Friday, February 11, 2011

E agora, como fica o Egito sem Mubarak?

O palpiteiro não acompanhou os acontecimentos no Egito como gostaria, mas leu, ouviu e ouviu o suficiente para dar um palpite. Evidente que é hora de um parecer, pois se tivesse mais embasamento, palpite não seria...

Pelo que se mostrou das manifestações por fotos e imagens podemos tirar algumas conclusões. A primeira é que a oposição foi nacional, popular e intensa. Embora se credite aos mais jovens a euforia e toda a energia para os protestos, não se pode descartar a participação de membros da classe média e de pessoas mais velhas e cansadas do governo Mubarak. O presidente egípcio conseguiu o que poucos governantes tiveram: uma ampla, geral e irrestrita oposição. Ele foi quase uma unanimidade.

Pelo que se viu no noticiário, os apoiadores de Mubarak variavam pouco. Eram em sua maioria funcionários públicos beneficiados pelo regime ou policiais que sabiam os riscos de mudanças democráticas. Quando uma ditadura cai aqueles que prendem, matam, torturam e se corrompem com o regime são os que mais temem um governos realmente justos, democráticos e firmes. A razão não é outra senão o temor da perda de privilégios e eventuais punições por abusos do passado.


Mas o que vimos na TV ou pelo computador não traduz exatamente o que ocorreu por lá. Se as imagens mostram uma massa unida e indignada nas ruas, é razoável acreditar que também havia divisões entre os principais líderes da oposição. É assim em qualquer lugar do mundo. As pessoas nunca pensam igual.


O exército foi sem dúvida o fiel da balança. Quem prestar um pouquinho mais de atenção nas imagens, verá carros de combate, blindados e soldados quase assistindo os protestos. O palpiteiro chegou a ver algumas fotos com pichações em tanques de guerra com soldados sorridentes. Ao longo desse período de manifestações o exército não se empolgou o suficiente para derrubar Mubarak num golpe de Estado clássico. Preferiu simplesmente nada fazer. Deu segurança mínima ao governo acuado e simpatia ampla aos manifestantes que se opunham. Talvez saia do exército alguns dos nomes que inevitavelmente aparecem como heróis nos livros de história. Não daqueles heróis com estátua e nomes de ruas. Mas daqueles que alcançam o reconhecimento e a gratidão de um povo que não foi massacrado pelas suas próprias forças armadas.


Tudo isso é muito bonito e chega a ser quase poético. Mas a realpolitik pressupõe negociações, pressões e recuos.


Os opositores mais exaltados pregarão uma revolução. O Irã para alguns seria um modelo, mas é muito difícil acreditar nisso num país que tem outra cultura e uma história muito diferente dos persas. Lideranças religiosas tentarão se cacifar para um novo Estado, talvez de modelo teocrático. Porém sabe-se que o exército que até agora jogou do lado da oposição pode muito mudar de lado e conter os mais afoitos. Conflitos não podem ser descartados, entre as forças armadas e os mais empolgados com os ventos da mudança. Se eles ocorrerão, dependerá da capacidade dos religiosos continuarem a organizar seus seguidores e terem disposição para continuar a lutarem. Talvez até com violência. É possível que isso aconteça, mas é também verdade que embora poético, um processo como esse cansa. Naturalmente haverá no Egito quem prefira voltar à normalidade e acompanhar uma transição mais pacífica.


Por dentro se confrontarão os mais nacionalistas, críticos das relações amigáveis com Israel e os mais moderados, favoráveis à manutenção da atual política externa bancada pelos EUA -$$$$.


Novamente surge o exército como fiel da balança e, nesse caso, o mais óbvio é acreditar que apoiará mudanças que tragam um pouco de democracia ao país, mas que não necessariamente o torne inimigo de Israel e órfão da ajuda -$$$$- dos EUA.


Parece mesmo óbvio acreditar que no fim de tudo a mudança ocorreria nos moldes brasileiros, nos quais velhos dirigentes continuam com algum Poder e que o povo passa se contentar com migalhas de participação política.

Mas quem acreditar no óbvio correrá o sério risco de quebrar a cara, pois o que ocorreu nos últimos 18 dias pode ser chamado de qualquer coisa, menos de óbvio.


Seja lá qual for o desfecho, é gratificante ver a alegria do povo egípcio e o alívio de ver Mubarak fora do Poder. É agradável saber também que estamos diante daquelas mudanças históricas, daquelas que irão para os livros escolares e retrospectivas da década.


O Egito mudou, afinal. Se para melhor ou pior só a história dirá.


Em homenagem aos Egípcios fica aqui o link da Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal. Teve participação do povo e de jovens capitães de um exército cansado de uma ditadura para lá de velha. Portugal ficou melhor. Que o mesmo ocorra com o Egito.




4 comments:

Edmar Ávila said...

Chamaram no Jornal da Globo um professor de Geo. da PUC para comentar o assunto. Qdo ele falou que a Irmandade Muçulmana não é aquele demônio que se pinta, que o movimento tem mais força nas bases sindicais que na classe média, o W. Waak já cortou o cara e perguntou algo sobre a reação dos EUA. Depois chamou o Jabor, que já iniciou a crônica tirando o caráter popular do movimento. rsrs Esse PIG!!

Anonymous said...

Moraes, qual a sua definição de poder?

Sérgio de Moraes Paulo said...

Bobbio: poder é a capacidade de uma pessoa ou um grupo de pessoas fazer com uma pessoa ou um grupo de pessoas ajam de acordo com a sua vontade. O resto é conversa...

Sérgio de Moraes Paulo said...

Eddy,


gostaria tanto que a casa caísse de verdade...rs...