Monday, January 23, 2012

Esqueça as coisas ruins. Os poderosos agradecem

No dia 12 de janeiro de 2007 houve um acidente na obra de linha 4 do Metrô de SP, no que hoje é a estação Pinheiros. Na época seguiu-se o padrão da calhordice: a empresa e o governo do Estado culparam o excesso de chuvas. O consórcio que tocava a obra alegou não terem vítimas fatais. Mais tarde foram anunciadas as mortes de 7 pessoas. 

Um laudo pericial apontou o óbvio: o Consórcio responsável pela construção da Linha 4 economizou onde não devia; tocou o troço com altos riscos de acidentes; e a Companhia do Metrô de SP - com as bênçãos do governo estadual - fingiu que era exagero pensar o contrário. 

Sete pessoas morreram. 


Quem passar pelo que hoje foi uma cratera que engoliu uma Van, e que matou 7 pessoas, verá uma obra moderna. Uma estação de arquitetura bonita. Muitos vidros deixam a luz natural entrar e se vê a nítida preocupação ambiental e econômica, pois menos lâmpadas artificiais são necessárias para iluminar a passagem das milhares de pessoas que passam por lá todos os dias. 


Não há nada visível que lembre a morte de 7 pessoas naquele lugar. Se tiver, alguém que diga, e esse palpiteiro se redimirá. Mas causa estranheza  ver que nada faça referência às vidas perdidas pela busca pelo lucro e pela negligência das autoridades que deveriam ter fiscalizado uma obra com aquela complexidade. 


São Paulo é uma cidade que esquece suas tragédias. Ou que tenta fingir que elas nunca ocorreram. São no máximo imagens antigas que passam de quando em vez em reportagens especiais da TV. 


O Carandiru não tem grande destaque em nenhum memorial no local onde a PM massacrou 111 presos pelados e rendidos. Há quadras esportivas no local hoje em dia. 


O Edifício Joelma, incendiado em 1971, ainda esta de pé e em pleno uso. Certamente muito mais seguro. Mas é hoje chamado de "Edifício Praça da Bandeira". As almas de 187 pessoas mortas não são lembradas.  


Outro caso curioso é da PM de SP, que tem tido uma conduta estranha para um Estado de Direito. Uso desmedido da força e uma aparente insubordinação em relação às autoridades civis. Mas os abusos são esquecidos. Por querer ou não.


Um dia a civilidade tomará lugar do Estado de barbárie que muitos aplaudem hoje, em janeiro de 2012. Teremos então a serenidade para reconhecer que cometemos muitos erros, dentre os quais, fechar os olhos para o que de ruim aconteceu. Seja a atitude bovina de autoridades que não punem   os que provocam a morte de outrem, seja pela incapacidade do Estado de SP ter uma política de segurança pública digna do mundo pós-Segunda Guerra Mundial. 

Talvez percebamos o quanto erramos por nos omitir  diante de esquecimento deliberado. 


Haverá um dia em que finalmente aprenderemos que prender grandes traficantes é mais difícil e eficaz do que prender zumbis na Cracolândia. Que favelas em SP foram incendiadas por muitos anos e com uma frequência nunca vista em outras grandes cidades brasileiras. Que atropelar a justiça Federal e remover gente pobre em evidente ação de abuso da força em São José dos Campos é algo inaceitável para quem tem sentimentos humanitários.


Quem sabe não mudamos e não teremos memoriais, praças, monumentos e outros objetos visíveis na cidade e no Estado em que a perda da memória coletiva foi por muito tempo um bom negócio?   

1 comment:

Anonymous said...

Como diria o professor Vladimir Safatle, da Usp, "o governador de São Paulo parece ser um daqueles que rezam pelas virtudes curativas do porrete da polícia (...) mesmo que a eficácia de tais ações muitas vezes seja próxima de zero. "

E também citou que " uma considerável parcela da população paulista tem um certo 'fetiche' pela PM achando que ações sociais,de educação ou de saúde pública serão resolvidas pela esfera de segurança pública"