Sunday, February 12, 2012

A Guerra das Malvinas, de novo

No próximo mês de abril teremos 30 anos da Guerra das Malvinas, a guerra das conveniências de políticas internas.

Em 1982 a ditadura argentina estava acuada, com uma população impaciente com abusos de direitos humanos. Ela então resolveu agir. Tropas argentinas ocuparam as Ilhas Malvinas, tomadas pelos ingleses no século XIX, e por eles rebatizadas de Ilhas Falklands. 


A atitude argentina foi tão oportunista quanto estúpida. Quis desviar a atenção da sua população para uma encrenca externa. Mas fez isso sem a menor condição militar para enfrentar o Reino Unido. 


O Reino Unido também teve sua dose de oportunismo. Poderia ter optado por outros caminhos, sem o conflito militar. Mas o país estava em recessão econômica, com elevado desemprego e uma população também impaciente com seu governo. Uma guerra contra um país militarmente mais fraco e sem razão foi a opção dos ingleses. Hoje em dia tem até filminho que exalta Margareth Tatcher, a primeira-ministra que embarcou na guerra contra os argentinos. 

O Reino Unido venceu a guerra, a Argentina foi humilhada. Margareth Tatcher teve sua popularidade em alta. E a ditadura argentina caiu de pobre, pois sua popularidade já não era boa antes da tal guerra...


Às vésperas dos 30 anos da Guerra das Malvinas a argentina tem um governo que tenta de novo aumentar a sua popularidade com o assunto. Cristina Kirshner não governa uma ditadura. Mas tem enfrentado o grupo El Clarín, a Globo de lá. Ao mesmo tempo, ainda não tem respostas satisfatórias para o medo de desindustrialização e desnacionalização que pode ocorrer no país com a força de empresas brasileiras que atuam em seu país. Mídia, sindicatos e empresários a pressionam nesse momento. Por que não uma encrenca internacional?


Do outro lado as coisas também não estão muito boas. O desemprego no Reino Unido é imenso, e o país ainda sente os efeitos da crise financeira de 2008. No horizonte mais sombrio de Londres, uma quebra do Euro e de muitas empresas na Europa afetaria muitos bancos ingleses, credores de muitos países europeus. Na impossibilidade de dar uma reposta que acalme a todos no Reino Unido, uma ameaça de guerra contra a Argentina não é necessariamente uma notícia ruim para o governo inglês. 


E esse teatro avança. Certamente nenhum dos lados quer uma guerra de verdade. Mas encenam tanto que o risco é a brincadeira ficar séria. Um navio militar aqui, um bloqueio naval acolá... Uma convocação de um embaixador hoje, uma expulsão de diplomatas amanhã... Assim dançam Argentina e Reino Unido. Dançam? Não, tocam. Mais uma vez quem corre o risco de dançar serão soldados, dos dois lados. Em especial aqueles do lado mais fraco. E alguém tem dúvidas de quem está do lado mais fraco?


4 comments:

Karina said...

Prezado profesor,

Permita-me discordar de seu texto. O governo argentino não pretende popularidade fácil com essa questão. Simplesmente, a Argentina está passando por um processo de amadurecimento de sua democracia, e certas questões das que antes não se podia falar sob o crivo do Estado Democrático de Direito agora estão vindo à tona.
O episódio das Malvinas gerou muita dor, vergonha, desespero, e os ex-combatentes passaram a ser ocultados pelos governos de Alfonsín, Menem, De la Rua e Duhalde. Sofreram todo tipo de males, muitos se suicidaram. Somente a partir do governo de Kirchner eles adquiriram mais visibilidade.
A ferida ainda está aberta, e o desafio, como disse a própria Cristina Kirchner, é tratar dessa questão com diplomacia, procurando o diálogo, sem se deixar levar pelo belicismo infantil da Inglaterra. É refletir sobre a questão sem chauvinismo.
Outra coisa, a questão é muito mais do que atual num momento em que os países da América do Sul estão buscando união para garantir o desenvolvimento e a paz. A presença colonialista, a de predação dos recursos naturais das Malvinas, as incursões na costa sul-americana, tudo isso é uma ameaça a todos os países da região. A decisão política de todo o continente é defender-nos mutuamente contra as agressões e invasões externas, cujas ameaças hão de se proliferar neste século XXI, onde os recursos naturais serão fundamentais (e os temos de sobra).
A questão Malvinas é uma decisão política muito bem fundada. Tanto que, no último discurso de Cristina Kirchner, estavam presentes os principais líderes da oposição no país, os quais deram seu apoio ao que foi qualificado como uma política de Estado.

Laercio said...

Professor! Sempre acompanhei seu blog e sou um fã de carteirinha do seu trabalho! Tive uma aula sua em 2007 sobre America do Sul. Vc já havia comentado sobre a questão das Malvinas e a ditadura que assolava a Argentina na epoca. Tenho saudades das suas aulas fenomenais! Um grande abraço!

Sérgio de Moraes Paulo said...

Karina,

não só permito com honro ter discordância por aqui...rs...

Não tenho acompanhado essa questão por dentro. Sei que para os argentinos essa questão transcende a relação governo X oposição. Eles querem as ilhas e ponto.


Mas chama-me a atenção a forma, não o conteúdo. O belicismo inglês está dentro do que entendo ser um bom negócio para o lado de lá do Atlântico. Pelo de cá, vou acompanhando. Pensarei no que você disse, mas com muitas pulgas atrás da orelha...

Vixuz said...

Ai sim fomos surpreendidos.

http://www.youtube.com/watch?v=zpTChGDVHW8&feature=youtu.be&a