Sunday, November 18, 2012

Lideranças que se perdem...

Quais seriam as diferenças reais entre a sinceridade e o oportunismo? Quem seria capaz de responder - para si mesmo- esse limite?

Heloísa Helena e Marina Silva figuram entre as personalidades que mais justificam essas perguntas. Ambas foram senadoras pelo PT e, por mais que se diga, nada há que desabone as suas condutas. Ninguém até agora as denunciou por corrupção, desonestidade ou incoerência. Mas será que ser "gente boa" é suficiente?

O sistema político partidário no Brasil tem muitos defeitos. Listá-los é tão desnecessário quanto improdutivo. Erros e sujeiras seriam difíceis de serem descritas em sua plenitude. 

Mas há algo mais do que a desonestidade. Há propósitos e compromisso. 

Heloísa Helena foi uma das maiores lideranças do PT em Alagoas, assim como Marina Silva no Acre. Suas personalidades e suas atuações não permitem que ninguém as definam como desonestas, hipócritas ou bandidas. Estiveram na base daquilo que o PT produziu de melhor desde 1980 até a chegada de Lula à presidência, em 2002. 

Primeiro foi Heloísa Helena. Confrontou o PT na votação da revisão da previdência social e acabou expulsa do partido. For execrada por colegas fundadores do PT, mas manteve a dignidade e os seus princípios. fundou um partido próprio, com descontentes do PT. Queria realmente criar algo novo a partir de antigas ambições: mudança política, pacífica e sem desonestidade. Princípios nobres em qualquer lugar do mundo. Mas tão difíceis de serem alcançados por falta de mão de obra: não há, em nenhum lugar do mundo, gente suficiente para dar conta de tamanha ambição. 

Heloísa Helena fundou o PSOL, partido de esquerda que se pretendia melhor do que o PT. Foi gradativamente marginalizada do partido que fundou. Foi uma grande personalidade em 2006, por ocasião da reeleição de Lula. Suas ideias e seus discursos forma notícias nacionais enquanto foram úteis para evitar um segundo turno. Passadas as eleições de 2006 a mesma mídia que a reverenciou, jogou-a no limbo do esquecimento. Heloísa Helena não errou por dizer o que acreditava. Errou por acreditar que o que dizia tocou aqueles que conduzem as opiniões de tantas ovelhas... Hoje é vereadora pelo Psol de Maceió, sem a grande expressão nacional que desfrutou até 2006. Outubro, para ser mair preciso...

Marina Silva foi a liderança política que ajudou a fundar o PT no Acre, onde surgiram importantes lideranças nacionais com respeito nacional. Desligou-se do PT após ter passado pelo ministério do meio ambiente. Ingressou no PV com uma proposta relativamente nova. Acreditava, sinceramente, na compatibilidade entre o discurso social e o apelo ambiental. Acabou por se aproximar demais de oportunistas religiosos. Foi a terceira mais votada em 2010, atrás de Dilma Roussef e José Serra. Poderia ter se destacado naquele ano ao apoiar um ou outro. Se fosse Serra, não teria nada a perder em caso de derrota. Pois poderia dizer que sua parte fora feita. No caso de Dilma, teria a chance de escolher entre a participação no governo ou uma oposição crítica e com a legitimidade de atacar a pessoa que apoiou. Tanto não apoiou Serra quanto Dilma. Hoje poucos se lembram de Marina Silva quando discutem a política nacional. Marina quis fazer diferença sem se comprometer com Serra ou Dilma. Foi engolida pela história. A eleição de 2010 passou, Dilma venceu, Serra perdeu e Marina Silva foi esquecida. Hoje em dia ninguém mais se lembra dela quando discute as eleições de 2014.

A vida é assim. Ou aproveitamos as oportunidades quando surgem ou lamentamos pelo resto de nossos dias. Aquele gesto, aquele sorriso, ou aquela ofensa que poderiam ter mudado nossas histórias se tornam lembranças do que poderiam ter sido, não o que realmente são: esboços da vontade que não se concretizou.


Talvez algum aprendizado possamos tirar das histórias de Heloísa Helena e Marina Silva:

- Jamais acredite na mídia. Saiba que aqueles que o reverenciam hoje não o fazem por seus talentos. Antes, aproveitam suas ideias, seu discurso e sua história para atacar aqueles que ameaçam os candidatos que preferem, há tempos.

- Saiba diferenciar entre apoio sincero e oportunismo eleitoreiro. Gente que nunca o procurou antes de sua chegada à fama, dificilmente terá o que contribuir para a manutenção dela.

- Quando veja, Folha, Estadão e Globo o tratarem com alguma reverência, desconfie. Isso é feito menos pelo que você é e muito mais pelo que você pode significar em termos de importância eleitoral - para outros quem não você...

- A honestidade e a ética são valores. Não são mais do que a direção em que todas as pessoas que se dizem do bem deveriam seguir. Na vida prática, em especial política, funcionam mais como plataformas de campanha do que realmente como bandeira política-partidária. O mesmo cara que admira a sua honestidade vota no candidato que mais desonesto se apresenta. 

- Flashes de TV são sedutores, mas não passam disso. Piscam e apagam, assim como a sua importância numa mídia podre, partidária e imoral.

- O sistema político-eleitoral no Brasil é nojento. Mas é a única forma real de se chegar ao Poder pela via institucional. 

- Não existe "meia-ética". Ou se é ético, ou não é. 




3 comments:

Tiago S. Rodrigues said...

Boa noite Palpiteiro,

Tava pensando, elas erraram ao meu ver da forma como se posicionaram... Elas sairam de um partido que lhes davam uma maior vitrine e isso com tempo tirou a exposição delas na midia.
Tinham que aproveitar para fazeer pressão sobre o que pensam dentro do partido e não radicalizar, se unir dentro do proprio partido para criar um grupo forte e promover suas ideias.
Agora tambem penso que isso é culpa do multipartidarismo tambem, nao penso que o PT ou o PSDB em si sejam maus partidos, mas os envolta deles sim, são oportunistas e trocam apoio por cargos e favores e não por ideologia, exemplo são as reformas propostas e feitas que nunca são exatamente como deveriam ser pois tem muitos interesses que tem que ser respeitados por troca de apoio.
Elas estavam no partido da moda chegando no Poder e deveriam se unir dentro dele e não fora...

Sérgio de Moraes Paulo said...

Tiago,

o maior problema entre Marina e Heloisa Helena - no meu entender- foi a sobreposição do individual no coletivo. Não quiseram brigar dentro do partido que ajudaram a construir. Apostaram muito nos próprios carismas e quebraram a cara. O caso de Heloisa Helena é ainda mais estarrecedor: está saindo do partido que fundou. Considerando que ela também fundou o PT, não deixa de ser curiosa a sua trajetória: aproxima-se de pessoas que, anos mais tarde, descobre que são inadequadas para suas ambições...

Ninguém vai convencer o palpiteiro de que Heloisa Helena descobriu o Mensalão pela imprensa, como nós, mortais. Ela já sabia de tudo há anos. Conviveu com a ilegalidade enquanto viu que tinha chances de maiores voos. Ao perceber que não tinha chances maiores no PT, caiu fora, atacando a tudo e a todos...

Esse é o ponto que me fez terminar o palpite com o "não existe meia ética"...

Abs

Sérgio de Moraes Paulo said...

Tiago,

o maior problema entre Marina e Heloisa Helena - no meu entender- foi a sobreposição do individual no coletivo. Não quiseram brigar dentro do partido que ajudaram a construir. Apostaram muito nos próprios carismas e quebraram a cara. O caso de Heloisa Helena é ainda mais estarrecedor: está saindo do partido que fundou. Considerando que ela também fundou o PT, não deixa de ser curiosa a sua trajetória: aproxima-se de pessoas que, anos mais tarde, descobre que são inadequadas para suas ambições...

Ninguém vai convencer o palpiteiro de que Heloisa Helena descobriu o Mensalão pela imprensa, como nós, mortais. Ela já sabia de tudo há anos. Conviveu com a ilegalidade enquanto viu que tinha chances de maiores voos. Ao perceber que não tinha chances maiores no PT, caiu fora, atacando a tudo e a todos...

Esse é o ponto que me fez terminar o palpite com o "não existe meia ética"...

Abs