé e em pleno uso. Certamente muito mais seguro. Mas é hoje chamado de "Edifício Praça da Bandeira". As almas de 187 pessoas mortas não são lembradas.
Outro caso curioso é da PM de SP, que tem tido uma conduta estranha para um Estado de Direito. Uso desmedido da força e uma aparente insubordinação em relação às autoridades civis. Mas os abusos são esquecidos. Por querer ou não.
Um dia a civilidade tomará lugar do Estado de barbárie que muitos aplaudem hoje, em janeiro de 2012. Teremos então a serenidade para reconhecer que cometemos muitos erros, dentre os quais, fechar os olhos para o que de ruim aconteceu. Seja a atitude bovina de autoridades que não punem os que provocam a morte de outrem, seja pela incapacidade do Estado de SP ter uma política de segurança pública digna do mundo pós-Segunda Guerra Mundial.
Talvez percebamos o quanto erramos por nos omitir diante de esquecimento deliberado.
Haverá um dia em que finalmente aprenderemos que prender grandes traficantes é mais difícil e eficaz do que prender zumbis na Cracolândia. Que favelas em SP foram incendiadas por muitos anos e com uma frequência nunca vista em outras grandes cidades brasileiras. Que atropelar a justiça Federal e remover gente pobre em evidente ação de abuso da força em São José dos Campos é algo inaceitável para quem tem sentimentos humanitários.
Quem sabe não mudamos e não teremos memoriais, praças, monumentos e outros objetos visíveis na cidade e no Estado em que a perda da memória coletiva foi por muito tempo um bom negócio?
Tuesday, December 20, 2011
Cachorro é cachorro. Ou não?
O palpiteiro sempre gostou de cachorros. E não se lembra de ter morado em casa onde não existisse um cachorro de estimação.
Mas o palpiteiro é do tempo em que cachorro de estimação era apenas um bicho para ter em casa, não um potencial substituto para relações humanas. Para humanos problemáticos, diga-se.
Os cachorros de antigamente comiam restos do almoço e tomavam banho com sabão Rio no tanque de lavar roupas. O mais comum era que ficassem acorrentados. A ideia era que “ficassem nervosos”, ou seja, bravos para serem bons protetores da casa. Registre-se aqui que na família do palpiteiro cachorro algum foi acorrentado para “ficar nervoso”. Mas também é verdade que nas casas onde isso ocorria ninguém se incomodava.
Alguma coisa mudou para melhor. Outras mudaram para pior. Restos de comida não são a dieta mais adequada para um cão. Fazem mal ao organismo do bicho e o produto final é muito mais fedorento. O uso de ração apropriada é mais prático também. Mas também é uma poderosa indústria que não se incomoda quanto aos exageros em relação à qualidade da dieta canina.
Não faz muito tempo os cachorros eram sujeitos à condição de suas vidas. Nasciam, cresciam, reproduziam-se. Adoeciam e morriam. Não havia sentido em procurar veterinário num país onde tanto o número de médicos quanto o acesso a eles eram difíceis à maioria das pessoas.
Fotografias? Se dessem sorte os totós saíam de atrevidos. Às vezes com metade do corpo. Ou só a cabeça. Ou um pedaço do rabo. Totós? Alguém conhece um cachorro hoje que seja chamado de Totó? Na crescente insanidade que se desenvolveu nas últimas décadas, nomes humanos passaram a ser escolhidos para cães de estimação. No começo eram apenas personagens da TV ou dos filmes. Mas há muitos com nomes de seres humanos.
O que tem ocorrido de fato é uma desesperada tentativa de humanização de um bicho que não é humano.
O palpiteiro já ouviu várias pessoas afirmarem – categoricamente- que seus cachorros merecem mais respeito que muitos seres humanos. Isso para não falar de pessoas que trocam fotos de seus bichinhos e os tratam como se fossem filhos.
Não há grande problema em amar muito um animal de estimação, tratá-lo com carinho e chorar pela sua doença ou morte. Mas é indiscutivelmente doentio substituir uma relação humana por uma com um cachorro. O palpiteiro aprendeu que substituir uma companhia humana pela de um cão revela muito. Pode ser o instinto de mamífero, que nos induz a cuidar de filhotes, como cuidamos dos filhos. Pode ser o resultado de uma vida de frustrações com relacionamentos humanos que levaram uma pessoa a desistir de mudar. Amar um cachorro em excesso é abusar da condição desigual entre o dono e o bicho. Um cão não tem outra opção que não seja a de se submeter ao dono. Precisa de alimento e abrigo. Se tiver carinho, melhor ainda. Mas um cão não tem como contestar as insanidades do dono. Não questiona seus erros, suas instabilidades e suas canalhices. Em poucas situações veremos algo tão egoísta quanto amar alguém que não pode nos confrontar. E que amamos justamente por essa razão.
A insanidade às vezes se encontra com a falta de civilidade do dono do cão. O proprietário-amigo do cachorrinho não percebe o quanto pode fazer mal por levar seu bichinho-objeto a restaurantes, supermercados ou açougues (todas essas situações foram reais para o palpiteiro). Se alguém reclama é rotulado como desumano ou ignorante.
Quem tiver ao menos um grama de educação ambiental saberá que não se deve levar cachorro a praia. São grandes as chances de transmitirem doenças a crianças. Mas os cachorros adoram praia e muitos ficam plenamente felizes com o ambiente. Tente, no entanto, pedir ao dono de um cão na praia que retire o animal por medida de segurança sanitária. Em geral os donos se irritam e sentem-se profundamente ofendidos. Levam para o lado pessoal e julgam terem ofendido seus filhos. Cachorros.
Nos últimos dias um vídeo se tornou popular e despertou a indignação de muitos quando mostrou uma enfermeira a bater num cachorrinho diante de uma criança. As cenas são fortes e dificilmente a agressora teria como negar o que é mostrado. Imediatamente o palpiteiro recebeu uma proposta de abaixo-assinado com mais de 300.000 adeptos pedindo “a pena mais rigorosa” contra a tal agressora.
Qualquer um tem o direito de assinar o que quiser. Inclusive um pedido de prisão rigorosa para uma agressora de cachorrinhos indefesos. Mas o palpiteiro não se lembra de tamanha manifestação quando a missionária Doroth Stang foi assassinada na Amazônia.
E nesse contexto, afirmar que muitas pessoas estão insanas na suas relações com cachorros não parece implicância.
Alguma coisa via mal entre os seres humanos. E isso poderá ser medido facilmente pelo tom de agressividade que alguns comentários terão contra esse palpite.
O palpiteiro lamenta.
P.S.: o palpiteiro tem duas cadelas vira-latas e gosta muito delas.
Mas o palpiteiro é do tempo em que cachorro de estimação era apenas um bicho para ter em casa, não um potencial substituto para relações humanas. Para humanos problemáticos, diga-se.
Os cachorros de antigamente comiam restos do almoço e tomavam banho com sabão Rio no tanque de lavar roupas. O mais comum era que ficassem acorrentados. A ideia era que “ficassem nervosos”, ou seja, bravos para serem bons protetores da casa. Registre-se aqui que na família do palpiteiro cachorro algum foi acorrentado para “ficar nervoso”. Mas também é verdade que nas casas onde isso ocorria ninguém se incomodava.
Alguma coisa mudou para melhor. Outras mudaram para pior. Restos de comida não são a dieta mais adequada para um cão. Fazem mal ao organismo do bicho e o produto final é muito mais fedorento. O uso de ração apropriada é mais prático também. Mas também é uma poderosa indústria que não se incomoda quanto aos exageros em relação à qualidade da dieta canina.
Não faz muito tempo os cachorros eram sujeitos à condição de suas vidas. Nasciam, cresciam, reproduziam-se. Adoeciam e morriam. Não havia sentido em procurar veterinário num país onde tanto o número de médicos quanto o acesso a eles eram difíceis à maioria das pessoas.
Fotografias? Se dessem sorte os totós saíam de atrevidos. Às vezes com metade do corpo. Ou só a cabeça. Ou um pedaço do rabo. Totós? Alguém conhece um cachorro hoje que seja chamado de Totó? Na crescente insanidade que se desenvolveu nas últimas décadas, nomes humanos passaram a ser escolhidos para cães de estimação. No começo eram apenas personagens da TV ou dos filmes. Mas há muitos com nomes de seres humanos.
O que tem ocorrido de fato é uma desesperada tentativa de humanização de um bicho que não é humano.
O palpiteiro já ouviu várias pessoas afirmarem – categoricamente- que seus cachorros merecem mais respeito que muitos seres humanos. Isso para não falar de pessoas que trocam fotos de seus bichinhos e os tratam como se fossem filhos.
Não há grande problema em amar muito um animal de estimação, tratá-lo com carinho e chorar pela sua doença ou morte. Mas é indiscutivelmente doentio substituir uma relação humana por uma com um cachorro. O palpiteiro aprendeu que substituir uma companhia humana pela de um cão revela muito. Pode ser o instinto de mamífero, que nos induz a cuidar de filhotes, como cuidamos dos filhos. Pode ser o resultado de uma vida de frustrações com relacionamentos humanos que levaram uma pessoa a desistir de mudar. Amar um cachorro em excesso é abusar da condição desigual entre o dono e o bicho. Um cão não tem outra opção que não seja a de se submeter ao dono. Precisa de alimento e abrigo. Se tiver carinho, melhor ainda. Mas um cão não tem como contestar as insanidades do dono. Não questiona seus erros, suas instabilidades e suas canalhices. Em poucas situações veremos algo tão egoísta quanto amar alguém que não pode nos confrontar. E que amamos justamente por essa razão.
A insanidade às vezes se encontra com a falta de civilidade do dono do cão. O proprietário-amigo do cachorrinho não percebe o quanto pode fazer mal por levar seu bichinho-objeto a restaurantes, supermercados ou açougues (todas essas situações foram reais para o palpiteiro). Se alguém reclama é rotulado como desumano ou ignorante.
Quem tiver ao menos um grama de educação ambiental saberá que não se deve levar cachorro a praia. São grandes as chances de transmitirem doenças a crianças. Mas os cachorros adoram praia e muitos ficam plenamente felizes com o ambiente. Tente, no entanto, pedir ao dono de um cão na praia que retire o animal por medida de segurança sanitária. Em geral os donos se irritam e sentem-se profundamente ofendidos. Levam para o lado pessoal e julgam terem ofendido seus filhos. Cachorros.
Nos últimos dias um vídeo se tornou popular e despertou a indignação de muitos quando mostrou uma enfermeira a bater num cachorrinho diante de uma criança. As cenas são fortes e dificilmente a agressora teria como negar o que é mostrado. Imediatamente o palpiteiro recebeu uma proposta de abaixo-assinado com mais de 300.000 adeptos pedindo “a pena mais rigorosa” contra a tal agressora.
Qualquer um tem o direito de assinar o que quiser. Inclusive um pedido de prisão rigorosa para uma agressora de cachorrinhos indefesos. Mas o palpiteiro não se lembra de tamanha manifestação quando a missionária Doroth Stang foi assassinada na Amazônia.
E nesse contexto, afirmar que muitas pessoas estão insanas na suas relações com cachorros não parece implicância.
Alguma coisa via mal entre os seres humanos. E isso poderá ser medido facilmente pelo tom de agressividade que alguns comentários terão contra esse palpite.
O palpiteiro lamenta.
P.S.: o palpiteiro tem duas cadelas vira-latas e gosta muito delas.
Thursday, December 15, 2011
Para aliviar...
Sugiro crônica do Rubem Alves, para pensar...
Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos? |
O nome não me era estranho. Eu já o vira de relance em algum jornal ou revista. Mas não me interessei. Aquele nome, para mim, não passava de um bolso vazio. Eu não tinha a menor idéia do que havia dentro dele. Sou seletivo em minhas leituras. Leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas eu me comporto da mesma forma como me comporto diante de uma mesa de bufê: provo, rejeito muito, escolho poucas coisas. Concordo com Zaratustra: “Mastigar e digerir tudo - essa é uma maneira suína.“ Aquele bolso devia estar cheio de coisas dignas de serem comidas – caso contrário não teria sido oferecido como banquete nas páginas amarelas da VEJA. Mas eu não comi. Aí um amigo me enviou via e-mail cópia de uma crônica do Arnaldo Jabor, a propósito do dito nome – crônica que eu li e gostei: sou amante de pimentas e jilós. Senti-me parecido com o Mr. Gardner, do filme “Muito além do jardim“, com Peter Sellers. Mr. Gardner jamais lia jornais e revistas. Aproximei-me então da minha assessora e lhe perguntei, envergonhado, temeroso de que ela tivesse visto o dito filme, e me identificasse com o Mr. Gardner. “Natália, quem é Adriane Galisteu?“ Esse era o nome do bolso vazio. Ela deu uma risadinha e me explicou. À medida em que ela explicava, as coisas que eu havia lido começaram a fazer sentido, e eu me lembrei de uma estória que minha mãe me contava: uma princesinha linda que, quando falava, de sua boca saltavam rãs, sapos, minhocas, cobras e lagartos... Terminada a explicação, fiquei feliz por não ter lido. Lembrei-me de uma advertência de Schopenhauer: “No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos... Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.“ Existirá possibilidade de que a leitura dos jornais nos torne estúpidos? O que está em jogo não é a dita senhora, que pode pensar o que lhe for possível pensar. O que está em jogo é o papel da imprensa. Qual a filosofia que a move ao selecionar comida como essa para ser servida ao povo? A resposta é a tradicional: “A missão da imprensa é informar“. Pensa-se que, ao informar, a imprensa educa. Falso. Há milhares de coisas acontecendo e seria impossível informar tudo. É preciso escolher. As escolhas que a imprensa faz revelam o que ela pensa do gosto gastronômico dos seus leitores. Jornais são refeições, bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso. Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach estava certo ao afirmar que “somos o que comemos“, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo os jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer eles serão iguais àquilo que leram. Faz tempo que parei de ler jornais. Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando meus olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos jornais. Muita coisa importante e deliciosa acontece sem virar notícia, por não combinar com o gosto gastronômico dos leitores. Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações. Parei de ler os jornais, não por não gostar de ler mas precisamente porque gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos: leio bovinamente, vagarosamente, como quem pasta... ruminando. O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer. Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, freqüentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor se livra do trabalho de pensar. Confesso que não sei o que fazer com a maioria das notícias dos jornais: entendo as palavras mas não entendo a notícia. Penso: se eu não entendo a notícia que leio, o que acontecerá com o “povão“? Outras notícias só fazem explicitar o que já se sabe. Detalhes, cada vez mais minuciosos, das tramóias políticas e econômicas de um Maluf, de um Jader, nada acrescentam ao já sabido. Esse gosto pela minúcia escabrosa se deriva da pornografia, que encontra seus prazeres na contemplação dos detalhes sórdidos, que são sempre os mesmos, como o comprovam as salas de “imagens eróticas“ da Internet. A dita reportagem sobre a tal senhora e as notícias sobre Jader e Maluf atendem às mesmas preferências gastronômicas. Será que as notícias são selecionadas para dar prazer aos gostos suinos da alma? Por outro lado, há os suplementos culturais que, para serem entendidos, é preciso ter doutoramento. Para o povão, o futebol... Ao final de sua crônica o Arnaldo Jabor dá um grito: “Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade...“ Dizendo do meu jeito: os órgãos de imprensa têm de contribuir para a educação do povo. Mas educar não é informar. Educar é ensinar a pensar. Os jornais ensinam a pensar? Repito a pergunta: Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos? (Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001.) |
Sunday, December 04, 2011
Luto por Sócrates Brasileiro
Sempre admirei Sócrates como jogador e cidadão.
Tinha um toque de bola refinado. Fazia do futebol mais arte do que esporte.
Sócrates conseguiu a proeza de fazer parte de uma seleção brasileira que não ganhou uma Copa do Mundo, mas que é reconhecida como a do futebol mais belo já visto. No conjunto, não na individualidade.
Sempre foi um militante político. Numa categoria profissional em que predomina o narcisismo, a superficialidade e o consumismo mais fútil, ele se diferenciava. Falava sobre desigualdade social e injustiças num ambiente em que adoram drogas, mulheres e carros de luxo.
Haverá quem cuspa em seu caixão. Moralistas de plantão. Pessoas que conseguem se sentir melhor quando apontam os erros de quem morreu. E que nada falam sobre a dignidade de quem acabou de partir.
Ele foi tão superior a mesquinharias que é admirado por todos que prezam o bom futebol. Não aparecem diferenças de torcida quando se fala dele.
Sócrates deixa saudade e tristeza.
P.S.: Nem por isso vou torcer para o Corínthians...
Saturday, November 26, 2011
Um recado para você que vai prestar a Fuvest
Você se submeterá a uma prova que tem o grau de dificuldade natural de um concurso muito concorrido. E que também tem uma proporcional carga de mitos e lendas.
Você é um dos mais de 146 mil candidatos que assumiram o desafio de concorrer a uma vaga na maior universidade da América Latina.
Muitas coisas acontecem simultaneamente na hora da prova.
Tem muita gente que torce por você. E eu arriscaria dizer que dificilmente alguém irá torcer contra. Claro, haverá os invejosos e os inimigos declarados ou não. Mas cá entre nós, você realmente precisa deles?
Quando você estiver diante da prova haverá 90 questões. O combinado é que você acerte o maior número delas, se quiser passar para a segunda fase. Note que acabei de lhe dizer o óbvio. Você já sabia disso. Mas por que então eu lembrei disso?
Se você leu o que foi escrito até aqui é porque quer saber a opinião de mais um palpiteiro entre tantos que lhe dizem sobre a Fuvest. E esse palpiteiro parte de algumas experiências em relação a ela.
A primeira e mais importante é a de quem já se submeteu a essa prova sem ter a mínima noção do que estava a fazer. E que passou para a segunda fase e não viu o nome na lista dos aprovados em fevereiro. Sim, o palpiteiro já se frustrou com a prova.
A segunda experiência é a de quem já foi aprovado por ela. A de quem já viu o nome na tal lista. E que teve uma alegria tão grande que tornou a frustração anterior apenas o que realmente foi: um motivo para o aprendizado.
A terceira experiência é a de quem acompanha essa prova profissionalmente desde 1996. Enquanto você estiver na prova eu estarei a esperar a divulgação oficial dela. Minha ansiedade não se compara a sua. Mas também é grande, acredite. Durante todos os anos eu me empenho, assim como os meus mais sérios colegas, a tentar preparar pessoas como você, que só querem passar na dita prova. Você não tem ideia da felicidade que um professor sente quando um aluno diz que se lembrou das suas aulas durante a prova. Não há elogio, bajulação ou forma de agrado maior que supere esse sentimento.
A quarta experiência é a de quem já prestou mais de 5 vezes a Fuvest sem ter a mínima obrigação de ser aprovado- e não queira perguntar os motivos disso...A uns 20 minutos antes do início da prova os candidatos já estão dispostos em seus lugares, escolhidos pela Fuvest. Acostume-se a isso, pois nessa prova você não escolhe nem a carteira... Você olhará à sua volta e verá que a maioria dos candidatos tem a sua idade, ou que está muito próximo dela. Haverá um ou outro candidato mais velho. E todos calados. Alguns mais nervosos e outros nem tantos. Alguns fingindo concentração e outros realmente concentrados. Numa dessas provas que prestei sem a obrigação de passar, chamou-me a atenção uma garota de uns 17 anos que falava sozinha. Nem tanto o fato dela ter amigos imaginários, mas sobretudo pelo inusitado. Ninguém achou estranho.
Na hora em que o fiscal autorizar o início da prova muitas coisas passarão na sua cabeça. Qualquer coisa que não seja útil na prova só irá lhe atrapalhar. A tabela periódica, a cachorra Baleia de "Vidas Secas", a Líbia, Napoleão, b2 menos 4 ac, Newton, Azão e azinho, To be... Tudo isso poderá ter alguma utilidade na prova. E muito disso já está na sua cabeça.
Mas um problema maior que pode surgir são os fantasmas que você mesmo poderá criar. Preocupar-se com o número de questões, com a nota de corte e outras bobagens desse tipo na hora da prova é algo que não o ajudará. Não sei se você sabe, mas no momento em que você estiver fazendo a prova, nem a Fuvest saberá a nota de corte. Ela é definida pelo número de acertos dos candidatos. Uma prova mais fácil ou mais difícil pode fazer oscilar muito essa nota. E quem saberá se a prova foi fácil ou não? Ninguém...rs... Somente após os cartões de respostas terem sido lidos é que saberemos se os candidatos acertaram mais ou menos do que aqueles do anos anterior. Qualquer afirmação antes disso é um chute. Tão somente.
Outro fantasma que costuma aparecer é o julgamento pessoal. Ao invés de se concentrar na prova você começa a pensar no que fez ou no que deixou de fazer. Sejamos francos. Nós sempre sabemos o que fizemos de certo ou errado. E em geral estudamos muito menos do que gostamos de admitir publicamente. Se você gastou mais horas no MSN ou no facebook do que estudando ao longo do ano, isso é algo que diz respeito a você. Caso tenha feito isso, deixe essa reflexão para depois. É sempre bom pensar nos próprios atos. MAS FAÇA ISSO DEPOIS DA PROVA!!! Você está num concurso vestibular, não num divã. Não se esqueça disso...
E por fim, o fantasma que mais amedronta é irmão gêmeo do anterior. Se um lhe atrapalha porque você se julga, o outro o massacra porque o faz pensar no que você é perante os outros. Já testemunhei candidatos que reduziram sua frustração quando souberam do fracasso de outros. Já ouvi relatos de gente que ficou 40 minutos diante da prova sem nada fazer. Roendo as unhas e com o pânico de pensar no que os outros diriam diante de um eventual novo fracasso.
Não tenho a fórmula mágica para você passar na prova. E acredite que torço muito por você. Mas tenho a franqueza e a vivência suficientes para lhe afirmar que além da preparação acadêmica você terá que ter maturidade.
Num mundo onde se cultua a eterna juventude, maturidade tem sido uma palavra com pouca popularidade. Nesse caso, o que entendo como maturidade é o poder de misturar a ousadia e a humildade em doses adequadas. Tenha a ousadia para afirmar que não tem medo da Fuvest. Tenha a humildade para reconhecer que é difícil e que há muita gente merecedora.
Por fim vou lhe confessar algo: passar na Fuvest é apenas uma parte. A outra é estudar e seguir na carreira que você escolheu. Ninguém se torna melhor por ter estudado na USP. Você poderá ter as melhores propostas de trabalho e até algum status, mas não é a grife USP que melhora as pessoas. Paulo Maluf estudou na USP e não preciso dizer porque lembrei do nome dele nesse momento... Mas também estudaram pessoas maravilhosas que fizeram a diferença na história recente do Brasil. Conheço um bocado de pessoas que admiro e amo e que são muito felizes sem terem estudado na USP. Conheço pessoas execráveis e dignas de pena e que estudaram lá também.
Seja lá qual for o seu destino estou aqui, torcendo por você. Eu e todas as pessoas que realmente querem o seu bem. Algumas dessas pessoas talvez você nem saiba que existem. Mas elas torcem por você.
Ao fim de tudo, não lhe desejo sorte. Torço para que tenha mais do que inteligência. Torço para que tenha sabedoria.
Guarde isso. Mas não precisa se lembrar disso na prova...
Tuesday, November 15, 2011
Itália, Euro e um projeto de desgraça comunitária
Neste palpite segue em primeiro lugar um mea culpa. O palpiteiro sustentou pelo menos por 10 anos a ideia de que o Euro era um projeto bem-sucedido e fadado ao sucesso. Na arrogância daquele que palpita e não pensa, esse escriba chegou a afirmar, por várias vezes, que o Reino Unido não aderia ao Euro por uma questão de capricho "provinciano". O erro crucial dos eufóricos de 10 anos atrás era foi muito simples. Confundiram possibilidade com fato consumado.
Pois bem, anos se passaram entre a adoção do Euro e a crise de 2008 e, em 2011,discute-se dois pontos fundamentais: até que ponto o Euro foi uma opção bem sucedida e até quando resistirá aos sucessivos eventos que teimam em mostrar que se tratou de um projeto fracassado?
O que aqui se coloca é se o Euro, enquanto símbolo da unidade europeia , resistirá ou não.
Após a crise deflagrada em 2008 nos EUA ficou evidente que os países mais irresponsáveis com as suas irresponsabilidades financeiras teriam forçosamente as maiores perdas.
Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha não surpreenderam portanto.
Mas o problema foi estender as incerteza a países como a Itália e a França.
Mencione sem titubear pelo menos 1 um produto grego, português ou espanhol que não seja vinho, azeite ou azeitona em conserva. Pois isso retrata a fragilidade econômica desses países. Vivem de produtos pouco rentáveis e de atividades frágeis como o turismo. Antes da crise turistas dos EUA e do Japão figuravam entre aqueles que sustentavam o comércio. Depois dela há quem duvide da capacidade econômica desses países se sustentarem.
Mas a Itália era diferente. Ou ao menos parecia. Fiat, Ferrari e Pirelli eram alguns dos ícones empresariais do país, para não falar do obscuro lastro financeiro do Vaticano...
Mas descobriram que a Itália não tinha uma economia tão sólida quanto pareciam os anúncios da Benneton. O buraco é muito mais embaixo.
Logo então seguiu a desconfiança mais óbvia. Se a Itália não tem fôlego suficiente para sustentar suas dívidas, o que seria então dos outros países da Zona do Euro?
Aí está o nó. O país pode ser o arremedo de economia moderna como a Grécia ou a potência industrial italiana, mas ninguem nega um fato: os europeus estão todos amarrados. O que chamam de crise grega é nada mais do que o risco de calote de empréstimos concedidos por bancos alemães, franceses, ingleses e americanos. Isto é, um calote europeu representa um tombo muito forte entre bancos dos mais fortes, alemães, ingleses, franceses e italianos em especial.
Daí o medo coletivo. Um calote na Grécia se estenderia a Portugal, Irlanda e Espanha. No auge da desgraça a Itália. O que se vê hoje é menos o risco de presente e muito mais o medo do futuro.
Mas como algumas desgraças não são solteiras, muitos especuladores não titubearam em perguntar: se Portugal não é tão seguro, por que a Itália o seria??
Financistas e larápios das finanças não são burros. Não esperam os caos para se movimentarem. O fogo não os assusta, pois fogem como loucos do mínimo sinal de fumaça.
A Grécia abriga a fogueira. Portugal, Irlanda, Espanha e Itália exalam fumaça...
O lastro econômico do Euro tem endereço: Frankfurt. Não é por acaso que o Banco Central Europeu está naquela cidade. A Alemanha é o principal motor econômico do Euro. Num contexto de crise generalizada a Grécia perdeu 5% por do seu PIB em relação a 201o. A Alemanha ganhou modestos 0,5%. Mas ainda assim ganhou.
Sabe-se lá o que irá acontecer.
Em 10 anos teremos apenas duas possíveis verdades. A primeira, otimista, será a de que a Europa, a despeito das turbulências, foi capaz de resistir e manter o projeto de uma unidade econômica simbolizada pelo Euro. A segunda, pessimista, apontará o Euro como uma ideia muito bem elaborada, mas que fracassou pela incapacidade de plena união daquilo que um dia chamaram de União Europeia.
O tempo será, mais uma vez, o senhor da razão.
Enquanto isso observamos o inusitado. Europeus mendicando dólares do Brasil, Rússia, Ìndia e China para acertar suas contas.
E o mais interessante. A incompetência dos líderes do presente em oferecer um solução comunitária para uma crise que é sobretudo comum.
Os líderes europeus das décadas de 1940, 1950 e 1960 foram sábios o suficiente para perceberem que perderiam muito isolados.
Os líderes europeus do presente parecem presos demais às pressões domésticas para ousarem em soluções transnacionais.
Quem viver verá. E o que se vê hoje, em novembro de 2011, não parece lá grande coisa...
Saturday, August 06, 2011
Thursday, June 16, 2011
Professor de cursinho não é comediante.
O amigo por opção, colega por destino e palpiteiro por opção, chamado André, fez uma sugestão-desafio que o palpiteiro encarou: a de comparar um professor de cursinho a um comediante de Stand-up comedy, seja lá o que isso for.
O palpiteiro, na condição de professor de cursinho - seja lá o que isso for também- sempre pensou nos limites e possibilidades da atividade. Nos potenciais e nos riscos que um educador nessa circunstância enfrenta. Há inclusive um material em gestação sobre isso, que se esconde entre gavetas e devaneios, cujas formas e liberdade surgirão em momento oportuno.
Em primeiro lugar é preciso diferenciar os propósitos, do comediante em pé e do professor de cursinho. Um é apenas a busca pelo entretenimento. Outro, PODE, ser o aprendizado. A diferença nem sempre é clara e a esse respeito não se pode culpar apenas o observador. Tanto o palpiteiro quanto o próprio André já foram testemunhas de professores que não souberam - ou não quiseram- ver ou determinar as diferenças. O palpiteiro já testemunhou a triste cena de um colega a ler um livro de piadas, daqueles comprados em bancas de jornais, para ter uma piada nova, ainda que de forma desonesta por omissão da fonte.
O vício do professor de cursinho nasce sobretudo do seu símbolo. Por décadas foi visto como o salvador da pátria, o cara que "ensina de uma forma mágica e divertida" tudo aquilo que não foi aprendido antes. Menos...
Achar que um professor de cursinho é melhor do que um professor do ensino fundamental ou médio é o mesmo que comparar o conforto de uma casa com ar-condicionado em Bagdá a um barraco da favela onde o Bob Marley começou a aprender tocar violão. São circunstâncias completamente diferentes em momentos absolutamente distintos.
Os professores do colégio tiveram a tarefa árdua de disciplinar, cobrar, ensinar, avaliar e julgar o aluno que vem pronto para o cursinho. O professor do cursinho não atribui nota, não julga e não cobra. É o amigão que está lá para ajudar. O mesmo aluno que não reconhece e nem respeita sua própria trajetória escolar decide que é hora de estudar com mais seriedade. Une-se então a fome com a vontade de comer. Um cara que quer ensinar a um cara que quer aprender. Não há escola NENHUMA no mundo que consiga algo desse tipo com tanta afinidade como num cursinho pré-vestibular.
No passado havia poucas universidades e até a década de 1980 poucos cursinhos que conseguiam lotar salas com mais de 300 alunos. Podia-se pagar muito bem esses professores, que eram então escolhidos pelos critérios mais rigorosos da época e que eram melhor remunerados. O sistema de avaliação desses profissionais era mais baseado no carisma e na didática do que propriamente nos resultados efetivos de seu trabalho. As vagas e os cursos nas faculdades eram tão escassas que o fracasso nos vestibulares era culpa da escola pública, do governo, do descaso com a educação. Nunca foi dos cursinhos. Assim era possível brincar, fingir que se ensinava e não ter uma cobrança quase inexistente sobre a qualidade do serviço prestado.
Esse mundo não existe mais no Brasil. As vagas e os cursos foram ampliados. Os vestibulares tornaram-se menos concorridos. As opções foram também aumentadas. E os cursinhos diminuíram de tamanho.
Como qualquer mudança histórica não há um fim que possa ser determinado com precisão no tempo e nem no espaço. Por isso não se pode dizer que os cursinhos deixarão de existir, assim como não se pode também acreditar que não servem para mais nada.
A despeito dos problemas que se encontram, há muita gente competente, qualificada e, acima de tudo inteligente, nos cursinhos. São profissionais que foram submetidos a diferentes situações de pressão, público e condições de trabalho. Se há os que mais se preocuparam em serem "engraçados e divertidos", há também os que sempre se comprometeram a melhorar, estudar e levar o que há de melhor para os alunos que encontram. Esses profissionais é que tem a admiração e o respeito do palpiteiro. E eles existem aos montes.
O palpiteiro aprendeu muitas coisas dando aulas em cursinho. No início relutava em fazer piadas por acreditar que não podia entrar no jogo da simples auto-promoção. Mas por ser bobo de natureza, não conseguiu por muito tempo. O maior desafio do palpiteiro foi então aprender a brincar. Aceitar o desafio de não abusar das condições favoráveis de uma sala de cursinho para sastisfazer mais o ego narcisista sob pena de deixar de ensinar o que era devido. Talvez entre os pecados capitais, o da vaidade esteja o que mais compromete professores. E professores de cursinho acabam por se expor diariamente a essa tentação.
Não há como saber se o palpiteiro foi bem sucedido na luta entre buscar a descontração sem abrir mão da seriedade. A impressão favorável que fica é a que tem principalmente pela internet ou encontros casuais pela vida. Quando o palpiteiro recebe palavras de reconhecimento e carinho de pessoas que, mais velhas, se mostraram muito mais inteligentes do que ele acha que é, fica a desconfiança de que algum sucesso obteve na luta entre o ego e o compromisso com a educação.
Há sempre técnicas, falas, gestos e recursos que todos nós usamos para o dia-a-dia. É humano, e professores de cursinho não estão imunes a essa condição. Mecânicos sabem a forma correta de segurar uma chave inglesa, açogueiros como cortar a carne. Bons médicos aprendem a fazer a melhor pergunta numa consulta. Um bom professor aprende qual palavra, brincadeira ou frase vai ajudar melhor na tarefa de fazer o aluno a entender aquilo que dele querem numa prova longa, cruel e desumana de vestibular. O palpiteiro tem um repertório de piadas e situações que gosta de fazer. Tanto pelo efeito didático que produzem quanto pela própria graça que provocam. É da profissão. É do vício humano chamado vaidade. Mas por mais que sejam repetidas, um fato jamais poderá ser esquecido. Cada turma é especial, formada por pessoas únicas, com propósitos singulares. Por isso, cada turma é também individualizada, particular, original. Desse modo, uma mesma piada, repetida há anos, terá sempre um efeito diferente. Se o professor não souber disso será o repetidor mecânico, o brinquedo "made in china" que qualquer criança de 5 anos enjoa. Se levar em consideração as expectativas e as necessidades diferenciadas de cada um, será como a taça de cristal, que mesmo compartilhada, dará a sensação agradável do bom vinho. O vinho do conhecimento.
Resumidamente é isso. O palpiteiro raramente se presta a dizer coisas sobre a própria vida. Mas a provocação existiu. Culpem o André. Mas para quem não se constrange quando aponta as esquisitices alheias, nada mais natural do que conversar sobre as suas próprias. Quem por aqui perde seu precioso tempo entenderá.
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