O Ricardo pediu um palpite sobre energia nuclear e como o assunto é de grande interesse do palpiteiro, aí vai.
A energia nuclear é cercada de mitos, medos, preconceitos e exageros. Mitos porque para muitos parece a panaceia que resolverá todo o problema de escassez de energia, dado seu grande potencial de uso. Medos, devido aos riscos que acidentes ou atentados podem provocar no caso da explosão de uma usina nuclear. Chernobyl ainda serve como um grande motivo para esse medo. Preconceitos, pois para muita gente é certo que usinas foram feitas para explodirem, assim como tudo o que se relaciona à energia nuclear leva à idéia de morte e tristeza. Exageros, pois é comum a amplificação de todos os sentimentos acima descritos...
O palpiteiro já foi um grande crítico dessa fonte de energia. Principalmente quando tinha 15 anos e ainda via a possibilidade real de uma guerra nuclear entre os EUA e a então URSS. As preocupações que levavam o palpiteiro a se opor ainda existem, mas foram ponderadas com um pouco de conhecimento sobre o assunto.
É verdade que a energia nuclear envolve riscos, problemas com a deposição do lixo atômico e as tentações para o uso maligno das bombas nucleares. Mas também é verdade que a energia gerada por elas podem alimentar hospitais e escolas que salvam vidas e levam conhecimento.
O Brasil teve uma aventura nuclear que custou muito caro. Por medo de físicos "comunistas", o regime militar preferiu torrar dinheiro com a compra de tecnologia dos EUA e da Alemanha. Quando descobriu que esses países queriam era mesmo ganhar dinheiro e não repassar tecnologia de verdade, a física e a engenharia brasileira foram chamadas.
Temos uma situação inusitada. Duas usinas com tecnologias diferentes, Angra I, dos EUA e, Angra II, da Alemanha. E temos um dos processos mais originais de enriquecimento de urânio, desenvolvido por aqui, depois de muito dinheiro público ter ido pelo ralo.
O medo da bomba não se justifica mais no Brasil. Apenas gente mal informada acreditava no débil mental do Enéas, que defendia a produção de bombas atômicas. Nossa Constituição proíbe a produção dessas armas e defende o restrito uso para fins pacíficos. Qualquer presidente teria que ter dois terços dos votos do senado e da câmara para aprovar algo que não parece ser do interesse da maioria dos brasileiros. E fazer a bomba para jogar em quem? E como?
Pelo lado do fornecimento de energia elétrica, a verdade é que o país tem crescido economicamente e aumentado seus índices de urbanização. São milhões de pessoas que adquirem a primeira geladeira ou uma segunda televisão, todos os anos. É normal o consumo aumentar até mais do que o crescimento da economia pode sugerir.
Recentemente o governo anunciou a retomada de Angra III. Decisão delicada. Terminá-la significa aumentar os riscos de acidentes na região e também os problemas com a deposição do lixo nuclear. Não terminá-la significa desperdiçar milhões de dólares com a manutenção de um equipamento caro e que não pode ser vendido. Um país com tantos problemas sociais não tem o direito de jogar tanto dinheiro fora.
O palpiteiro conhece uma pessoa que foi salva com o uso da radioterapia num tratamento contra tumor. A pessoa está ótima hoje. Ela voltou a sorrir, assim como seus familiares e amigos. Mas o palpiteiro também sabe que o Brasil possui muitas formas de obter energia que não seja apenas com o uso de usinas nucleares.
Resumindo, o palpiteiro concorda com a conclusão de Angra III e com investimentos em pesquisas na área, pois entende que o Brasil não deve ficar à margem de um conhecimento tão importante para a humanidade. Não fazer isso é depender eternamente dos outros nesse setor.
Por outro lado, o palpiteiro entende que 3 usinas nucleares já estão de ótimo tamanho. Vamos utilizá-las e zelar para que não causem problemas a ninguém. E que elas possam contribuir para a formação de técnicos, cientistas e gestores que nos ajudem a buscar fontes realmente limpas, seguras e viáveis. Enquanto não chegamos lá, vamos ter que usar mesmo o que temos. Ou o que podemos ter a médio prazo.