Tuesday, August 05, 2008

Um nome para rua

Uma pessoa que quisesse conhecer algo da história de uma sociedade poderia começar prestando a atenção nos nomes dados a alguns lugares ou monumentos. São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Trindade são daqueles nomes que logo revelam a presença católica no Brasil. Saber por exemplo que em vários lugares do país existem grandes avenidas com o nome de Getúlio Vargas também nos dá uma idéia da importância que o homem teve por aqui. De outro modo, ver que em São Paulo não se dá destaque a esse presidente, mas que ostenta com destaque a Família Mesquita e uma avenida 9 de Julho, também ensina o quanto Vargas foi negado nesse estado.
A Praça de Maio na Argentina é a grande referência à independância da nação, assim como também NY homenageou Roosevelt, batizando o aeroporto com o seu nome. Nomes de pessoas, datas históricas, nomes de batalhas são escolhidos para que as gerações seguintes saibam da diferença que alguns eventos ou personalidades tiveram na sua história.
Assim, fica fácil de entender que temos em SP homenagens a generais como Castelo Branco, Costa e Silva e até uma ruazinha com o nome do torturador Sérgio Fleury, deixando claro o destaque que essas personalidades tiveram. Saber que a queda da ditadura não removeu seus nomes, é entender que a lembrança de suas existências e "ações" não incomodam a sociedade paulista hoje em dia. Também é sintomático lembrar que não possuímos muita coisa sobre Luís Carlos Prestes, Paulo Freire e Carlos Marighela na cidade, afinal, foram os inimigos do regime e não mereceram homenagens daqueles que reprimiam. Os nomes dos lugares revelam a história tanto quando destacam como quando desprezam algumas personalidades ou fatos.
Ter um aeroporto com o nome do Governador Franco Montoro é reconhecer a importância que aquele da ditadura teve na redemocratização. Saber que Luíza Erundina escolheu o nome "Direitos Humanos" para avenida na zona norte de SP é admitir que não apenas os perseguidores mereceram destaque. Por outro lado, lembrarmos que um viaduto tem o nome de "Luís Eduardo Magalhães" é lembrar que aliados da ditadura que prosseguiram na vida política com a redemocratização conseguiram de algum modo manter a visibilidade do passado. Mudança de palco e de enredo com velhos atores...
Mas algo de estranho vem ocorrendo com os nomes dos lugares, ou logradouros, como preferem a Prefeitura e o Estado de SP. De uns tempos para cá têm surgido nomes de jornalistas. João Saad da Bandeirantes no Ibirapuera. Júlio de Mesquita Neto, do Estadão, na Marginal Tietê. Roberto Marinho na Marginal Pinheiros. Otávio Frias numa ponte horrorosa no Morumbi. Algo tem motivado a troca de militares e políticos por donos de empresas de notícias.
Alguém mais ingênuo ou estúpido poderia dizer que empresas de notícias apenas relatam fatos e que não influenciam no nosso dia-a-dia. Mas quando esquecemos médicos, professores, bombeiros, policiais, operários e passamos e destacar donos de jornais, emissoras de rádio e de televisão, é sinal de que alguns valores estão mudando. Parece que ao contrário de relatar fatos, jornalistas e patrões das notícias passaram a interferir com mais intensidade a política no Brasil.
Em época de eleições municipais, muitos se lembram que alguns vereadores apenas se dedicam a a votarem nomes de ruas e praças. Isso até parece coisa pequena. Mas esmiuçando bem a escolha de alguns nomes, veremos que até o que aparenta inutilidade tem sua razão de ser.

6 comments:

Alex Balint said...

pois é, essa rua com o nome do Torturado fica lá na Vila Leopoldina.

Consultas rápidas de nome também podem ser feitas em http://www.dicionarioderuas.com.br/consulta.html

Anonymous said...

essa foi boa morais
vc eh o cara

Anonymous said...

essa foi boa morais
vc eh o cara

Igor Guedes said...

Saudade da sua aula moraes... concordo com vc... interagir com a cidade é um jeito de aprender muita coisa... é so saber olhar... e aproveitando as lições do passado vamos tentar votar um fututo menos alienado e egoista... abraço!

Anonymous said...

aee professor o que o senhor diz da quarta frota americana no oceano atlantico e pacifico?
e tambem sobre as vitorias do governo boliviano?
e sobre a guerra na georgia e os rastros da antiga urss?
hein hien hein?
yeda crusis?
vai professor posta mais coisas muitos mais coisas

Anonymous said...

Concordo quando diz que nos nomes de ruas prestigiam-se mais políticos e donos de jornais do que quem realmente mereceria essa, por mais que singela, homenagem. Realmente o país é carente de heróis, e na ânsia de arranjar um, escolhemos os piores. Mas temos as homenagens devidas, como é o caso de uma paça perto de casa, que tem o nome de Florestan Fernandes, outra rua aqui perto chamada Gregório de Matos, fora as ruas e praças referentes à República (tá certo que não são os mais belos lugares de São Paulo, mas existem).

Enfim.. acho que as pessoas que merecem, tem suas homenagens feitas de uma outra maneira. Seja nas suas aulas de Geopolítica, nas de história, seja em livros ou bate-bocas com algúm conteúdo, é bem sabido quem foi 'vilão' e quem foi 'mocinho'.

Mas isso é só um palpite.

André Belote.